A combinação indigesta entre pandemia e estiagem castigou a economia gaúcha no segundo trimestre. Em relação ao período de janeiro a março, o Produto Interno Bruto (PIB) desabou 13,7% no Rio Grande do Sul. Frente ao segundo trimestre de 2019, o tombo foi ainda maior. Nesse tipo de comparação, o PIB despencou 17,1%.
Os resultados representam as maiores quedas da série histórica, com dados desde 2002. Também significam retrações mais intensas do que as verificadas no país — de 9,7% e 11,4%. O Departamento de Economia e Estatística (DEE) divulgou as informações nesta sexta-feira (18).
Diante das perdas, o nível da produção gaúcha retornou ao patamar do primeiro trimestre de 2009. O cenário negativo já aparecia nas projeções de economistas, devido aos prejuízos no campo e nas cidades. Após o PIB tocar o fundo do poço, a perspectiva é de melhora nos meses seguintes, mas há incertezas quanto ao nível de reação.
— A principal explicação para as taxas negativas no Rio Grande do Sul e no Brasil é a pandemia. A diferença é que, no Estado, também houve estiagem — relatou Martinho Lazzari, pesquisador do DEE. — O segundo trimestre, muito provavelmente, foi o fundo do poço — acrescentou.
O DEE está vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão. Inicialmente, a apresentação dos dados estava marcada para o último dia 9. Contudo, a secretaria resolveu postergá-la, a pedido do titular da pasta, Claudio Gastal. Não houve mudança nos números que seriam divulgados, frisou Gastal.
Popularmente, o PIB é conhecido como a soma dos serviços e bens produzidos em determinada região. No acumulado do primeiro semestre, o indicador gaúcho registrou queda de 10,7%. Nos últimos 12 meses, a baixa foi menor, estimada em 5,6%.
Queda maior no campo
A agropecuária teve o pior desempenho entre os grandes setores produtivos. Com a escassez de chuva, amargou retração de 20,2% ante o primeiro trimestre. Frente a igual período de 2019, o tombo chegou a 39,4%.
Nessa base de comparação, a produção de soja despencou 39,3%, e o cultivo de milho, 27,7%. O arroz pegou a contramão, com alta de 8,3%.
— Como é uma cultura irrigada, o arroz não sofreu tanto — pontuou Lazzari.
Para os próximos meses, o horizonte é mais alentador. Em 2021, por exemplo, a colheita de grãos de verão deve crescer cerca de 40% no Estado, aponta estimativa da Emater-RS. Aliás, a possível melhora no campo foi citada mais de uma vez durante a apresentação do PIB.
Depois da agropecuária, a indústria foi o segundo setor mais prejudicado entre abril e junho. Frente ao intervalo de janeiro a março, as fábricas tiveram baixa de 15,9%, reflexo da crise do coronavírus. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o tombo foi maior, de 19,3%.
Nesse tipo de recorte, todas as atividades fabris ficaram no vermelho. O segmento de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana caiu 28,1%. Já a indústria de transformação recuou 19,5%, puxada pela retração de 70,2% em veículos, reboques e carrocerias e de 50% em couros, artigos para viagem e calçados. Enquanto isso, construção teve baixa de 12,6%.
O outro grande setor produtivo, o de serviços, tampouco conseguiu escapar das perdas. Com lojas fechadas em razão da pandemia, registrou queda de 9,1% frente ao primeiro trimestre. Na comparação com o segundo de 2019, a contração foi de 9,9%.
Dentro do setor, a maior baixa foi a do ramo de outros serviços (23,7%). Esse segmento contempla atividades como turismo e restaurantes. A segunda maior queda em relação ao ano passado foi a do comércio (11,6%). O único segmento comercial no azul foi o de hipermercados e supermercados, com avanço de 5,4%.
— Em razão da pandemia, a queda da economia foi absurdamente forte, tanto no Estado quanto no país. O que explica a baixa maior no Rio Grande do Sul é a estiagem — ressalta Adelar Fochezatto, professor da Escola de Negócios da PUCRS.