Superpersonagens olímpicos

Robert Scheidt

O senhor dos mares

David Coimbra

Para falar de Robert Scheidt, você tem que ter vocabulário. Tem que saber, por exemplo, o que é um hendecacampeão. Robert Scheidt é isso. Ou seja: ele foi campeão mundial 11 vezes. No caso, da classe Laser.

Ser campeão 11 vezes de qualquer coisa, em qualquer lugar, parece muito para qualquer mortal. Talvez não para Scheidt. Porque ele ganhou 181 títulos na carreira ( 89 internacionais e 92 nacionais), é um dos velejadores mais importantes da história do esporte em todos os tempos e o maior medalhista olímpico do Brasil.

Scheidt tem duas medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze em Olimpíadas. Está indo agora, aos 48 anos de idade, para a sua sétima, o que é outro recorde. Robert Scheidt, sendo quem é, vindo de onde veio, só poderia ser velejador. Seus pais são Fritz e Karin Kreuger Scheidt. Fritz, alemão, foi velejador. E o pai de Karin, Eric, um sueco, pilotava barcos à vela numa rota da Suécia para a Austrália. Quer dizer: como diria Brizola, a ligação de Scheidt com a vela vem de longe.

Scheidt sempre gostou de esportes. Quando mais jovem, jogava tênis e nadava. Mas a vela estava no sangue. Seus irmãos, Carla e Thomas, são velejadores. Sua mulher, a lituana Gintaré, é velejadora. Ele, então, só poderia ser velejador. Mas não UM velejador, e, sim, O velejador.

Scheidt é uma lenda do esporte. Uma referência. Ainda assim, Scheidt passou por algumas dificuldades para chegar aos Jogos de Tóquio.

Primeiro porque nem ele próprio sabia que iria competir. Em 2017, decidiu se aposentar, ficou 14 meses longe das competições, mas voltou em 2019. Quando estava pronto para retomar o ritmo normal de treinos, ocorreu um probleminha que afetou não apenas ele, mas outros 8 bilhões de seres humanos em todo o Planeta Terra: a pandemia de coronavírus.

Scheidt vive em Garda, na região do Veneto, norte da Itália, justamente um dos lugares mais afetados pela covid- 19 no começo da pandemia. Quando no Brasil tudo ainda se afigurava algo distante, meio que ficção, o governo italiano impôs severo lockdown ao norte do país. Scheidt ficou sem poder treinar.

Um dia, ele tentou colocar seu barco nas cristalinas águas do Lago de Garda e um policial o advertiu: se fizesse isso, poderia pegar três meses de prisão. A coisa era séria. Scheidt preferiu esperar, estabelecendo uma rotina de treinamentos em casa, junto com a mulher e os dois filhos. Depois de algum tempo, quando a pandemia arrefeceu, as autoridades levantaram as restrições e Scheidt pode voltar ao meio em que se sente mais feliz: a água.

Agora ele está pronto para a sua sétima edição das Olimpíadas. Pronto para fazer história. Mais uma vez. Como de costume.