
Iniciada na semana retrasada, a restauração do Memorial do Rio Grande do Sul tem previsão de duração de 18 meses, conforme o Termo de Compromisso firmado entre o governo estadual e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A obra no prédio localizado na Praça da Alfândega (veja galerias de fotos abaixo), em Porto Alegre, está sendo executada com recursos do PAC Cidades Históricas, programa do governo federal, ao custo de R$ 6,6 milhões.
Atingido pela enchente de maio de 2024, o imóvel permaneceu fechado ao público desde então em função dos danos em seus espaços. Aberturas parciais ocorrem em ocasiões excepcionais e há pessoas trabalhando em alguns setores.
Prédio abriga quatro instituições
Projetado pelo arquiteto e engenheiro alemão radicado em Porto Alegre Theo Wiederspahn, o prédio do Memorial do RS foi erguido entre 1910 e 1913. O tombamento foi realizado pelo Iphan em 1980.
Atualmente, o local abriga três instituições da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac): o próprio Memorial, o Arquivo Histórico do RS e o Museu Antropológico do RS. O Espaço Cultural Correios também fica em suas dependências.
— O projeto prevê a recuperação completa da edificação. Com o passar dos anos, ela se desgastou bastante pelo uso e por fatores climáticos. Será recuperada em praticamente todos os seus elementos — afirma o diretor de Memória e Patrimônio da Sedac, Eduardo Hahn.
Primeiras intervenções
Referência nacional na área do patrimônio cultural, a empresa Estúdio Sarasá ficou responsável pela restauração. O canteiro de obras foi montado no térreo, que ficou alagado durante a cheia.
As primeiras intervenções ocorrem na laje da cobertura. O telhado metálico será revisado, assim como as antigas e históricas cúpulas de cobre. Hahn, da Sedac, explica:
— Será feita uma recuperação completa da laje (da cobertura), que apresenta pontos de infiltração.
A arquiteta Magda Rosa, do Estúdio Sarasá, complementa:
— Estamos marcando no terraço os locais onde ficarão as novas calhas de recolhimento de águas pluviais e começando a abrir (essas canaletas).
O piso do terraço receberá uma manta de proteção, explica ela:
— Acima do piso, vamos trabalhar com uma manta líquida. E depois fazer um piso de proteção para essa manta. Já o telhado metálico passará por revisão e limpeza.
Novo sistema de climatização
Salas, esquadrias, paredes e pisos do prédio passarão por revitalização (veja mais detalhes abaixo). Todas as instalações elétricas serão refeitas e será implantado um novo sistema de climatização nas reservas técnicas, o que inclui o Arquivo Histórico e as salas de trabalho. O equipamento anterior não funcionava havia anos.
As infiltrações são um ponto crítico da edificação. Outro é a própria rede elétrica. Esses dois pontos são bem representativos da recuperação
EDUARDO HAHN
Diretor de Memória e Patrimônio da Secretaria da Cultura do RS (Sedac)
No lado interno do prédio, a última parte será o térreo. A ideia é que sejam retomadas algumas técnicas construtivas mais tradicionais que permitam a permeabilidade das paredes nesse pavimento. O processo de degradação foi acelerado em virtude da umidade intensa, mesmo quando a água da enchente baixou.
— As infiltrações são um ponto crítico da edificação. Outro é a própria rede elétrica, que será modernizada e terá um grau de segurança maior. Esses dois pontos são bem representativos da recuperação — observa o diretor de Memória e Patrimônio da Sedac.
Enchente exige novas medidas
O projeto em execução existe desde antes da enchente. Porém, o governo estadual e o Iphan conversaram sobre a necessidade de executar aditivos pensando na possibilidade futura de nova inundação. Os elevadores, por exemplo, foram danificados em função da invasão da água e agora serão recuperados.
A Secretaria de Obras do Estado elabora um novo projeto para o levantamento das instalações de energia elétrica do imóvel, o que deverá se efetivar no futuro. Em locais que foram inundados como Memorial do RS, Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), Museu da Comunicação Hipólito José da Costa e Casa de Cultura Mario Quintana, as estações de energia ficam localizadas no térreo ou no subsolo, pavimentos mais sujeitos a danos em situações de cheias.
Exposição para a reinauguração
Uma nova exposição está sendo planejada para a reinauguração do Memorial do RS. Por enquanto, o que se sabe é que deverá tratar da cultura gaúcha com uma visão mais contemporânea.
Haverá ainda espaço para exibições itinerantes. A ideia é que a primeira tenha como tema a enchente em Porto Alegre. Hahn, da Sedac, relata:
— Foi um choque enxergar as instituições culturais inundadas. Desde o início do rebaixamento das águas, iniciaram-se o salvamento, a secagem e a desinfecção dos acervos. Depois, começou a parte de recuperação física. Queremos que a população volte a utilizar esses prédios totalmente recuperados.
Problemas no Arquivo Histórico serão sanados

A diretora do Arquivo Histórico do RS (AHRS), Ananda Simões Fernandes, demonstra entusiasmo com as obras, que deverão sanar problemas estruturais de seu setor.
— São questões principalmente de climatização, tanto na área do acervo quanto na administrativa e na sala de pesquisas — pontua a diretora, acrescentando que os documentos mais antigos datam do século 18.
Localizado no segundo piso, o AHRS não foi atingido pela água da enchente. Porém, foi registrada a marca de 85% de umidade na seção (o ideal é 50%) e apareceu mofo nas paredes.
— Para não prejudicar tanto os pesquisadores, estamos fazendo aberturas e fechamentos programados. Vamos com a pesquisa até o início de junho, depois fecharemos por quatro meses. A expectativa é que consigamos abrir novamente no final do ano por um curto período até o próximo fechamento — estima.
Confira, em pontos, as etapas da reforma no Memorial do RS:
Na cobertura do prédio

- Estão sendo marcados os locais onde serão instaladas as novas calhas no terraço, que conduzirão as águas pluviais
- Acima do piso será passada uma manta líquida e feito um outro piso de proteção para essa camada
- No telhado metálico serão feitas a revisão e a limpeza da cobertura e da descida das calhas
- O relógio da cúpula de cobre será restaurado
- As próprias cúpulas serão limpas, e o cobre ganhará brilho
Nos espaços internos

- As paredes serão lixadas e repintadas
- A parte elétrica será substituída
- Os forros dos pavimentos precisarão ser mexidos
- Os espaços dos banheiros serão refeitos, inclusive as pias e os vasos sanitários
- Os pisos terão limpeza, manutenção e restauração nos casos em que for necessário
- Nas sacadas, os pisos serão trocados e haverá nova impermeabilização. Outro piso será refeito por cima dessa camada
Nos espaços externos

- Neste momento, os técnicos discutem se o prédio será decapado integralmente por fora ou não. Decapar é remover tinta, verniz ou produto similar da superfície
- O projeto não pede isso, mas os restauradores avaliam que o pavimento inferior precisaria ser decapado devido ao fato de a fundação do prédio ter mais contato com a água
- Por fim, será feita a pintura




