Com a reabertura da economia, o número de pessoas afastadas do trabalho passou a cair no Rio Grande do Sul. Em agosto, o Estado tinha 227 mil pessoas sem exercer sua ocupação profissional devido ao distanciamento social.
A marca representa baixa de 35,9% em relação a julho (354 mil). Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número de agosto é o menor já registrado durante a pandemia pela pesquisa Pnad Covid-19, iniciada em maio. As 227 mil pessoas ainda afastadas superam a população de um município do porte de Rio Grande, na região sul do Estado (211,9 mil habitantes).
A Pnad Covid-19 foi lançada pelo IBGE para dimensionar os efeitos do coronavírus no mercado de trabalho e na área da saúde. Em maio, o número de ocupados que estavam afastados devido ao isolamento era de 631 mil — quase o triplo do resultado do mês passado.
— Com a flexibilização das medidas de distanciamento, mais pessoas estão retornando ao trabalho — diz Luís Eduardo Puchalski, gerente substituto de pesquisa do IBGE.
A metodologia usada no estudo considera que um profissional está ocupado quando tem uma vaga formal ou informal. Ou seja, quem exerce os populares bicos também entra na conta de empregados.
Segundo Puchalski, a parcela afastada em razão da pandemia pode contemplar, por exemplo, ambulantes que deixaram de vender produtos nas ruas. Além disso, membros de setores que seguem fechados ou em dificuldades para retomar operações, como o ramo de eventos, também podem integrar o grupo.
— Há casos de informais que não estavam vendendo no centro da cidade e, agora, estão retornando ao trabalho — relata Puchalski.
O movimento verificado no Rio Grande do Sul pega carona em tendência nacional. Com a reabertura da economia, o número de afastados no país, em razão do distanciamento, caiu para 4,1 milhões em agosto — menor patamar já registrado desde o início da pesquisa. Em maio, eram 15,7 milhões.
Professor da Unisinos, o economista Guilherme Stein também avalia que a redução no grupo espelha a retomada de atividades produtivas. Por outro lado, acrescenta que parte dos afastados pode ter perdido a ocupação durante o isolamento. Assim, deixaria de integrar a parcela dos empregados.
Em agosto, o número total de ocupados foi de 5,092 milhões no Estado. A marca engloba profissionais que seguiram em suas funções e empregados que não conseguiram atuar em razão da pandemia. Frente a julho (5,080 milhões), o resultado indica relativa estabilidade. Mas, ante maio (5,260 milhões), o número é 3,2% menor.
— Parte da queda no número de afastados, certamente, está relacionada à reabertura da economia. Mas também pode ter parcela que perdeu o emprego — avalia Stein.
Além dos afastados por causa do distanciamento, o IBGE divulga o número de ocupados longe de suas atividades devido a outras razões, como pedidos de licença e férias. Em agosto, esse contingente foi estimado em 188 mil pessoas.
Na visão de analistas, a tendência é de que, a partir da retomada de atividades, o número de afastados siga em baixa nos próximos meses. Em caso de segunda onda de contaminações por coronavírus, o movimento pode se inverter.
O IBGE informou ainda que, em agosto, o número de desempregados no Estado foi de 562 mil. A marca representa recuo de 1% frente a julho (568 mil), mas é superior ao patamar do início da pandemia. Em maio, eram 480 mil desocupados no Rio Grande do Sul.
Conforme a metodologia do instituto, uma pessoa está desempregada quando perde o trabalho, mas segue em busca de novas oportunidades. Se não procurar novo emprego, ainda não aparece na estatística. Em agosto, o Estado tinha 927 mil profissionais sem ocupação que não buscaram vagas, apesar do desejo de voltar a atuar – o maior número da série iniciada em maio.
Alívio e incerteza
O cenário para o mercado de trabalho carrega tanto sinais de alívio quanto de preocupação para os próximos meses. De um lado, a reabertura de empresas gera alento após prejuízos causados pela pandemia. De outro, incertezas relacionadas à velocidade da retomada econômica deixam especialistas em alerta.
Em períodos de crise, o mercado de trabalho costuma ser uma das últimas variáveis a reagir. É que a geração de empregos depende da recuperação da economia como um todo.
Sem grande demanda por produtos e serviços, empresas não costumam fazer contratações em larga escala.
Professor da Unisinos, o economista Guilherme Stein entende que será preciso “esperar um pouco” até que exista clareza sobre todos os impactos do coronavírus na economia:
— Embora tenha sido menos intenso em parte das atividades, o efeito da pandemia parece devastador para alguns setores.
É preciso esperar um pouco para saber o impacto na estrutura produtiva, além dos reflexos na retomada do emprego. O problema é que empresas sumiram com a pandemia.
Professor da Pós-Graduação em Economia da UFRGS, Fernando Ferrari Filho ressalta que a tendência é de elevação no desemprego nos próximos meses, já que mais pessoas devem voltar a procurar vagas. Ele lembra que, a partir do próximo ano, um desafio adicional será a perda de fôlego em programas de estímulo à atividade econômica.
O governo federal argumenta que medidas como o auxílio emergencial devem deixar de existir em 2021, em razão das dificuldades fiscais. Diante desse cenário, o professor relata ser “pouco provável” uma grande retomada no nível de emprego já no próximo ano. Na visão de Ferrari Filho, as dificuldades tendem a levar mais pessoas para o trabalho informal, pelo menos no curto prazo.
— A informalidade deve crescer — frisa o professor.