Desde que Japão e Austrália se enfrentaram pelo torneio de softbol, em 21 de julho, até o fim do jogo de vôlei masculino entre a França e o Comitê Olímpico Russo (ROC), nesta sexta-feira (30), foram 10 dias de competições nas Olimpíadas de Tóquio.
Então, é hora de fazer um balanço, de A a Z, sobre o que de melhor — ou pior — já aconteceu na 32ª edição do maior evento esportivo do mundo, quem brilhou e quem decepcionou.
Se a quantidade de atletas gaúchos parecer bairrismo, vale lembrar que eles conquistaram três das sete medalhas brasileiras alcançadas até a manhã desta sexta-feira.
Amém
Palavra central no lema ("Diz amém que o ouro vem") do potiguar Ítalo Ferreira, 27 anos, o primeiro campeão olímpico do surfe — esporte estreante em Jogos — e, até a manhã desta sexta-feira (pelo horário de Brasília), o único atleta brasileiro a subir no lugar mais alto do pódio.
Bronze
É a cor das três medalhas conquistadas por atletas do Rio Grande do Sul. O primeiro deles foi o judoca porto-alegrense Daniel Cargnin, 23 anos, na categoria até 66kg, sob inspiração de João Derly (pela garra do gaúcho bicampeão mundial), Cristiano Ronaldo (pela dedicação do craque português) e Ana Rita, sua mãe (pelas lições de humildade).
Comitê Olímpico Russo
Ou ROC, na sigla em inglês. É como a Rússia compete em Tóquio 2020, porque o país foi suspenso das competições esportivas internacionais por conta de um escândalo institucional de doping que envolveu até o Ministério do Esporte local. Segundo o Tribunal Arbitral do Esporte, as autoridades esportivas russas adulteraram o banco de dados do laboratório de testes de Moscou para evitar que atletas que tivessem sido pegos no antidoping fossem punidos pela Agência Mundial Antidoping (Wada). Assim, o Comitê Olímpico Internacional (COI) criou uma bandeira neutra para que atletas que comprovadamente não tinham envolvimento no caso pudessem competir. Quando os russos sobem ao topo do pódio, por exemplo, não é tocado o hino nacional, mas o Concerto para Piano Número 1, de Pyotr Tchaikovsky.
Duzentos metros livre
Foi a prova da natação em que Fernando Scheffer, 23 anos, conseguiu uma surpreendente medalha de bronze. Surpreendente também é o apelido do nadador nascido em Canoas: Monet, uma referência — errada — ao quadro Abaporu (1928), de Tarsila do Amaral. É que, na infância, o atleta era alvo de tirações de sarro dos companheiros de treino do Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, por ser muito alto, magro e ter braços e pernas compridos, além de pés grandes — como a figura retratada pela pintora brasileira, só que, quando um amigo fez a brincadeira, disse que a obra era do francês Claude Monet.
Espectadores
É o que, por um motivo justo, está faltando nas Olimpíadas. Com o aumento no número de casos de covid-19 em Tóquio, foi proibida a presença do público nos eventos esportivos. O vazio das arquibancadas (e o consequente silêncio ao fundo) ganha protagonismo nas transmissões pela TV.
Favela, Baile de
Música funk que embala a apresentação no solo de Rebeca Andrade, 22 anos, primeira medalhista olímpica do Brasil na ginástica artística feminina. A atleta paulista recebeu a prata pelo seu desempenho na final individual geral. Com 57,298 pontos, só foi batida por Sunisa Lee (EUA), que somou 57,433, e terminou à frente da russa Angelina Melnikova, 57,199. Um exemplo de superação após Rebeca sofrer três graves lesões no joelho e ter pensado em desistir da carreira diante das cirurgias.
Goleiras brasileiras
As duas têm o mesmo nome. A do handebol, a gaúcha Bárbara Arenhart, a Babi, 34 anos, vem brilhando em quadra — foi destaque na vitória sobre a Hungria, por exemplo.
