Nas ondas do rádio, Pedro Raymundo (ou Raimundo) ganhou fama em todo o Brasil. Ele andava sempre pilchado e carregando a gaita. Levava o chimarrão, a cultura e a música do Rio Grande do Sul para outras regiões. O Gaúcho Alegre do Rádio era catarinense, nascido em 29 de junho de 1906 em Imaruí, perto de Laguna. Aos 12 anos, aprendeu a profissão do pai, pescador. Felisberto Raimundo era casado com Maria Umbelina Vieira. O pai tocava em bailes e levava junto o menino, mas não o deixava encostar na sanfona. As primeiras músicas do guri foram na gaita de boca.
O moleque aproveitou um dia de pescaria do pai para pegar escondido a sanfona. Saiu tocando pela casa "tudo o que vinha na cabeça", como o músico relembrou em perfil publicado pela Revista do Rádio em 1950. O ato se repetiu nos dias seguintes e, é claro, o pai descobriu. Em um dia que chegou mais cedo em casa, Felisberto o surpreendeu. Nada de surra, como imaginava o garoto. Mandou que o filho tocasse uma música. Gostou tanto da apresentação que lhe deu a sanfona.
Pedro Raymundo ingressou em banda de música de Imaruí. Conseguiu os primeiros empregos na construção de estrada de ferro, em olaria e em uma mina de carvão. A mocidade foi vivida no município catarinense de Lauro Müller. Morou também em Laguna e Blumenau. No final de 1929, aos 23 anos, partiu para Porto Alegre.
Devido às mortes do pai e dois irmãos, Pedro Raymundo queria largar a gaita, pois estava sem alegria para tocar. Como não encontrava emprego na capital gaúcha, passou por maus momentos e não teve outra saída se não pegar a gaita. Em 2 de fevereiro de 1930, dia de Nossa Senhora dos Navegantes, entrou no Café Gaúcho, no Mercado Público, e pediu para tocar. Aceitaram. Começava a carreira profissional. Não tinha salário. Depois das apresentações, passava o pires pelas mesas dos clientes.
Além da música no Mercado Público, o catarinense começou a trabalhar nos bondes da Carris e integrou a banda da empresa. Pedro Raymundo teve outros empregos e participou da Revolução de 30. Em 1939, recebeu convite para apresentação na Rádio Farroupilha. A direção gostou da repercussão e o contratou por dois meses.
Depois da primeira experiência no rádio, criou o conjunto Quarteto dos Tauras e começou a tocar músicas do folclore regional na Rádio Sociedade Gaúcha, onde permaneceu até 1942. No ano seguinte, partiu rumo ao Rio de Janeiro com o conjunto para gravar e divulgar a música do Rio Grande do Sul. O problema é que os demais integrantes o abandonaram quando chegaram em Florianópolis. Pedro Raymundo decidiu seguir sozinho.
Na capital brasileira, o músico trabalhou em rádios como Mayrink Veiga, Tupi e Nacional. Gravou dezenas de discos, criou mais de duzentas músicas e viajou pelo Brasil fazendo shows. É autor de canções como Adeus Mariana e Saudades de Laguna. Pedro Raymundo dizia que não era gaúcho de nascimento, mas de coração. Na residência da família no Rio de Janeiro, guardava em um museu particular apetrechos usados pelos peões gaúchos.
Em 1971, retornou à Rádio Gaúcha, apresentando o Programa Pedro Raymundo. Morreu em julho de 1973, no Rio de Janeiro, vítima de câncer. Ele abriu as portas do Brasil para a cultura gaúcha e inspirou outras gerações. Luiz Gonzaga, Rei do Baião, contava que decidiu se apresentar com traje típico nordestino depois que viu Pedro Raymundo de bombacha na Rádio Nacional.
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