
Com a suspensão das aulas presenciais devido à covid-19, as escolas precisaram se reinventar para tentar manter o ano letivo. Passados 11 meses do primeiro caso da doença na cidade, em um ano marcado pela retomada das atividades em algumas escolas seguindo uma série de restrições, 2021 ainda exige adaptação dos professores. O retorno das aulas em Caxias do Sul traz de volta conceitos debatidos no cenário da educação em meio à pandemia. Outro ponto são as diferenças entre os tipos de ensino que seguem este ano como alternativa nas escolas e universidades. São eles: a distância, chamada de EAD, híbrido, que é o remoto e o presencial.
É preciso esclarecer que EAD e ensino remoto, modalidade implantada hoje nas escolas para fazer com que o conteúdo chegue até o aluno, não são a mesma coisa. O ensino remoto é parecido com a EAD apenas no que se refere a uma educação mediada pela tecnologia. No entanto, os princípios seguem os mesmos da educação presencial. Na educação a distância, o apoio dos professores não ocorre em tempo real e a carga horária pode ser diluída em diferentes recursos midiáticos. Já o remoto conta com o presencial e o online, que é chamado de híbrido.
Se antes o estudante tinha a sala de aula como um ambiente de aprendizagem, onde adquiria conhecimento, hoje ele pode aprender de qualquer lugar. Basta que esteja conectado à internet. Como foram impedidas da noite para o dia de continuar com aulas presenciais, as instituições de ensino passaram as aulas presenciais para o ambiente virtual.
A educação já passava por uma transformação, mas a pandemia acelerou esse processo. E de acordo com pesquisadores, no futuro, os cursos mais procurados serão os híbridos, que mesclam momentos presenciais e atividades executadas de forma remota. Contudo, os especialistas também defendem que o ensino remoto não é para substituir o presencial e, sim, para que os alunos tenham liberdade de escolha, mas sigam o contato em sala de aula.
Entenda os conceitos
:: Ensino remoto: envolve aulas síncronas. Ou seja, aulas ao vivo acontecendo no mesmo dia e horários que seriam as aulas presenciais. Ocorrem interações com os alunos para o esclarecimento de dúvidas, as aulas podem ser gravadas, mas a ideia é ter o mesmo conteúdo e a mesma dinâmica do ensino presencial. As avaliações são feitas por todos os alunos ao mesmo tempo e por meio digital.
:: Ensino a Distância (EAD): os alunos têm a liberdade de assistir a aula de acordo com sua disponibilidade de rotina, pois elas são gravadas e disponibilizadas na plataforma da instituição. As dúvidas podem ser esclarecidas com um tutor, que poderá fazer atendimento via e-mail, mensagem, fóruns de dúvidas, entre outras. As avaliações tem um prazo determinado e encontram-se disponibilizadas para que o aluno possa realizar no momento que preferir.
:: Ensino Híbrido: mescla o ensino online e o presencial de forma contínua e um complementa o outro. Geralmente o aluno recebe, através da plataforma da instituição, um material para fazer a leitura e preparar-se para o encontro com o professor, enriquecendo a aula com discussões. Com esse modelo de ensino, o aluno cria a própria autonomia pois pode buscar conhecimento em outros materiais.
Especialistas avaliam ensino híbrido
A especialista em Gestão Educacional e mestre em Formação de Professores da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Flávia Fernanda Costa, explica que é preciso situar, principalmente, o conceito de ensino híbrido, que foi o modelo que surgiu com força em meio à pandemia e tem aparecido em debates sobre a educação, mas é um conceito conhecido e pesquisado entre os educadores. Para ela, essa metodologia precisa ser avaliada de forma qualitativa e não apenas como uma alternância de momentos presenciais e remotos na aprendizagem dos estudantes:
— Esse conceito é superficial. O ensino híbrido pressupõe para além desta possibilidade de organizar a vida escolar ou a vida acadêmica dos estudantes, uma metodologia educacional. E ele precisa ser pensado sob o ponto de vista de que o professor deve organizar as experiências de aprendizagem de tal forma que o estudante siga o processo de aquisição de conhecimentos para além dos momentos presenciais. Ou seja, para além da sala de aula mediada pelas tecnologias, com o uso de plataformas digitais.
Isso ocorre por meio de ferramentas que possibilitam a interação e criam um espaço de cooperação entre os alunos para que eles tenham contato um com o outro. Além disso, conecta o aluno ao chamado objeto de aprendizagem. Esse aprendizado tem que criar experiências que ultrapassem as salas de aula. O espaço físico também precisa ser ressignificado, porque ao chegar em aula ele tem que ter experiência significativas.

— Esse encontro tem que se propositivo, desafiador. Que seja um espaço de diálogo e de interação. Não cabe mais aquele espaço em que o professor se coloca como centro do processo, aquele modelo tradicional de ensino. Nesta perspectiva do ensino híbrido aproveitamos todas as atividades que podem proporcionar aquisição do conhecimento além da sala de aula — explica ela.
Flávia ressalta que o potencial desse modelo é a possibilidade de modificar a sala de aula e transformar a educação:
— Significa repensar o papel do professor e do estudante. O professor tem que entender que ele tem que ser um mobilizador de aprendizagem, tem que ser o sujeito que vai desafiar os estudantes. Hoje, temos falado de curador de conteúdos porque irá selecionar os materiais e as estratégias mais adequadas. O estudante, por sua vez, tem que ter mais autonomia, de protagonismo no seu processo de aprendizagem. Essas palavras estão conectadas com um modelo inovador de educação. Vejo que o ensino híbrido tem potencial de transformar, de romper com a centralidade e com o modelo tradicional de educação.
Para a mestra em educação, especialista em Psicopedagogia em Gestão Organizacional, Administração Escolar, Supervisão e Orientação, licenciada em Matemática e Física e assessora pedagógica no Centro Universitário UNIFTEC, Alexandra Cemin, o modelo híbrido qualifica o ensino:

— Sinto saudades do ensino presencial, do olhar atento dos alunos, da conexão que ocorre no presencial. Mas acredito que o ensino híbrido veio para tornar o processo de ensino e aprendizagem mais eficazes. Agora, sim, estamos no século 21.
Para ela tanto professores quantos estudantes passaram por um processo intenso de evolução, e a educação por uma transformação.
— Sinto-me ora ansiosa, outrora feliz com a transformação do ensino. Essa ruptura na forma de ensinar e aprender nos ensinou muito. Sofremos com a tecnologia, que nem sempre funciona. Alguns alunos não possuem acesso, outros se distraem por estarem distantes, mas desenvolvemos habilidades com ferramentas tecnológicas que são muito úteis para a compreensão e o engajamento dos alunos — afirma ela.
A especialista avalia que a pandemia permitiu outra forma de interação:
— Compartilhamos momentos com nossos animais de estimação e familiares. O meu gato Algodão estava presente em todas as aulas de Equações Diferenciais, em Cálculo numérico, em Computação para Engenharia. O carinho dos alunos para com ele foi a conexão mais incrível das nossas aulas. Conheci lindos cães, gatos, pássaros, plantas, jabutis, peixes e tantas outras coisas lindas compartilhadas nas lives comigo e com os colegas. Compartilhamos o que existe de mais bonito nas nossas vidas, o que nos faz felizes enquanto não estamos trabalhando e estudando. Foi maravilhoso conhecer os filhos dos meus alunos, seus familiares, suas casas, seus esportes, sua vida como ela é. Em meio a pandemia, foi o que nos deu ânimo e desejo em preparar aulas excelentes.