Vagner Mancini chegou a Porto Alegre na sexta-feira (15) pela manhã, teve tempo para comandar apenas dois treinamentos, mas apresentou à torcida um Grêmio diferente daquele que vinha jogando na vitória por 3 a 2 sobre o Juventude, domingo, na Arena. Se pouco pôde ser modificado em relação a peças ou sistema tático, a postura do time foi outra na estreia do novo treinador.
Primeiro, porque o Grêmio voltou a marcar três gols em um jogo após quase três meses — a última vez havia sido contra o Vitória, pela ida das oitavas de final da Copa do Brasil, em 27 de julho. Segundo, porque o time fez aquilo que a torcida esperava: marcou forte, pressionou o adversário, roubou bolas no campo de ataque e criou chances como não vinha fazendo.
Os números ajudam a exemplificar. Diante do Juventude, foram quatro grandes oportunidades para marcar, sendo três convertidas. Conforme o portal SofaScore, o Tricolor havia criado as mesmas quatro chances nos últimos quatro jogos anteriores. Também foi a partida recente em que o time mais roubou bolas, com 24 desarmes — teve 13 contra o Fortaleza, 15 diante do Santos, 18 perante o Cuiabá e 15 no confronto com o Sport.
— O Grêmio jogou com a alma que o torcedor quer. O torcedor foi fundamental e viu aquilo que ele quer ver, um time bem organizado no primeiro tempo, que soube reter a bola, ser agressivo, mas acabou caindo um pouquinho de produção, que é normal também para uma equipe que construiu o resultado e abriu uma vantagem. Nós mostramos que o time pode jogar mais, ser mais agressivo e ganhar as partidas que precisa para sair dessa situação que ainda é incômoda — destacou Mancini após o jogo.
Se o ataque melhorou, a inconsistência da defesa mantém o sinal de alerta ligado na Arena. Sem Geromel, lesionado, e Ruan, suspenso, Vagner Mancini optou por uma defesa mais experiente, com Paulo Miranda e Kannemann para iniciar o jogo, deixando Rodrigues como opção no banco de reservas. No primeiro tempo, o Tricolor quase não sofreu defensivamente. Mas, na etapa final, com o placar favorável, houve desconcentração e o Grêmio levou dois gols.
— Nessas duas semanas abertas que temos, vamos tentar corrigir os problemas. Vamos mostrar alguns errinhos básicos para os atletas, como encostar no cara dentro da área. Se tivéssemos encostado neles antes dos cruzamentos, não teríamos tomado os gols. São pontos que vamos atacar a partir de agora — esclareceu o treinador.
Assim, Mancini teve a primeira amostra do que deu certo e o que ainda precisa ser corrigido para tentar livrar o Grêmio do rebaixamento. Até o próximo jogo, contra o Atlético-GO, que será apenas na segunda-feira que vem, o técnico terá seis dias, já que na segunda-feira os jogadores tiveram folga, para melhorar aquilo que foi identificado pelo novo comandante. Confira abaixo, setor por setor, o que funcionou e o que terá de ser revisado:
Defesa
O sistema defensivo, em geral, é o primeiro que os treinadores buscam arrumar quando chegam a um novo clube. E será dessa forma que Vagner Mancini terá de trabalhar no Grêmio, afinal, foram 12 gols sofridos nos últimos seis jogos, média de dois por partida.
Ao menos inicialmente, Mancini indicou que não pretende utilizar três zagueiros. O técnico citou, na entrevista, que evitará grandes mudanças táticas às quais os jogadores não estão muito acostumados. Por isso, sem Ruan contra o Juventude, o técnico apostou na experiência de Paulo Miranda ao lado de Kannemann, deixando Rodrigues no banco. Porém, de acordo com Adilson Batista, zagueiro campeão da Libertadores e do Brasileirão pelo clube, e ex-treinador do Grêmio, não está nos nomes o problema defensivo da equipe.
— O Ruan e o Rodrigues têm crescido, têm evoluído, são zagueiros de bom potencial. Mas o setor defensivo é o todo, a estrutura, a organização, a proteção. O Paulo Miranda também tem experiência, é bom zagueiro. Não acho que o Grêmio tenha problema de peças para a posição, todos são confiáveis, é muito mais de alguma situação, coberta que não está funcionando e precisa ser corrigida — destacou o "Capitão América", companheiro de equipe de Mancini no Tricolor em 1995.
Meio-campo
A formação utilizada por Mancini na estreia, com Thiago Santos, Villasanti e Jean Pyerre, deve ser mantida para a próxima partida. O treinador elogiou a intensidade dos meio-campistas e explicou as preferências para o jogo contra o Juventude:
— Escolhi jogar com um volante e dois meias porque eu queria um time com agressividade, para trazer o estádio a nosso favor. Ao longo do tempo a gente vai percebendo qual esquema se encaixa melhor.
Quanto a Jean Pyerre, o comandante gremista ressaltou que o considera uma peça importante, especialmente pela qualidade técnica e capacidade de decidir o jogo em um bola, seja com um passe ou uma finalização. Contudo, salientou que será preciso trabalhar nos treinamentos os pontos em que o atleta ainda tem de evoluir.
— Vejo o Jean Pyerre com um técnica acima da média, ele só precisa acelerar o jogo em determinados momentos. Isso será treinado. Pedir fica muito fácil, tem de treiná-lo para isso, tem de trabalhar o específico do atleta. Não adianta eu pedir um time de transição se eu der treino de posse de bola. O jogador responde àquilo que é feito durante a semana. Para cada atleta, já bati o olho e vi o que tem de melhorar — garantiu Mancini, que justificou não ter utilizado o colombiano Campaz porque ainda conhece pouco do atleta e, pelas poucas atividades que comandou desde que chegou ao clube, ainda não teve chance para observá-lo de perto.
Ataque
Uma das principais dores de cabeça para o treinador será escolher as peças para o ataque. Na estreia, mandou a campo a equipe com Douglas Costa aberto pela direita, Diego Souza centralizado e Alisson pela esquerda. Viu seu time marcar três gols depois de 16 jogos e ainda pôde observar, no segundo tempo, Ferreira e Elias, pedidos pela torcida.
O analista de desempenho e comentarista esportivo Gustavo Fogaça concorda com as escolhas do treinador. Na avaliação dele, Diego Souza será o titular na ausência de Borja, lesionado, e Alisson não pode sair do time titular.
— Nas extremas, o Douglas Costa, apesar dos problemas físicos, tem uma qualidade indiscutível. O Alisson, pra mim, é um jogador muito importante para o Grêmio, que tem de ser titular sempre. E o Ferreira talvez possa ser como o Denilson na Copa de 2002, que entrava para mudar o jogo, achar espaços. Não montaria a ideia do time com esse jogador, porque ele perde muitas bolas e toma decisões erradas, embora tenha capacidade de entrar e mudar o jogo — avalia Fogaça, que acredita na permanência de Diego Souza como titular enquanto Borja se recupera de lesão:
— O centroavante vai ser o Diego Souza, primeiro porque ele é o goleador do Grêmio na temporada (18 gols). Segundo por ser um líder, por ter casco para aguentar a pressão. E o Mancini ainda pode trabalhar as bolas paradas com ele, que tem bom cabeceio, ainda mais tendo bons batedores, como Douglas Costa, Jean Pyerre e Rafinha.