A do futebol, a pernambucana Bárbara, 33 anos, falhou dentro (no empate em 3 a 3 com a Holanda) e fora de campo — num bate-boca no Instagram com uma atleta paraolímpica da canoagem, Andrea Pontes, escreveu: "Acha que só porque é deficiente pode falar o que quer?".
Hugo Calderano
O carioca de 25 anos esteve perto da inédita classificação brasileira para as semifinais do tênis de mesa, quando abriu uma vantagem de 2 sets a 0 e 8/4 no terceiro. Mas o alemão Dimitrij Ovtcharov conseguiu uma grande reação e venceu com parciais de 7/11, 5/11, 11/8, 11/7, 11/8 e 11/2. Mesmo com o revés, Calderano já entrou para a história olímpica do país ao terminar entre os oito melhores, superando o feito de Hugo Hoyama, que caiu nas oitavas em Atlanta 1996. O mesa-tenista continua em Tóquio para disputar a competição por equipes ao lado de Gustavo Tsuboi e Victor Ishiy. O Brasil estreia no domingo, contra a Sérvia.
Irã 3x2 Polônia
Jogaço pela primeira rodada do vôlei masculino que ilustrou bem uma mistura do tal do espírito olímpico com uma senhora rivalidade. De um lado da quadra, estava a seleção iraniana, que nunca conquistou algum título de expressão e que na recente Liga das Nações havia terminado na 12ª colocação entre 16 participantes. Do outro, o time polonês, medalha de ouro nas Olimpíadas de 1976, tricampeão mundial (1974, 2014 e 2018) e vice na Liga das Nações. Mas a equipe do oposto Ghafour venceu de virada os craques Leon, Kurek e companhia, por 3 sets a 2 (parciais de 18/25, 25/22, 25/22, 22/25 e 23/21). Foi uma revanche do duelo pela primeira fase dos Jogos do Rio 2016, que quase terminou em pancadaria após os europeus fecharem o tie-break em 18/16. De lá para cá, ainda houve o episódio da suspensão de Kubiak, da Polônia, por declarações xenofóbicas contra os iranianos, em 2019. Não por acaso, o treinador Vital Heynen resolveu não escalar o oposto para a estreia em Tóquio.
Juízes do surfe e do judô
Causaram polêmica e revolta em dois episódios envolvendo atletas brasileiros.
No surfe, a ronha foi na semifinal entre Gabriel Medina e o japonês Kanoa Igarashi, que virou a bateria nos últimos minutos, ao conseguir um aéreo que valeu nota 9,33. Em onda semelhante, o surfista paulista bicampeão mundial havia merecido 8,44 dos juízes.
Nos tatames, onde há menos margem para a subjetividade do que no mar, o rolo aconteceu nas quartas de final entre Maria Portela e a russa Madina Taimazova. No golden score (a prorrogação do judô), a arbitragem — com direito a checagem em vídeo — não considerou como wazari (um dos golpes do esporte) um ataque empreendido pela gaúcha de 33 anos. Depois, ela acabou eliminada ao receber o terceiro shido (penalidade por falta de combatividade).
Kelvin Hoefler
O skatista paulista de 28 anos ganhou a primeira medalha do Brasil em Tóquio, a prata na modalidade street.
Laura Pigossi e Luisa Stefani
Independentemente de conquistarem a medalhe de bronze na decisão contra as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina, neste sábado (31), as paulistas Laura Pigossi, 26 anos, e Luisa Stefani, 23, já igualaram o melhor desempenho da história do tênis brasileiro em Olimpíadas — Fernando Meligeni foi quarto lugar em Atlanta 1996. Nada mal para uma dupla que foi inscrita na última hora, após várias desistências, e chegou a ter a participação nos Jogos Olímpicos impugnada no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS).
