Quem passou pelo cruzamento entre a Avenida Ipiranga e a Rua 18 de setembro, em Porto Alegre, ao longo da última semana, pode ter ouvido os versos do Parabéns Crioulo ecoarem alto pelas imediações das vias. A música, uma adaptação gaudéria do clássico Parabéns pra Você, foi entoada durante os últimos sete dias por ali, em festejos realizados para celebrar um marco histórico: o tradicionalismo está completando 75 anos. Do signo de touro, o movimento cultural, social e identitário do Rio Grande do Sul nasceu em 24 de abril de 1948, junto à criação do primeiro Centro de Tradições Gaúchas do mundo, o 35 CTG, localizado justamente na célebre esquina do bairro Jardim Botânico. A festa pela efeméride segue na noite deste sábado (29), com grande baile.
Associar o nascimento do tradicionalismo à fundação do 35 não é nenhum exagero. Batizado com o nome alusivo ao ano em que eclodiu a Guerra dos Farrapos, 1835, o pioneiro dos CTGs foi desde o início muito mais do que somente um espaço para matear, tomar um trago, comer carne ou bailar de cola atada. Ali, entre mates, tragos, churrascos e também bailantas, foram compilados os valores, os costumes, as músicas, as danças e os ritos que formam o que depois se entendeu por tradicionalismo gaúcho. E não há divergências: trata-se de um vanguardismo reconhecido pelo próprio Movimento Tradicionalista Gaúcho, o MTG, entidade que é hoje a instância máxima para assuntos de gauchismo.
— O 35 CTG é a pedra fundamental do Movimento Tradicionalista Gaúcho — reconhece Manoelito Savaris, atual presidente do MTG. — Não é mais um CTG, é o CTG. O 35 tem uma importância histórica e simbólica fantástica, que só ele tem. Por isso que ele é "o pioneiro", por isso que nós o chamamos assim e o respeitamos desta forma.
A origem
O CTG carrega no lombo um mérito tão grande que é difícil acreditar que tenha sido idealizado por oito guris recém-saídos do colégio, mas assim foi. Aliás, os primeiros passos para a criação do que um ano depois viria a se concretizar como o 35 foram dados ainda em 1947, enquanto o grupo frequentava o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho. Foi lá que Cyro Dutra Ferreira, Antonio João Sá de Siqueira, Orlando Degrazia, Fernando Machado Vieira, Ciro Dias Costa, Cilço Araújo Campos, João Machado Vieira e João Carlos Paixão Côrtes — o folclorista que décadas mais tarde viria a inspirar a estátua do Laçador — começaram a realizar ações com o intuito de resgatar os costumes campeiros.
A primeira ocorreu quando os oito, com cavalos e arreios emprestados, cortejaram em cavalgada a urna que trazia os restos mortais do general farroupilha David Canabarro. Dali em diante o grupo não se apartou mais e ficou conhecido pela alcunha de "grupo dos oito". Criaram juntos a Ronda Crioula, evento que deu origem à Semana Farroupilha, e o Departamento de Tradições Gaúchas do Julinho. A entidade rapidamente atraiu novos membros, entre eles o icônico folclorista Luiz Carlos Barbosa Lessa.
Foi Barbosa Lessa que saiu com um caderninho a colher assinaturas de possíveis interessados em participar de um "clube tradicionalista" que extrapolasse os limites do colégio — o "clube" que, quando da sua fundação efetiva, ganharia então o nome de 35 Centro de Tradições Gaúchas. No topo da página do caderno se lia a frase: "Aqui trazemos um convite aos gaúchos que, embora residindo na Capital e tendo hábitos citadinos, guardam ainda nas veias o sangue forte da terra rio-grandense".
O texto revela como se sentia aquele grupo de guris que viviam na Porto Alegre da virada dos anos 1940 para os 1950: deslocados. Vindos do Interior, Barbosa Lessa, Paixão Côrtes e os demais encontraram na Capital uma realidade completamente distinta da que conheciam — e não só pela estrutura urbana daquela Porto Alegre que começava a se modernizar no período, impulsionada pelo processo de industrialização que marcou o país durante a Era Vargas. Os costumes, os valores, os hábitos e o estilo de vida eram outros. E era outro, sobretudo, o entendimento da juventude a respeito de qual tipo de referência cultural deveria ser valorizada e qual não haveria problema em se largar ao esquecimento.
