Natural de Goiânia, Raquel Teixeira assumiu a Secretaria de Educação do Estado (Seduc) no fim de março. Antes de aceitar o convite para comandar a pasta, atuava como coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação de São Paulo no governo de João Doria. Sobre 2020, tem conhecimento de como ocorreu o ensino no Estado por meio de informações repassadas pela pasta. No entanto, acompanhou de perto situação semelhante no Estado paulista. Sobre o sistema remoto, diz que “se mostrou mitigador de danos” que seriam ainda maiores se as aulas simplesmente ficassem suspensas. Admite, no entanto, que não é o ideal para o aprendizado dos alunos.
— Nada substitui a escola presencial quando se trata de Educação Básica. No Ensino Superior, é outra realidade. O que ficou muito claro na pandemia é que a escola presencial é insubstituível, o professor é insubstituível. E o que ficou comprovado no Brasil é que o ensino remoto é extremamente precário — destaca a secretária.
Raquel diz que a pandemia escancarou as desigualdades, como a falta de acesso a equipamentos tecnológicos e à internet, por exemplo.
— É claro que uma criança de nível socioeconômico elevado que tem seu quarto próprio, que tem a sua escrivaninha de trabalho, com seu notebook, seu Ipad e smartphone, e família que ajuda e que apoia é muito diferente de uma criança, de um jovem de uma periferia vulnerável, onde muitas pessoas moram, às vezes numa casa pequena, que um celular é o único da família — exemplifica.
A secretária ressalta a importância do retorno presencial.
— O ensino remoto em que 83% das aulas acontecem por WhatsApp, mesmo para quem não é da educação, fica claro que não é um sistema sustentável — argumenta.
Raquel diz que o sistema híbrido de ensino, que não é algo novo, mas que será usado na rede estadual veio para ficar. Ressalta que, nesse método, o aluno é colocado no centro do processo. Lembra que o ensino tradicional é focado no professor e no ensino.
— A educação moderna é focada no aluno e na aprendizagem. O ensino híbrido que vai surgir da pandemia vai ser variado, mas vai ter como DNA a variedade de atividades. Ele não tem que ficar só com a atividade síncrona — defende.
Como exemplo, Raquel diz que o aluno poderá ficar três horas na atividade presencial e uma hora com atividades remotas. Diz que é um processo que ainda está em construção e que é um desafio neste momento. Admite que para isso ocorrer de forma adequada, é preciso infraestrutura tecnológica nas escolas.
— Nós temos que ter internet em todas as salas de aula de todas as escolas do Estado. Essa é a primeira demanda. A segunda é que o professor precisa ser capacitado nessa nova forma de colocar o aluno no centro do processo — ressalta.
Sobre as condições das escolas para retomada presencial, Raquel diz que o Estado está tomando todos os cuidados possíveis.
— A gente tem protocolos bastante rígidos que, se seguidos, têm todas as condições de um retorno seguro — resume Raquel.
A orientação passada pela secretaria às escolas é que alunos que estejam com dificuldades de acesso às aulas remotas possam ser os primeiros a voltar presencialmente.
2021 com problemas, apesar do aprendizado de 2020
Presidente do Cpers, o sindicato dos professores do Estado, Helenir Aguiar Schürer classifica 2020 como um ano de aprendizado também para os docentes. O uso da tecnologia para fins educacionais precisou fazer parte da rotina, mesmo que muitos não tivessem esse conhecimento. Avalia que a fase de adaptação ao sistema passou, mas reclama que 2021, apesar dos ensinamentos deixados em 2020, começou com problemas semelhantes.
— Falta de instrumentos para as crianças. Os professores tendo que pagar a sua internet e as suas condições para dar aula, que geraram mais custos para os trabalhadores — relata Helenir.
A dirigente sindical considera problemático voltar às aulas presenciais neste momento. Argumenta que o governo do Estado poderia esperar mais um pouco já que a categoria conseguiu o que ela classifica como “melhora das atividades remotas”. Outro ponto de preocupação citado por Helenir é com o aprendizado dos alunos.
— Nós temos consciência que, no ano passado, ficaram lacunas. Esse ano, durante as aulas remotas, e mesmo com as aulas presenciais que serão híbridas, ficarão lacunas ainda para os alunos. E a gente não vê o governo fazer um plano de recuperação que precisará ser feito para que esses alunos cheguem todos no mesmo patamar – argumenta a dirigente, dizendo que o Cpers se coloca à disposição do governo para contribuir com a elaboração do plano.
Perguntada quando a categoria entende como adequada a volta às aulas presenciais, Helenir diz que, em primeiro lugar, é preciso baixar os índices da pandemia.
— Ainda a contaminação é muito alta, as mortes são muito altas. Nós recém começamos as aulas presenciais e já temos notícias de três escolas no município de Portão que já têm infectados. Nós achamos que foi muito antecipada a volta — sustenta a professora.
Outra reclamação é sobre as condições inadequadas de algumas escolas para os cuidados necessários para evitar o contágio, como pouca ventilação, corredores estreitos que impedem o distanciamento e máscaras consideradas ruins, por exemplo. Diz que se não for possível antecipar a vacinação dos professores, então que tenha testagem para ingresso nas escolas.
Em relação à atividade híbrida a partir de agora, Helenir diz que a entidade está orientando os professores a não trabalharem além da carga horária contratual.
— É óbvio que vai extrapolar a carga horária dos professores. Nós já temos um salário extremamente defasado, estamos tendo custos a mais por causa das aulas remotas. Só o que falta o governo exigir que os professores trabalhem além da carga horária – ressalta Helenir.
Números da rede estadual de ensino
- 790 mil alunos
- Cerca de 60 mil professores
- 289 mil alunos no Ensino Médio
- 78 mil estudantes no 3o do Ensino Médio
- Dos 790 mil alunos matriculados na Rede Estadual de Ensino, 660 mil (82%) acessaram à plataforma de atividades remotas do governo.
- Dos 33,2 mil professores que atuam diretamente em sala de aula, 33 mil (98%) ativaram as suas contas educacionais.
- Dos 50 mil chromebooks adquiridos pelo Estado, foram entregues 40 mil até o momento. Os demais estão sendo distribuídos até o final do mês de maio.
- O governo do Estado adquiriu e entregou mais de R$ 15 milhões em Equipamentos de proteção Individual (EPIs) e materiais de higienização para todas as escolas da rede pública estadual.