Mayra Aguiar
A judoca porto-alegrense que comemora 30 anos na terça-feira (3) tornou-se uma tripla recordista ao vencer a disputa do bronze na categoria até 78kg: como já havia ficado em terceiro lugar nos Jogos de Londres, em 2012, e do Rio, em 2016, a atleta da Sogipa é a primeira brasileira com três medalhas olímpicas em um esporte individual, a primeira a fazer isso em três Olimpíadas em sequência e a maior medalhista do esporte que mais levou o país ao pódio — foram 24 vezes.
Nadador tunisiano
Aos 18 anos, o desconhecido Ahmed Hafnaoui largou da raia 8 para ser campeão olímpico nos 400m livre, superando favoritos como o australiano Jack McLoughlin (prata) e o estadunidense Kieran Smith (bronze).
Oitavo lugar
Ou seja, o último na final. Foi essa a colocação da natação brasileira nas provas 4x100m livre, 4x200m livre e 800m livre (Guilherme Costa). O desempenho no revezamento 4x200 se fez acompanhar por um puxão de orelhas do caçula da equipe, Murilo Sartori, 19 anos, medalhista de bronze nos 200m do Mundial júnior de 2019:
— Não dá para cada um treinar sozinho na sua casa e chegar aqui e "vamos juntar e vai dar tudo certo". Se a gente quer ter um resultado como equipe, a gente precisa treinar como equipe. Isso serve de lição não só para nós atletas, mas para todos os treinadores do Brasil. Até a parte de competição tem que ser um pouco melhor. A competitividade no Brasil, na América do Sul, acaba sendo um pouco baixa para a gente.
O jovem Murilo disse em outras palavras aquilo que veteranos da área sabem: no Brasil do futebol, de quatro em quatro anos se descobre que há esportes olímpicos.
Ponteira pontuadora
É a posição e a condição da gaúcha Fernanda Garay, 35 anos, na seleção brasileira feminina de vôlei. Fê marcou o maior número de pontos nas vitórias sobre a Coreia do Sul (17), República Dominica (26) e Japão (16, ao lado da central Carol).
Quatro recordistas brasileiros
Nestes primeiros 10 dias de Jogos, três atletas brasileiros já bateram o recorde de participações, chegando a sete Olimpíadas (contando as de Inverno): Formiga, do futebol feminino, Robert Scheidt, da vela, e Jaqueline Mourão, do ciclismo. A partir do dia 3 de agosto, Rodrigo Pessoa, do hipismo, deve se juntar à turma.
Richarlison
Aos 24 anos, o atacante capixaba que atua no Everton, da Inglaterra, e é o camisa 10 do Brasil fechou a primeira fase do futebol masculino como artilheiro. Marcou cinco gols — os três da Seleção nos 3 a 2 contra a Alemanha e dois na vitória de 3 a 1 sobre a Arábia Saudita. Fez a diferença, como os números comprovam.
Saúde mental
Virou um dos grandes assuntos do meio esportivo quando a principal estrela das Olimpíadas de Tóquio, a ginasta americana Simone Biles, 24 anos, resolveu se retirar da decisão por equipe e desistiu de disputar as finais por aparelhos. Dona de quatro ouros nos Jogos do Rio 2016 e recordista de medalhas em Mundiais (25), ela acendeu um alerta sobre a pressão que os atletas sofrem: "Temos que nos concentrar em nós mesmos, porque no final do dia também somos humanos. Portanto, temos que proteger nossa mente e nosso corpo, em vez de apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos".
Treze anos
É a idade da maranhense Rayssa Leal, a mais jovem medalhista do Brasil — e a quarta na lista mundial dos atletas. Com seu talento, ela conquistou a prata no skate street. Com sua alegria, conquistou o carinho de fãs, ídolos (como Letícia Bufoni, que foi sua inspiração, e o estadunidense Tony Hawk, uma lenda do esporte) e mesmo rivais: na final em Tóquio, a filipina Margielyn Didal fez dancinhas com a Fadinha e virou a torcedora mais próxima.
