O Grêmio aposta suas esperanças na confirmação de que Luis Suárez repita em Porto Alegre a trajetória de 16 anos de sucesso na Europa. Quinto maior artilheiro do mundo em atividade, com 529 gols, o novo camisa 9 tricolor, surpreendentemente, chega ao Brasil em busca de afirmação. A cobrança também ocorre por parte do próprio jogador. Minutos depois da festa de recepção em frente ao torcedor gremista na quarta-feira (4), o centroavante participou de sua primeira entrevista como jogador do Grêmio.
— Muitas pessoas duvidam que posso jogar nesse futebol. Gosto de ganhar e quero continuar ganhando. Quero que os jovens do Grêmio vejam que um jogador com 36 anos ainda pode jogar. Quero seguir ganhando, com prazer de jogar futebol — disse.
Revelado nas categorias de base do Nacional-URU, Luis Suárez confirmou cedo o status de promessa. Em sua segunda temporada como profissional, com apenas 19 anos, foi vendido para o futebol holandês. Ficou uma temporada no modesto Groningen, antes da mudança para o Ajax. Depois, chamou a atenção do Liverpool, que o contratou em 2010. Mas só a partir de sua ida para o futebol espanhol é que alcançou o status de estrela.
A contratação pelo Barcelona foi a consagração, logo após o momento de maior pressão de sua carreira, após ser punido pela mordida no italiano Chiellini durante a Copa do Mundo de 2014. Mesmo suspenso pela Fifa por quatro meses, foi comprado por 80 milhões de euros pelo Barça.
— Fui tratado pior do que um hooligan (torcedor famoso por arruaças) . Te proibir de ir a um campo treinar, é algo que não compreendo. Sim, errei. Assumi que estava errado, assim como muitas pessoas erram na vida e isso é normal. Aceitei a suspensão, mas foi exagerado ter ficado quatro meses sem jogar uma partida oficial. Fiquei quase dois anos sem jogar pela seleção, isso não faz sentido — reclamou.
Mesmo com a imagem manchada, sua ida ao Barcelona o levou ao estrelato mundial. Formou o trio MSN, com Neymar e Messi, e participou do ataque que marcou a última década no futebol. O desmanche veio em seguida. Primeiro, Neymar foi ao PSG. Na sequência, o clube alegou crise financeira para justificar a saída de Suárez. Magoado com o tratamento, o centroavante deu o troco. Foi campeão espanhol no Atlético de Madrid na temporada 2020/2021.
Suárez também entendeu que precisava mudar. Encontrou em Diego Simeone um técnico disposto a adaptar seu posicionamento e a função tática. Aos 33 anos, o centroavante foi peça fundamental na conquista de La Liga. Quebrando uma hegemonia de seis anos de títulos de Barcelona ou Real Madrid.
— A equipe precisa ter um jogo mais associativo e se apresentar em situações mais próximas da área, que é onde ele melhor convive e é letal — disse Simeone na época.
Suárez marcou 21 gols, deu três assistências, e participou de 32 rodadas na campanha do título em 2021.
— Suárez é um dos símbolos de um título extraordinário para o Atlético. Saiu de forma traumática do Barcelona e não precisou de tempo para se adaptar ao novo clube. É amado pela torcida. A primeira metade do campeonato foi perfeita, abriu grande distância na liderança e, mesmo com a queda de rendimento na parte final, assegurou o título. Foi curto, mas intenso. Deu tudo enquanto esteve aqui. A lembrança do título espanhol sempre vai estar diretamente relacionada à chegada dele — relembra Fernando Kallás, correspondente da Reuters na Península Ibérica.
Mais adiante, sem ter os minutos que desejava, e de olho em sua participação com a seleção uruguaia na Copa do Mundo do Catar, a relação com Simeone azedou.
— O Atlético tratou como grande contratação, com enorme apoio da torcida e do técnico Simeone. Só não teve apresentação semelhante à do Grêmio porque era no meio da pandemia. Ele saiu do Atlético depois de desentendimentos com o técnico por ficar no banco. Ele queria ter ficado, mas não teve sequência — explica Kallás.
O centroavante escolheu passar o segundo semestre de 2022 no Nacional. De volta ao clube do coração e onde deu os primeiros passos na profissão, o jogador se mostrou tão decisivo quanto nos seus outros 16 anos de Europa. Marcou oito gols em 14 rodadas, e fez parte da campanha do título uruguaio.
E a esperança do torcedor gremista é que ele consiga cumprir suas próprias metas: marcar gols, conquistar títulos e seguir construindo sua história com a seleção uruguaia.