A combinação indigesta entre pandemia e estiagem castigou a economia gaúcha no segundo trimestre. Em relação ao período de janeiro a março, o Produto Interno Bruto (PIB) desabou 13,7% no Rio Grande do Sul. Frente ao segundo trimestre de 2019, o tombo foi ainda maior. Nesse tipo de comparação, o PIB despencou 17,1%.
Os resultados representam as maiores quedas da série histórica, com dados desde 2002. Também significam retrações mais intensas do que as verificadas no país — de 9,7% e 11,4%. O Departamento de Economia e Estatística (DEE) divulgou as informações nesta sexta-feira (18).
Após atingir o fundo do poço, a atividade tende a apresentar melhora nos meses seguintes. Mas a velocidade de reação ainda representa uma incógnita. É que o horizonte carrega tanto sinais positivos quanto pontos de atenção para o PIB.
Passada a estiagem de 2020, a agropecuária encontra alívio. Com peso maior no Estado do que em outras regiões do país, o campo pode dar contribuição positiva para a retomada, especialmente no primeiro semestre de 2021 — o grande efeito da safra é registrado na primeira metade de cada ano.
Além disso, a perda de fôlego da pandemia também traz alívio, embora os números de contaminação sigam em patamar elevado.
Na apresentação do PIB do segundo trimestre, o pesquisador Martinho Lazzari, do DEE, chegou a citar a possibilidade de "recuperação em V" — queda intensa seguida de alta robusta. Na sequência, lembrou que existem incertezas no radar.
— Ainda não temos condições de dizer qual será o tamanho da segunda perna do "V" — afirmou.
Nos setores de indústria e serviços, o cenário também é de melhora a partir do terceiro trimestre. Isso não quer dizer que as dificuldades vão desaparecer, aponta Marcos Lélis, professor da Unisinos. O economista ressalta que medidas adotadas pelo governo federal, como o auxílio emergencial, devem perder fôlego ou ser encerradas nos próximos meses:
— Parte dos setores tradicionais da indústria no Estado, como o coureiro-calçadista, é muito dependente das vendas para o comércio. O desemprego deve acelerar, pode ser um limitador do crescimento da economia. Ações como o auxílio diminuíram a queda nos últimos meses, mas não resolverão a retomada. Serão necessárias novas políticas.
Professor da Escola de Negócios da PUCRS, Adelar Fochezatto também adota cautela ao projetar o cenário:
— Acho que o pior já passou, a curva da pandemia está caindo. Com isso, mais atividades econômicas estão sendo liberadas. A tendência é de recuperação, mas ainda há muita incerteza. O chamado novo normal pode prejudicar alguns setores.