Uniforme das ginastas alemãs
Como um gesto contra a sexualização do esporte e a favor da liberdade de escolha das atletas, a equipe formada por Sarah Voss, Pauline Schaefer-Betz, Elisabeth Seitz e Kim Bui repetiu o que havia feito no Campeonato Europeu, em abril: vestiu trajes de corpo inteiro, unindo collant e leggings que iam do pescoço até os tornozelos. A bem-vinda iniciativa se junta a outras, como a da seleção feminina de handebol de praia da Noruega, que, numa competição europeia, jogou de shorts, se recusando a usar biquínis — obrigatórios, segundo o regulamento sexista que acabou gerando uma multa de 1,5 mil euros, a qual a cantora estadunidense Pink se ofereceu publicamente para pagar.
Vômito de campeão
O norueguês Kristian Blummenfelt, 27 anos, protagonizou uma das imagens mais marcantes dos Jogos de Tóquio. Instantes depois de cruzar em primeiro lugar a linha de chegada no triatlo, quando ainda estava comemorando, vomitou na pista e precisou ser levado em uma cadeira de rodas. Um retrato do quão extenuante é a prova em que os atletas têm de nadar 1,5 km, pedalar 40 km e correr 10 km.
William Shaner
Medalha de ouro na carabina de 10m, ele é um dos responsáveis pelos Estados Unidos estarem entre os líderes do quadro de medalhas. Até as 12h30min desta sexta-feira (30), o país ocupava a terceira posição, com 14 ouros, 16 pratas e 11 bronzes, totalizando 41.
Xis da questão
Sem conseguir se classificar às finais dos 3.000m com obstáculos (foi o 27º colocado), o paulista Altobeli Silva, 30 anos, fez em entrevista ao SporTV um desabafo que resume a vida dura — física e psicologicamente — dos atletas de ponta dos esportes individuais:
— Estou me sentindo muito mal. Chateado, porque sei o quanto treinei, o quanto batalhei, o quanto abri mão. É uma frustração muito grande, porque quando você não treina, não se dedica, dá "migué", vai para festinha , é uma coisa. Mas quando você abre mão de tudo isso, se isola, espera um ótimo resultado e acontece o que aconteceu, eu sinceramente fico sem entender. Minha vontade é de chorar, porque eu treinei pra caramba. Treinei muito pra estar aqui. Eu merecia classificar porque eu treinei pra cacete. Eu não sei o que aconteceu, porque eu endureci minhas pernas. Nas Olimpíadas do Rio (2016), eu fui finalista e não treinava o que treinava agora. É uma decepção muito grande. A ponto de você analisar: será que isso vale a pena? Se dedicar, se dedicar...
Altobeli também não se perdoa pelo erro cometido na prova. O brasileiro acompanhava o primeiro pelotão, entretanto, após tocar num obstáculo, perdeu ritmo e foi ficando para trás:
— É duro, cara. Me cobro pra caramba. "Ah, só de estar aqui você é um vencedor". Beleza, mas se estou aqui, por que não vou buscar mais? Porque vou ser um perdedor estando aqui?
Yamada, Masaru
Integrante da equipe campeã na modalidade espada da esgrima, Masaru Yamada contribuiu para o Japão, anfitrião dos Jogos, estar na vice-liderança do quadro de medalhas: 17 ouros, quatro pratas e sete bronzes — 28 no total até as 12h30min desta sexta-feira (30).
Zhang Yufei
A nadadora chinesa de 23 anos já foi ao pódio três vezes: ouro nos 200m borboleta, ouro no revezamento 4x200m livre e prata nos 100m borboleta. Na manhã desta sexta-feira (30), avançou para as semifinais nos 50m livre. É uma das responsáveis pela liderança da China no quadro de medalhas: 19 ouros, 10 pratas e 11 bronzes (40 no total).