No primeiro grupo entrava a influência norte-americana e, no último, a cultura gaúcha. Era algo que incomodava o jovem Paixão Côrtes, conforme o filho dele, Carlos Paixão.
— Era um contexto de american way of life contra a vivência do campo. Naquele momento, estar associado aos Estados Unidos era estar associado à modernidade, ao progresso, ao passo em que o gaúcho era associado ao atraso, ao cara do lampião de querosene, ao cara sem condição. Os jovens, é claro, não se identificavam com isso. E o pai, que tinha uma vivência rural, sentia esse conflito ao encontrar aqui valores que não eram os dele — diz o filho de Paixão Côrtes.
Tal sentimento não era exclusividade de Paixão e sua turma. Isso porque a industrialização e modernização pela qual passava Porto Alegre em meados de 1940 impulsionou um processo intenso de êxodo rural, com diferentes camadas da população do interior do Rio Grande do Sul mudando de mala e cuia para a Capital. Chegavam desde os mais humildes trabalhadores do campo, vindos para ocupar vagas nas incipientes fábricas da cidade, até filhos da elite estancieira que vinham estudar em instituições de ensino que começavam a ganhar renome no Estado — entre elas o Colégio Júlio de Castilhos.
Ainda que pertencentes a diferentes estratos sociais, em comum, todos tinham o mesmo sentimento de inadequação. É o que explica o pesquisador Jocelito Zalla, doutor em História Social pela UFRJ, professor do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS e autor do livro O Centauro e a Pena: Luiz Carlos Barbosa Lessa e a invenção das tradições gaúchas.
— Porto Alegre começou a se modernizar olhando para fora. Então, ao mesmo tempo em que havia uma forte presença de pessoas do Interior, a cidade tinha uma aura cosmopolita. Isso ocasionou um conflito de identidade, pois grande parte da população que vivia nessa cidade que almejava ser moderna, vinha de uma lógica do campo, com memórias, rituais e tradições rurais. Era essa sensação de perda de bases que estava na cabeça dos jovens que fundaram o 35 e de tantas outras pessoas naquela época.
Somado a isso, ainda havia o fato de o país vir de um momento conturbado em relação às identidades nacional e regional. O nacionalismo ufanista pregado até 1945 por Getúlio Vargas, que defendia uma "unificação" do país, na prática acabava por oprimir as manifestações culturais regionais. Tudo o que insinuasse algum tipo de separação identitária era proibido, até um inocente mate. Foi o que lembrou Paixão Côrtes em entrevista concedida a GZH em 2012:
— Com chimarrão, não se chegava nem à janela de casa. Nem à porta. Estávamos saindo da ditadura (do Estado Novo, de 1937 a 1945). Era determinação. E cumpra-se, senão, é cadeia. Essa é a filosofia de uma ditadura: falta de direito da pessoa e de respeito a suas ideias. Não existia bandeira, não se podia cantar hino (dos Estados). Nem vestir. Não se podia usar bota, bombacha, lenço, guaiaca. A pessoa era presa.
Entre divergências e concessões, nasce o CTG
Foi a comunhão desses fatores que fez ter sucesso as investidas de Barbosa Lessa na busca por pessoas que quisessem participar da entidade que ele e os amigos planejavam criar. Tanta gente se interessou pela ideia que o quarto de Paixão Côrtes, onde ocorreram as primeiras reuniões de planejamento, acabou ficando pequeno. Em meio a mudanças para locais capazes de abrigar o quórum crescente dos primeiros tradicionalistas do Estado, o grupo atraiu também o interesse de pessoas ligadas à maçonaria e instituições militares da Capital.
Dessa mistura de públicos surgiu uma divergência que acabaria por definir os rumos não só do 35, mas também do tradicionalismo que nascia junto dele, conforme ressalta Jocelito Zalla.
— O grupo de influência militar queria que o CTG fosse uma sociedade fechada, que se propusesse a celebrar os feitos da elite militar do Estado. Já o grupo do Julinho almejava uma sociedade aberta, que servisse justamente para agregar pessoas e celebrar o folclore e a cultura popular. A intenção era exaltar a figura do gaúcho comum, do campeiro, do peão de estância, não dos farroupilhas — explica o historiador. — Eles conseguiram fundar o CTG como uma sociedade aberta, mas cederam em algumas questões, entre elas a incorporação da exaltação aos militares farroupilhas no conjunto de valores que depois se constituiu como tradicionalismo. Havia uma disputa entre a memória do gaúcho campeiro e a memória do gaúcho da elite farroupilha, e o que a gente teve foi uma conciliação das duas identidades. Podemos imaginar que, sem a participação desses militares, talvez o tradicionalismo fosse hoje menos conservador — analisa Zalla.
