Pela 11ª vez no Brasileirão deste ano, o Inter deixou o campo sem sofrer gol. O empate com o Corinthians, no domingo (17), manteve o time gaúcho na disputa por uma vaga na Libertadores de 2020.
Este foi o sexto jogo de Zé Ricardo no comando da equipe, o primeiro em que a defesa não foi vazada. Nas cinco partidas anteriores, foram oito gols sofridos, média de 1,6 por confronto. Antes, com Odair Hellmann, foram 23 gols em 24 jogos (0,95), e um em três partidas com o interino Ricardo Colbachini (0,33).
— O primeiro jogo de Zé Ricardo sem ser vazado tem um combo de explicações. O Inter marcou a saída corintiana, o que fez a zaga rifar a bola quando pressionada. O meio-campo colorado foi compacto na marcação e contou com a frouxa marcação do Corinthians em D’Alessandro, o que trouxe mais posse ao Inter. Os laterais colorados guardaram posição, não havia buracos entre os setores, o que facilita o trabalho da excelente zaga do Inter. A outra parte da explicação está no próprio Corinthians, que não é competente com a bola nos pés. Seja como for, o Inter cumpriu pragmaticamente sua missão de pontuar contra um rival direto. E sem levar gol — avaliou o comentarista da Rádio Gaúcha e da RBS TV Maurício Saraiva.
Desde sua chegada ao Inter, o ex-treinador de Flamengo, Vasco, Botafogo e Fortaleza busca modificar o posicionamento da equipe. Na estreia, diante do Bahia, a vitória por 3 a 2 teve apenas dois volantes em campo e encorajou o técnico a repetir a ideia no clássico Gre-Nal, quando o domínio do rival gerou inúmeras críticas à postura adotada — tanto que o próprio Zé Ricardo admitiu que mudaria a estratégia.
Após a derrota para o Grêmio, veio um novo insucesso diante do Ceará, com três volantes: Rodrigo Lindoso, Bruno Silva e Patrick — este utilizado em uma linha mais adiantada, ao lado de D'Alessandro e William Pottker. O modelo foi repetido na vitória sobre o Fluminense e no empate diante do Corinthians, jogos em que Edenilson voltou a jogar depois de cumprir suspensão.
Contra o Corinthians, a defesa colorada se mostrou sólida, e o goleiro Marcelo Lomba não precisou fazer muitas intervenções. No final da partida, uma pressão corintiana, especialmente na bola aérea, foi o que mais assustou o Inter.
— O primeiro tempo foi muito bom. O Zé Ricardo falou que foi nosso melhor primeiro tempo desde que ele chegou. Aconteceu tudo o que a gente treinou. A gente treinou posse de bola, flutuação do D'Ale por dentro, criando espaço, criando chance, adiantamos a defesa. Tudo que o Zé pediu, colocamos em prática, é mérito dele também —disse Lomba, após a partida.
O resultado foi importante para manter o Inter à frente do Corinthians na briga por vaga na Libertadores. O time paulista é, até o momento, ao lado do Cruzeiro, o que mais empatou no Brasileirão — 14 vezes.
Um dos fatores apontados para o bom desempenho colorado foi a chamada semana cheia de treinamentos.
— Gosto que minha equipe tenha uma forma forte de jogar, independentemente do adversário. Mas não tem como você desprezar a necessidade de encaixar algumas coisas de acordo com seu rival. Fizemos isso essa semana e, provavelmente, vamos fazer nas rodadas que faltam. Entendo que jogar bem vai nos aproximar do resultado, que é a vaga à Libertadores — declarou Zé Ricardo.
Segundo Diogo Olivier, comentarista da Rádio Gaúcha e RBS TV e colunista de GaúchaZH, um dos diferenciais foi a chamada marcação alta.
— Não houve grandes mudanças no desenho tático ou peças, tirando Sobis. Ele se mexe mais e ajuda na marcação, algo que Guerrero faz pouco. Para atacar, 4-2-3-1, com D’Ale flutuando. Para defender, linhas de quatro, a mais adiantada com Pottker, Lindoso, Edenilson e Patrick. O diferencial foi a volta da corda esticada, com pinceladas de marcação alta, compensando limitações técnicas. O time todo teve mais empenho, foco e solidariedade tática.
Sobre a presença de Rafael Sobis no time, Zé Ricardo disse que a definição de sua escalação independia da condição de Paolo Guerrero, que estava com a seleção peruana.
— Desde sempre (definimos que o Guerrero seria banco). Mesmo que o Paolo tivesse chegado na sexta-feira, a gente já tinha definido que o Rafael ia começar a jogar. A experiência dele nessa reta final é muito fundamental — afirmou o treinador.
O comentarista Gustavo Fogaça, do DAZN, faz uma análise sobre o desempenho defensivo do Inter nas duas últimas temporadas.
— A diferença do Inter com ele mesmo apareceu na chamada "pressão pós-perda". E os números confirmam isso. Utilizando a métrica do PPDA (pass per defensive action), que mede intensidade defensiva, confirmamos como o Colorado foi bem neste quesito. Levando em conta que quanto menor o índice, mais intenso foi o time, em 2018 a média era 1,8 por jogo. Com Odair, em 2019, subiu para 2. Com Zé Ricardo, o time havia perdido totalmente a intensidade, subindo para 2,3 por partida. No domingo, o PPDA indicou 1,73. Ou seja, um Inter mais intenso do que o de 2018. Faltou apenas qualidade nas finalizações para aproveitar as chances criadas e voltar de São Paulo com os três pontos — pondera Fogaça, baseado nos números da equipe colorada.
Confira os jogos em que o Inter não sofreu gols no Brasileirão:
Odair Hellmann:
2x0 CSA - Beira-Rio - 5ª rodada
0x0 Santos - Vila Belmiro - 6ª rodada
2x0 Avaí - Beira-Rio - 7ª rodada
1x0 Ceará - Beira-Rio - 12ª rodada
0x0 Corinthians - Beira-Rio - 14ª rodada
1x0 Fortaleza - Castelão - 15ª rodada
1x0 São Paulo - Beira-Rio - 18ª rodada
1x0 Chapecoense - Beira-Rio - 20ª rodada
Ricardo Colbachini:
0x0 Santos - Beira-Rio - 25ª rodada
2x0 Avaí - Ressacada - 26ª rodada
Zé Ricardo:
0x0 Corinthians - 33ª rodada