Marta
A despedida da rainha
José Alberto Andrade ze.alberto@rdgaucha.com.brEm 1996, ela tinha 10 anos e já se metia em jogos de futebol disputados por meninos. Entre julho e agosto daquele ano, pela TV, acompanhou as Olimpíadas de Atlanta, os "Jogos do Centenário". Pela primeira vez, o futebol feminino era incluído entre as disputas, e a menina de Dois Riachos, Alagoas, pôde ver um time com destaques como Pretinha, Sissi, Kátia Cilene, Roseli e Formiga chegar à disputa da medalha de bronze, perdida para a Noruega.
Bastaram oito anos para o destino e o talento juntarem Marta Vieira da Silva com o maior evento esportivo do planeta.
Passado mais algum tempo, aos 14 anos, não precisava mais se misturar aos homens que rejeitavam a ideia de enfrentar uma mulher com mais qualidade técnica do que eles.
Depois de uma passagem pelas categorias de base do CSA, botou o pé numa estrada que lhe daria o mundo. A primeira escala foi o Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Bastaram dois anos em um grande centro para a menina vestir pela primeira vez a camisa da Seleção Brasileira. Em 2003, aos 17 anos, Marta ganhou seu primeiro título, a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, já formando uma dupla emblemática na equipe com a parceira Cristiane. Ao seu lado ainda figuravam destaques lá daquelas primeiras Olimpíadas do futebol feminino, como Pretinha e Formiga.
Estava apenas começando o reinado da mais premiada jogadora de futebol da história. Em 2004, embalado com o ouro pan-americano, o Brasil já tinha em Marta uma absoluta liderança técnica com uma habilidade fantástica no seu pé esquerdo.
As brasileiras conquistaram em Atenas sua primeira medalha olímpica na modalidade, a de prata, perdendo a final para a multicampeã seleção dos Estados Unidos. Naquela altura da carreira, Marta já havia conquistado o estrelato fora do Brasil, sendo contratada pelo Umea, da Suécia, onde permaneceu por cinco temporadas.
Foi lá que seu talento explodiu mundialmente, de onde ela saiu chorando após conquistar um tetracampeonato sueco e uma Copa da Uefa.
A esta altura, na Seleção Brasileira, algumas conquistas haviam se somado ao ouro de Santo Domingo e à prata de Atenas. Sob o comando de Marta, vieram a medalha de ouro do Pan do Rio, em 2007, quando também chegou à artilharia com incríveis 12 gols, um vice- campeonato da Copa do Mundo na China no mesmo ano e, novamente em solo chinês, mais uma medalha olímpica de prata: em 2008, em Pequim.
O mundo já era dela, mesmo sem os tão sonhados títulos em Olimpíadas ou em Mundiais. Marta foi eleita a melhor jogadora de futebol do mundo por cinco vezes consecutivas, entre 2006 e 2010.
Jamais houve algum tipo de contestação a isso, como também não aconteceu em 2018, quando a Rainha ressurgiu para novamente ganhar o prêmio máximo. Naquela temporada, a brasileira já estava jogando no seu atual time, o Orlando Pride, dos Estados Unidos.
O caminho vitorioso entre Suécia e terras norte-americanas teve muitas escalas, duas delas no Brasil, ambas no Santos, em 2009 e 2011, suficientes para ser campeã da Libertadores feminina e da Copa do Brasil.
Mesmo tendo passado por uma dezena de clubes desde o Vasco, lá em 1999, a craque atuou em apenas três países: Brasil, Suécia e EUA.
Marta chega para suas quintas Olimpíadas com o gosto de despedida, talvez sonhando em fazer o mesmo que Pelé, o Rei do futebol masculino, que se despediu dos mundiais em 1970 com o título.
As marcas já obtidas pela Rainha não precisam ser referendadas por uma medalha, mas isso consagraria ainda mais quem já é absoluta com seis escolhas de melhor jogadora do mundo, sendo a maior artilharia da história de uma Seleção Brasileira de futebol e também de todas as Copas do Mundo femininas.
Ela nasceu no ano do primeiro jogo da história da Seleção feminina do Brasil, fez 10 anos quando as mulheres passaram a jogar futebol nas Olimpíadas e agora, 25 anos depois dessa estreia, será uma das maiores estrelas dos Jogos de Tóquio.