As discordâncias são descritas na ata da primeira reunião feita para planejar a criação do 35 CTG, em janeiro de 1948 — ou melhor, na primeira "charla da gurizada moça do Rio Grande", como consta no registro. A fundação em si veio três encontros mais tarde, em 24 de abril, quando a entidade efetivamente nasceu, com a definição de estatuto e da "patronagem" — como foi nomeada a diretoria. Paixão Côrtes, que não estava em Porto Alegre na ocasião, foi eleito o "patrão de honra" — um cargo mais simbólico do que prático, com fins de homenagem.
Conforme o filho do folclorista, os primeiros anos do 35 foram marcados por uma grande rotatividade de integrantes, que voltavam ao Interior após a conclusão dos estudos na Capital. E também foram marcados pela falta de grana: formada, em suma, por estudantes, a entidade estava sempre "contando os mirreis". O 35 funcionou durante uma década com sede improvisada em uma sala da Farsul, a Federação da Agricultura do Estado, onde vez que outra os tradicionalistas ocupavam também o terraço — não era possível assar carne entre quatro paredes, afinal.
No fim das contas, o que o 35 queria mesmo era um galpão para chamar de seu. O sonho começou a se concretizar em meados dos anos 1960, quando o patrão da época, Rodi Pedro Borghetti, vulgo Borghettão, foi pessoalmente pedir ao governador um espaço para abrigar definitivamente o CTG. Deu sorte que o chefe do executivo estadual se afeiçoou pela causa da gurizada moça do Rio Grande — em parte também porque, no meio da prosa, o governador descobriu que conhecia o pai de Borghettão, o que sem dúvidas ajudou na conquista do terreno no bairro Jardim Botânico onde a entidade permanece até hoje.
Só que daí a levantar o galpão eram outros 500. Aos 91 anos, Borghettão lembra das batalhas que travou para ver as paredes do CTG ganharem forma.
— Fiquei 10 anos envolvido com a construção da sede do 35. Foi uma luta, pois não tínhamos recurso nenhum. A gente se botou a trabalhar, fazer festa, fazer jantares, vender coisas, tudo para conseguir dinheiro. Envolvi minha mulher, envolvi meus filhos. Passávamos a semana toda em função do 35 — recorda o tradicionalista, que é pai do músico Renato Borghetti e chefiou o CTG por oito gestões.
Legado para o Rio Grande
O baile de inauguração do galpão do 35 foi grandioso, com show do conjunto Os Serranos, que começava a fazer sucesso no Estado naquele 1971. O que não faltou foi arrasta-pé. Os pares dançaram alguns dos muitos ritmos tradicionais que vinham sendo resgatados desde a fundação do CTG, em um trabalho encabeçado por Paixão Côrtes e Barbosa Lessa. Enquanto Côrtes se encarregava da pesquisa de campo, viajando às mais remotas grotas do interior do Estado para aprender danças com os idosos, Lessa cuidava da pesquisa histórica acerca dos costumes, do folclore e da cultura do povo gaúcho através dos séculos.
Era um trabalho que acabava por envolver a todos no 35. O que Paixão e Lessa descobriam em suas andanças era passado aos grupos de dança do CTG, as chamadas "invernadas". Estes, por sua vez, faziam a roda girar passando os ensinamentos a dançarinos de outras entidades — uma vez que o modelo de organização inaugurado com a fundação do 35 acabou por inspirar o nascimento de centros de tradições gaúchas por toda a parte nos anos seguintes, chegando aos números atuais: já são cerca de 1,7 mil CTGs no Estado e 1,3 mil fora do Rio Grande do Sul, incluindo outros países, conforme dados do MTG.
Quem viu de perto o processo de resgate das danças tradicionais gaúchas, um dos principais legados do 35 para a cultura do Estado, foi o músico Renato Borghetti. Muito antes de se afeiçoar pela gaita que viria a se tornar sua companheira inseparável, Borghetti dançava nas invernadas do CTG. Ele chegou a viajar com Paixão Côrtes para aprender um ritmo, que já não se lembra mais qual era, e depois ensiná-lo aos companheiros de invernada. Adorava a função.
