Até lembranças deixadas por torcedores em homenagem a Fernandão, um dos maiores ídolos da história do Inter, morto em acidente aéreo em 2014, podem ter gerado dinheiro a ex-dirigentes do clube.
Relatório do Ministério Público (MP) que descreve a investigação sobre supostos desvios de recursos do Inter na gestão 2015/2016 levanta possibilidade de que R$ 177,1 mil tenham sido sacados da tesouraria do clube sob o pretexto de demolir uma parede, batizada pelos colorados de Memorial Fernandão no pátio do estádio. O espaço recebeu centenas de cartazes, bandeiras e flores com mensagens e recados para o capitão colorado, mas foi desativado e um memorial oficial foi instalado dentro do Beira-Rio.
A parede, de fato, foi removida, mas o MP suspeita que o serviço foi executado por outra empresa e por preço bem mais baixo. A partir de imagens de satélite da época, um parecer técnico estimou a derrubada de 140 metros quadrados de concreto e que, à época, custaria R$ 15 mil.
A demolição da parede ocorreu em 2 de junho de 2016. Conforme o MP, dias depois, entre 5 e 19 de junho, a Keoma Construção e Incorporação e Planejamento Ltda emitiu duas notas fiscais, somando os R$ 177,1 mil. Nos documentos, a descrição do trabalho é "transporte e bota fora de materiais com uso de equipamentos".
Tudo indica que a Keoma não foi a responsável pelo serviço. O relatório do MP narra essa desconfiança pelo fato de que, nas notas, "não se tem qualquer documento ou mesmo informação detalhando o que efetivamente teria sido executado" nem "os locais da execução e o volume de materiais supostamente transportados pela Keoma".
Em depoimento ao MP e ao Grupo de Investigação da RBS (GDI), o dono da Keoma afirmou que jamais prestou serviços ao Inter e que a empresa está inativa desde 2011.
A Keoma figura como a empresa que mais cobrou por obras supostamente não realizadas. Entre 2015 e 2016, 67 notas fiscais da construtora, somando R$ 5,3 milhões, foram apresentadas na tesouraria do Inter para quitar retiradas de até a R$ 9 milhões sacadas a título de adiantamentos, segundo o MP, pelo então vice-presidente de Finanças Pedro Affatato.
CONTRAPONTO
O que diz o advogado Andrei Zenkner Schmidt, defensor de Affatato:
"A defesa de Pedro Affatato nega todas as acusações e irá se manifestar apenas no processo."