Parece dia de jogo tamanha a movimentação em direção ao Beira-Rio - mas o que motiva torcedores na tarde nublada deste sábado em nada se assemelha à euforia que antecede uma partida. Centenas de pessoas se concentram nas imediações do estádio para prestar uma homenagem ao ídolo Fernandão, morto na madrugada em acidente de helicóptero.
Durante todo o dia, o movimento na região refletia o apreço da torcida colorada ao ex-capitão do time. À tarde, mais torcedores foram chegando e, por volta das 16h, a estimativa era de que mil pessoas estavam ao redor do Centro de Visitantes do Beira-Rio - ponto de encontro da homenagem organizada pelo grupo Gigante Para Sempre, marcada para as 17h30min.
No evento organizado pelo Facebook, 2,7 mil torcedores já confirmaram presença para distribuir flores vermelhas e brancas na grade da Padre Cacique. Apesar da movimentação, o que impera no local é o silêncio. A pé, de skate, bicicleta ou gritando de dentro do carro, muitos enrolados em bandeira do Inter ou do Rio Grande do Sul, outros com fitas pretas penduradas na roupa, lembravam os principais momentos do atacante.
- Ele nos devolveu as grandes conquistas, com sua garra e liderança. Nunca vou esquecer dele com o microfone gritando Vamo Vamo Inter! - disse Rosana Siqueira.
Com olhos cheios de lágrimas, fardando uma jaqueta preta, cor do luto, André Schleich contemplava a bandeira a meio pau, sentado na beira da calçada.
- Estou arrasado. A imagem de nossos maiores títulos são do Fernandão. É um cara que daqui a 20, 30 anos poderia continuar inspirando torcedores e jogadores.
Carregando um ramalhete de flores, uma branca e outra vermelha, e um pôster com o ídolo erguendo a taça da Libertadores, Leandro Borowski improvisou um memorial no espaço do centro de visitantes. Colou ambos com fita adesiva.
- Aí Fernandão! - gritou, para em seguida baixar a cabeça e soluçar baixo a perda do ídolo.
Torcedores desses que não deixam de ir a um jogo, Igor Rozo e Fábio Correa improvisaram a homenagem: colaram uma tira isolante preta na bandeira, que agitavam em frente ao estádio - o acesso de torcedores está vetado pois o Beira-Rio já está cedido para a Copa do Mundo.
- Minha mulher me acordou e disse o que tinha ocorrido e eu nem acreditei. Liguei para o Fábio e combinamos de vir onde o Fernandão nos deu tantas alegrias - diz Igor.
Por uma triste coincidência, Rodrigo Dornelles veio de Passo Fundo nesta manhã mostrar aos filhos o novo Beira Rio. No meio do caminho, ouviu no rádio a notícia da morte.
- Somos fanáticos, sempre assistimos aos jogos juntos. É muito triste essa perda tão jovem. Mas ele é ídolo, será eternamente nosso ídolo.
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Um mito na história do Inter
Fernandão nasceu em Goiânia e foi revelado pelo Goiás. Mas foi no Inter que ele viveu suas maiores glórias, conquistando a Libertadores da América e o Mundial em 2006, como capitão da equipe de Abel Braga.
Foram quase cinco anos de identificação com a torcida e gols emblemáticos, como o da estreia, em 10 de julho de 2004, no Gre-Nal do gol 1.000, de sua autoria. Neste ano, Fernandão foi um dos mestres de cerimônia da reabertura do Beira-Rio, no dia 5 de abril. Anos antes, ele e o então goleiro Clemer comandaram a festa do Mundial, cantando junto com um Beira-Rio lotado.
Sua última equipe foi o São Paulo, em 2011. Fernandão jogou ainda no Olympique de Marselha e Toulouse, na França, e o Al-Gharafa, no Catar. Ele também treinou o Inter em 2012, e agora se preparava para comentar a Copa do Mundo pelo SporTV.
A cidade onde ocorreu o acidente fatal de Fernandão
* Colaborou Débora Ely