— O 35 era o meu clube. O pai e a mãe estavam sempre lá, eu ia junto, e o meu círculo de amizades era aquele ali — lembra o músico.
E foi ali que Borghetti tocou os primeiros acordes na gaita. Foi também onde fez o seu primeiro show e onde conseguiu o primeiro emprego. A função: gaiteiro, responsável por animar a churrascaria anexa que à época pertencia ao CTG (o restaurante não é mais administrado pelo 35, que hoje em dia somente aluga o espaço). A entidade é especial para Renato Borghetti, um dos mais célebres instrumentistas que a música brasileira viu nascer, e que o 35 conhece desde que era só mais um piá correndo pelo galpão.
O gaiteiro destaca que o 35 CTG carrega também o mérito de ter sido um dos primeiros palcos de muitos artistas que, assim como ele, depois viriam a ganhar o mundo com a bandeira da música regional.
— Naquela época não se tinha muito espaço para a música regional em Porto Alegre. Ali no 35 era um dos poucos lugares onde se tinha palco, som, luz e público para a música regional. Isso muito antes do surgimento dos festivais, que fizeram Porto Alegre encher de barzinhos de música nativista. Entre outras coisas, o 35 foi pioneiro também nisso — diz Renato Borghetti.
Aos 75 anos, o que não falta ao 35 CTG são motivos para se orgulhar da própria trajetória. A contribuição da entidade para a cultura gaúcha é consenso, admitida da academia ao mais xucro dos galpões. Trata-se de uma contribuição construída por Paixão Côrtes, por Barbosa Lessa, por Rodi Pedro Borghetti e por todas as pessoas que passaram pela entidade ao longo das décadas, conforme salienta Carlos Paixão.
— Só existe uma entidade porque as pessoas se doam, sobretudo em tempo. Não há valor maior na vida do que o tempo. Essa entidade de 75 anos é um somatório do tempo das pessoas que passaram por ela, muitas delas sem nem ter seus nomes registrados na história. O pai ficou lembrado por ser um dos fundadores, mas quanta gente não passa batida? É gente que fica o baile todo na copa fritando pastel, fazendo coisas que ninguém vê, mas se doando. São essas pessoas que merecem toda a homenagem — diz o filho de Paixão Côrtes.
Quem faz o 35 hoje: uma família
São pessoas assim que, três quartos de século depois da fundação, mantêm acesa a chama do 35 CTG. Os integrantes da entidade a descrevem como uma "família", unida não por sangue, mas pelos valores e o objetivo comum de preservar o passado sem tirar os olhos do futuro. Entre a "jovem guarda" do 35 está a estudante Anna Júlia dos Santos Fraga, 18 anos, que ostenta as faixas de 1ª Prenda do CTG e da 1ª Região Tradicionalista, que congrega mais de 40 entidades.
Ela faz parte do 35 CTG desde os 14 anos e, hoje, é uma verdadeira enciclopédia da história do movimento. Discorre com desenvoltura sobre datas e nomes que marcam a trajetória da entidade e diz vivenciar no galpão os valores que não consegue encontrar fora dali. Para ela, ter a possibilidade de conviver com diferentes gerações é motivador.
— O que me faz permanecer e me faz ter amor a essa tradição é a mescla de gerações que a gente vê, onde nós temos um senhor juntamente com um mais jovem, e eles estão todos em harmonia. Normalmente nós não vemos isso em outras espaços, mas dentro de um CTG isso é a coisa mais comum — comenta.
A percepção é confirmada pela advogada Savana Zafaneli Benedetti, 40 anos, mãe de Francisco Benedetti Braga. Aos 5 anos, o menino integra a invernada de dança mirim, grupo para crianças, e tem no CTG uma extensão da sua casa. A mãe comemora.
— Quando ele está aqui, eu sei que ele está seguro. Posso estar na cozinha fritando pastel, posso estar não sei onde, que eu sei que alguém vai estar olhando o Chico, que eu não preciso me preocupar. É como se todos fossem responsáveis pelas crianças, é uma família — diz Savana.
E foi justamente por meio de uma família que floresceu a semente para uma quebra de paradigma importante na história da entidade. Na busca pela reaproximação com a cultura interiorana, o casal Glauecir e Marlene da Silva se associou ao 35 CTG quando os filhos, hoje adultos, ainda eram pequenas. E deram assim início à trajetória da primeira mulher a comandar o centro de tradições: entre os cinco os filhos, estava Márcia Cristina Borges da Silva, então com cinco anos.
