As aulas devem voltar em 22 de fevereiro na maior parte das escolas privadas do Estado e nas municipais de Porto Alegre. Algumas instituições particulares da Capital já retomaram as atividades em 10 de fevereiro e outras recomeçarão nesta quarta-feira (17) em meio a um afrouxamento nas regras de controle da pandemia.
Uma mudança no modelo de distanciamento controlado passou a permitir que as aulas presenciais funcionem até a bandeira vermelha – na cor preta, as atividades ficam suspensas. Em outra alteração, um decreto publicado no final da tarde de segunda-feira (15) pelo governo do Estado revogou a norma que previa limite de 50% de ocupação de salas de aula para a realização de atividades presenciais em creches, escolas e universidades no Rio Grande do Sul. A limitação passará a ser calculada mediante a distância entre as classes, que deverá ser de, no mínimo, 1,5 metro.
GZH ouviu o infectologista pediatra Marcelo Comerlato Scotta, do Hospital Moinhos de Vento, e a psicóloga Giuliana Chiapin, mestre em saúde mental e desenvolvimento infantil pela Tavistock Clinic/Londres. Eles responderam questões sobre a volta às aulas e orientam os responsáveis pelos alunos quanto ao retorno às atividades presenciais em sala de aula. Confira:
Marcelo Comerlato Scotta
Infectologista pediatra do Hospital Moinhos de Vento
Quais medidas sanitárias os pais e os alunos devem observar e cobrar das escolas?
O principal é o distanciamento adequado, o uso de máscara e a higienização das mãos e do ambiente. O uso de máscara é importante para o bloqueio da transmissão da doença e é recomendado acima dos dois anos de idade. Se houver uma contraindicação médica de uso de máscara, o ideal é que a família da criança discuta com o pediatra essa indicação. Sem o uso, aumenta o risco de contágio dela e dos colegas.
O recomendado é levar mais de uma máscara para a escola?
Sim. A recomendação de troca de máscara é a cada três ou quatro horas. Porém, se ela estiver úmida ou suja antes desse período, deve ser trocada. O ideal para um período de aula é que se leve três máscaras.
No caso do distanciamento, qual a recomendação na escola?
Em atividades com uso de máscara, o recomendado é um metro e meio de distância. Em atividades em que seja necessário tirar a máscara, como o momento do lanche, deve ter uma distância de dois metros entre os alunos e em ambiente bem ventilado.
E sobre o ar-condicionado em sala de aula?
O ideal é não usar e manter as janelas abertas, usando a ventilação natural. Estamos vivendo uma época de calor, mas deve durar mais um mês.
Quais cuidados específicos para atividades em geral na escola?
Todas as atividades que geram aglomerações nas escolas, como esportes coletivos, devem ser evitadas. Os recreios devem ser escalonados para não reunir todas as turmas ao mesmo tempo.
E na volta da escola, é necessário higienizar todo o material e trocar a roupa que veio da rua?
Esse meio de transmissão indireto, provavelmente, é pouco frequente. Mas, ainda assim, recomendo que haja uma troca de roupa e que estes objetos que voltarão da escola fiquem em ambiente separado e não sejam manipulados em casa.
Psicóloga Giuliana Chiapin
Mestre em saúde mental e desenvolvimento infantil pela Tavistock Clinic/Londres
Devo ou não levar o meu filho à escola?
A decisão de levar ou não o filho à escola por questões de segurança e saúde lembra o mesmo dilema de "qual escola vou matricular o meu filho?". É uma decisão pessoal de cada família ou grupo familiar, baseada nas orientações dos infectologistas e de outros profissionais de saúde e observando a situação atual da cidade e da escola. Por isso, é uma decisão pessoal e singular, e não porque a vizinha decidiu levar, o grupo de amigos está levando. Cada família tem o seu contexto. A reflexão, neste momento, é "o que me deixa mais seguro e confortável". Os responsáveis devem avaliar como a criança ou o adolescente está lidando com a tecnologia, se o emocional está mais prejudicado pelo tempo de confinamento, se a criança conseguiu criar uma rotina de estudo mesmo em distanciamento.
Como os pais podem ajudar os filhos nesta retomada?
Quanto mais coerente está sendo essa decisão para as necessidades e para o contexto da família, mais fácil fica de argumentar e convencer o filho a retomar os estudos presenciais. Assim como qualquer tema polêmico, a volta às aulas precisa ser conversada abertamente com o filho, mesmo com os pequenos. Ficamos quase um ano protegendo a criança, dizendo que era perigoso ir à rua e, de uma hora para outra, ela tem que voltar à escola. É preciso que eles entendam o que modificou, o que a escola está preparando, por que os pais agora acreditam que esteja menos perigoso e quais os cuidados necessários. É importante que ocorra essa conversa para mostrar à criança o motivo de ela estar voltando, seja para interagir e rever os amigos ou para sair de casa, ou por qual motivo ela ainda não voltará ao presencial, mesmo com a maioria voltando. É um outro dilema das famílias que optarão por manter os filhos em casa, que verão os colegas em aula e ele, não. É importante o cuidador ter bem claro o motivo da sua decisão para ter argumentos.
É possível fazer um teste inicial? Levar ou não e, na sequência, mudar de opinião?
É possível trabalhar com flexibilização, neste momento. Pelo fato de não ter uma resposta exata, vale a experimentação para tudo. Não temos a garantia de muita coisa. Então, o melhor é trabalhar semana a semana, mês a mês. Tudo pode ser recombinado. Inicialmente, a criança pode não ir à escola de forma presencial. Mas, com o tempo, os pais percebem que a situação está sob controle e ela já pode voltar a frequentar o ambiente escolar. Ou o contrário: a criança começar indo e ter que voltar ao estudo a distância por alguma questão familiar. É melhor ir estudando o cenário e reavaliando, sem culpa. Se tem uma coisa que a pandemia nos mostrou é que não há mais acertos ou erros exatos.
Como os pais podem convencer os filhos (pequenos e adolescentes) sobre a importância da máscara?
A questão não é trabalhar o uso da máscara, mas como nos cuidamos. É o mesmo que escovar os dentes, manter a roupa limpa, não comer comida estragada e como preservo o ambiente em que eu vivo e as pessoas à minha volta. Precisa fazer parte da rotina e tentar tornar essa situação a mais natural possível. É preciso entender que a máscara é um ato de amor e de cuidado. E ela é um ato singular e coletivo: usa-se máscara para proteger-se e para cuidar dos outros. Quando ampliamos o olhar, não fica focado apenas no objeto máscara. É desagradável, sabemos, mas quando ampliamos para além do pano no rosto, mostrando o significado dele, faz todo o sentido para as crianças. E elas passam a chamar a atenção dos adultos e se tornam vigilantes daquilo. É importante que os pais tenham cuidado com o tipo de máscara que vão dar para as crianças. Comprar máscara para os filhos é como comprar sapato, tem que ser o tamanho exato e tem que encaixar. É como usar óculos.