Adotado de maneira emergencial diante da necessidade de distanciamento social, o ensino remoto tem evidenciado as desigualdades existentes entre as redes pública e privada de educação no Rio Grande do Sul. E, diante desse desafio, somado à falta de perspectiva sobre um retorno presencial às aulas, o Estado pode estar se encaminhando para um "apagão educacional".
É o que aponta o Comitê Popular Estadual de Acompanhamento da Crise Educacional no Rio Grande do Sul, que apresentou, na sexta-feira (31), a primeira etapa dos resultados de uma pesquisa voltada a mapear as necessidades e impactos da pandemia, assim como as condições de segurança para o retorno às salas de aula.
A pesquisa revelou que, enquanto 93% dos pais ou responsáveis afirmam que seus filhos têm aula neste momento de pandemia na rede privada, a realidade no ensino público é bem diferente. Entre os pais ou responsáveis, 22% disseram ter algum filho sem aula remota na rede municipal e 13% declararam ter algum filho da rede estadual sem conseguir fazer atividades online.
Os dados foram coletados entre 23 e 28 de julho por meio de um questionário online. Entre os mais de 6 mil acessos, foram validadas 2,2 mil respostas.
— Já nas primeiras análises foi possível perceber que estamos em um momento de apagão educacional tanto nas redes públicas como na rede privada — ressalta a socióloga Aline Kerber, integrante do comitê e uma das responsáveis técnicas pela pesquisa.
Aline destaca que 53% das famílias afirmam que a renda da casa diminuiu e 27% estão em situação de desemprego. Outro dado preocupante é que 22% das famílias dizem deixar os filhos sozinhos em casa e 13% mencionam que os filhos ficam com familiares/amigos/vizinhos maiores de 18 anos.
A pesquisa apontou ainda que 59% dos alunos das escolas estaduais e 47% das municipais dizem ter computador, enquanto na rede privada mais de 96% dos estudantes possuem o equipamento. Ao todo, 80% das pessoas que responderam dizem ter acesso à internet wi-fi e 43,5% têm internet no celular. Mas, quando observado de forma segmentada, nas escolas municipais isso significa que apenas 14% dos estudantes têm banda larga, percentual que na estadual chega a 20%, enquanto na rede privada 49% dos estudantes têm banda larga.
Segunda parte
A segunda parte da pesquisa deve ser divulgada nesta semana, e o relatório final estará disponível a partir de 31 de agosto. Os resultados serão oficiados a todos os órgãos públicos com pedidos de reunião, para que seja possível debater o estudo. A pesquisa contou com o apoio de entidades sindicais ligadas à educação no Estado, como Cpers Sindicato, Assers, Aoergs, Simpa, Sinpro RS, FGEI e Sinasefe-IFSul.
De acordo com as entidades que compõem o Comitê Popular Estadual de Acompanhamento da Crise Educacional no Rio Grande do Sul, qualquer decisão sobre as condições de retorno às aulas presenciais deve ser deliberada com a participação de toda a comunidade escolar e acadêmica do Estado, em articulação intersetorial com as áreas da economia, da saúde, da cultura, do lazer, da segurança, da assistência social e respeitando a pluralidade da sociedade gaúcha.