O Inter bateu um recorde. Negativo. A direção enviou aos conselheiros o balanço fiscal de 2017. E o déficit do clube atingiu uma nova marca histórica: R$ 62,5 milhões. Muito disto ainda é reflexo dos danos causados ao clube pelo rebaixamento de 2016 e a falta de visibilidade provocada pela disputa da Série B. No próximo dia 10, o Conselho Fiscal analisará as contas de 2017. Posteriormente, o balanço será enviado para a votação no Conselho Deliberativo.
A gestão colorada esperou até a data limite para a entrega do relatório. Foi feito, porém, em acordo com o Conselho Fiscal, que somente agora passará a analisar o balanço. Ainda assim, há grande descontentamento entre os conselheiros devido à demora para a apresentação destes números.
— A situação financeira do Inter é difícil, mas o clube está implementando mediadas para aumentar as receitas e reduzir as despesas. Com isso, se fará frente à dificuldade enfrentada atualmente. Além disto, reduções importantes de despesas foram feitas em 2017 e que terão reflexo ainda em 2018 no clube — disse Giovane Zanardo, diretor executivo de finanças do Inter.
Especialistas em análises de contas dos clubes brasileiros se mostraram impressionados com a dívida líquida do Inter, na casa dos R$ 700 milhões. De acordo com Zanardo, boa parte disto se refere à parceria de 20 anos entre Inter e Brio, formalizada em 2014, para a reconstrução do Beira-Rio.
— Por orientação da auditoria externa (BDO) contratada pelo clube, e de um segundo parecer, foi necessário reconhecer a totalidade de benfeitorias realizadas no complexo Beira-Rio, e entregue em 2014. São aproximadamente R$ 350 milhões a mais no ativo e no passivo do clube. Este passivo não significa obrigação financeira. Será pago apenas com a cessão de espaços do complexo Beira-Rio para a exploração comercial pelo período de 20 anos — comentou Giovane Zanardo.
Além do déficit recorde de R$ 62,5 milhões em 2017, há outros números preocupantes para o clube. O Inter tem um passivo de R$ 362 milhões a serem pagos em um prazo de 12 meses. Ocorre que o planejamento colorado prevê uma arrecadação de R$ 350 milhões. Ou seja: inferior ao que deve. Segundo integrantes da gestão 2016, o déficit do clube naquela temporada foi de R$ 973,7 mil. Em março do ano passado, porém, o atual presidente Marcelo Medeiros já previa um déficit de pelo menos R$ 58 milhões, relativo sobretudo à herança de 2016 em contas atrasadas, dívidas com fornecedores e empréstimos bancários.
O clube luta para manter a folha dos jogadores em dia, daí também o baixo investimento feito em contratação na atual temporada - dentre os 12 grandes clubes do país, o Inter foi o que menos investiu em reforços para o ano, com menos de R$ 20 milhões em jogadores.
Conforme os números apresentados, o clube também teve uma arrecadação menor com a TV, passando dos R$ 154,4 milhões em 2016 para R$ 107 milhões na Série B de 2017. Ganhou menos também com os sócios: de R$ 61,7 milhões para R$ 55,7 milhões. A receita de publicidade também foi reduzida — afinal quem deseja investir em um clube na Segunda Divisão?: de R$ 5,4 milhões em 2016 para R$ 3,3 milhões.
Toda esta crise financeira levou o clube a trocar parte das dívidas do Profut e migra-las para o Pert (Programa Especial de Regularização Tributária), a fim de obter maiores vantagens. E seguir pagando os R$ 109 milhões em históricas dívidas fiscais e tributárias com a Receita. Ainda que o Inter não tenha se pronunciado oficialmente sobre a troca de programa, uma das "falhas" que pode levar um clube a perder o Profut (e o parcelamento em 20 anos, além de redução de dívidas) é a antecipação de receitas.
— Com relação às dívidas fiscais do clube, é preciso esclarecer que o Inter continua no Profut. Houve apenas a migração de cerca de 20% do saldo devedor para o Pert em função de melhores condições econômicas oferecidas pelo programa (como menores juros e multas) — afirmou Zanardo.
Nos bastidores, se diz que tal medida foi tomada também para que a gestão não fosse considerada "temerária", correndo o risco de o presidente Marcelo Medeiros se tornar inelegível - o que seria um desastre para o Movimento Inter Grande (MIG), sobretudo em um ano eleitoral.
Mesmo com este novo recorde histórico, a gestão fez ajustes em 2017. Apesar de toda a crise e a falta de dinheiro, a receita do clube subiu 26%. Porém, a direção também cometeu erros em investimentos. E para conseguir fechar o ano de 2017, precisou pedir ao Conselho Deliberativo uma suplementação orçamentária de R$ 30 milhões, além de buscar mais de R$ 20 milhões de empréstimo junto ao investidor Delcir Sonda.
Uma das tentativas do clube de buscar novas receitas é a venda de jogadores. Ainda que desvalorizados pela disputa da Série B de 2017, e em uma temporada atual sem conquistas, o clube poderá vender até dois jogadores na janela de agosto: William Pottker e Rodrigo Dourado. No planejamento do Inter está a previsão de arrecadar até R$ 127 milhões em negociações de atletas, algo que parece impossível no momento.