Do simples hábito de tomar chimarrão à participação ativa em um CTG, o Rio Grande do Sul tem uma série de costumes que se perpetuaram com o tempo. Com atuação do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), que congrega as entidades e trabalha para preservar e levar adiante o tradicionalismo, parte da cultura do gaúcho “é coisa nossa”, cheia de particularidades.
— O tradicionalismo é um culto organizado. Por isso, é preciso uma federação que concentre os estatutos e que regule as entidades — explica Paulo Roberto de Fraga Cirne, historiador e autor dos livros Tradicionalismo Gaúcho Organizado: 70 anos de história e Curiosidades: história, relatos e causos.
Veja algumas curiosidades
O bom e velho amargo
O mate é símbolo de hospitalidade. De acordo com Liliane Pappen, vice-presidente do Instituto Escola do Chimarrão, não há nada mais íntimo do que convidar uma pessoa para dividir a cuia e a bomba.
Ela explica que a origem do amargo vem do contato de bandeirantes, em 1554, que saíram do Paraguai em direção ao oceano. Ao passar por onde hoje é o Paraná, encontraram uma tribo guarani e a caá-y, ou água de erva-mate, no vocabulário indígena. Os bandeirantes experimentaram e perceberam os benefícios atribuídos à erva-mate, hábito que se espalhou. A erva era usada em todo o sul do Brasil e da América do Sul, e estudos indicam uso também pelos povos pré-colombianos.
Seguindo a tradição, existe uma série de regras de etiqueta ao entrar em uma roda de mate. Liliane explica que elas normalmente são seguidas por pessoas mais antigas, mas estão relacionadas com crenças indígenas e envoltas em mística. Como entregar o chimarrão com a mão direita e receber com a esquerda, por exemplo, que simboliza “dar e receber o seu melhor”.
As danças tradicionais
Mesmo os menos chegados na cultura do Estado já ouviram canções como “Balaio, Pezinho ou Caranguejo”. Junto de outras, essas músicas fazem parte do patrimônio imaterial do Estado e são ensaiadas a rigor pelas invernadas dos CTGs e dos piquetes. A origem passa pela geografia do Rio Grande do Sul e pela distribuição dos colonizadores, explica Toni Pereira, que é professor de Educação Física, instrutor de dança e um dos autores do livro de “Danças Tradicionais Gaúchas”:
— As danças rio-grandenses não são gaúchas por terem se originado inteiramente no Rio Grande do Sul, mas porque o nosso povo as recebeu e "agauchou", incorporando características e um colorido local.
Em concursos como o Encontro de Arte e Tradição (Enart), o grupo precisa ensaiar 25 coreografias. Minutos antes de entrar ao palco, 19 delas vão para a urna, de onde são sorteadas as três a serem apresentadas. Coreografia, harmonia e interpretação artísticas são consideradas para a pontuação.
CTGs pelo mundo
Quem disse que para ser gaúcho precisa estar no Rio Grande do Sul? Segundo dados do MTG, existem 2.575 CTGs e 4.031 piquetes espalhados pelo Brasil. Depois do Rio Grande do Sul, com cerca de 1.750, Santa Catarina é o Estado com o maior número: são cerca de 850.
A cultura regional também ganha espaço em outros países: Paraguai, Estados Unidos, Israel, Austrália e Nova Zelândia. A Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG) é o órgão regulador a nível nacional, enquanto a Confederação Internacional da Tradição Gaúcha (CITG) é responsável pelas diretrizes às entidades que ficam no Exterior.
Vikings de Bombacha
Na Noruega, um grupo chamado Vikings de Bombacha organiza o Acampamento Farroupilha mais ao norte do mundo, com direito a churrasco de fogo de chão, música gaúcha, tiro de laço e chimarrão. Tudo começou em 2020, com 16 participantes. Herbert Meregali, de Santo Antônio da Patrulha e um dos fundadores do grupo, estima que neste ano 90 pessoas se encontrem em Oslo.
A origem da Chama Crioula
O fogo é simbólico em muitos momentos da nossa história. De acordo com Paulo Roberto de Fraga Cirne, a Chama Crioula surgiu em 7 de setembro de 1947, quando João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente pilchados, aguardavam pela Pira da Pátria, onde hoje é o Parque Farroupilha. Na hora da extinção do fogo, Paixão Côrtes, com um pedaço de madeira, acendeu a primeira Chama Crioula.
Dali, eles conduziram a pira até o Colégio Júlio de Castilhos, onde acenderam o que chamaram de Candeeiro Crioulo. Hoje, a chama é acesa a cada ano em uma cidade diferente e carregada por cavaleiros para diferentes regiões do Estado.