Em 2011, Márcia disputou a eleição para a patronagem. A candidatura de uma mulher ao cargo máximo da entidade era inédita até então, e igualmente inédita foi a sua eleição, por 68 votos a 53. A prenda assumiu o mandato no início de 2012, e 63 anos após a fundação, uma mulher assumia as rédeas do 35. Um local que, segundo a própria ex-patroa, não incluía mulheres durante os primeiros meses de existência.
— Quando o 35 foi fundado, as mulheres não podiam participar. Somente após uma viagem à sociedade La Criolla, no Uruguai, em 1949, na qual os fundadores viram moças participando dos grupos de baile, foi que os rapazes criaram o primeiro grupo de prendas do 35, em 16 de junho de 1949 — conta Márcia.
Márcia conta ter enfrentado dificuldades na gestão do CTG pelo simples fato de ser mulher. O preconceito, na maioria das vezes, era velado, mas a ex-patroa se orgulha de ter provado seu potencial à frente da entidade. Em dois mandatos, entre 2012 e 2015, voltou sua gestão à inclusão social.
E o casal Glauecir e Marlene ainda deu mais uma patroa para o 35: a caçula Gleicimary Borges da Silva, também policial militar, foi eleita para os anos seguintes, administrando de 2016 a 2019.
Futuro de inovação e acerto de contas
Conforme Airton de Paula, 51 anos, que ocupa o cargo de capataz de Marketing e Comunicação do CTG, o 35 tem entre 70 e 80 sócios ativos atualmente. Um número pequeno diante dos chamados "registros de sócios" da entidade: há mais de 7 mil registrados, mas não mais pagantes. Para manter o centro de tradições em funcionamento, os desafios se impõem e exigem criatividade da equipe liderada pelo patrão Antônio Carlos da Conceição Dias — a própria função de Airton, voltada à divulgação do CTG nas redes sociais, é uma novidade.
Ele conta que a patronagem está dedicada a colocar as contas em dia. Conforme o capataz, o CTG acumula cerca de R$ 200 mil em dívidas, principalmente relacionadas a impostos, questões trabalhistas e pagamentos de fornecedores. As fontes de receita são eventos, como os bailes, o valor recebido com a locação do espaço para a churrascaria Roda de Carreta e a anuidade paga pelos associados, de R$ 200.
Diante das dificuldades, Airton diz que é preciso "pensar fora da caixa". Não só para as questões administrativas, mas também para os costumes, que devem evoluir com a sociedade. E a transformação já está em andamento, a começar pelo lema da entidade em 2023: "35 CTG, o galpão de todos...".
— Não é somente todos os gaúchos, mas todas as pessoas, não tendo diferenciação de ninguém. Queremos acolher todas as pessoas que queiram participar das invernadas e dos eventos — explica o capataz de Marketing e Comunicação.
A atual gestão entende que o 35 precisa estar pronto para agregar todos aqueles que se aproximarem. Ou seja, a instituição quer se integrar ainda mais à sociedade e não estar apartada, como diz o gaúcho, de quem não é acostumado com botas e bombachas. No grupo entram, sobretudo, os jovens, que costumam ter ressalvas em relação ao tradicionalismo. A 1ª Prenda Anna Júlia admite que pessoas da sua idade por vezes olham torto para o movimento cultural, mas vê nisso uma oportunidade para desconstruir estereótipos.
Para o historiador Jocelito Zalla, abre-se aí o caminho para um novo momento no tradicionalismo:
— Acredito que ele esteja caminhando para um cenário mais plural. O que a gente vê é que ainda há uma ala conservadora, mas também uma inserção cada vez maior de pessoas que não abrem mão de aderir à identidade gaúcha e que não aderem ao machismo e não aderem à homofobia, por exemplo. Vemos também uma forte participação de mulheres que assumem a identidade da prenda, mas que não assumem um lugar de submissão.
Agenda das comemorações do 35 CTG
- No sábado (29), às 22h, será realizado o baile de aniversário na sede do 35 CTG (Avenida Ipiranga, 5.300, Jardim Botânico, em Porto Alegre), com Eco do Minuano e Bonitinho. Ingressos a partir de R$ 25, pelo telefone (51) 9-9909-9263.
- No domingo (30), às 9h, haverá cavalgada com saída da Hotelaria do Xirú (Estrada Afonso Lourenço Mariante, 6.239, na Lomba do Pinheiro), seguida por Missa Crioula e almoço.