Os números do PIB apresentados nesta sexta-feira (18) pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento só confirmaram aquilo que já se esperava: um tombo de proporções na casa de dois dígitos, ancorado na quebra da safra de verão. Esse efeito da estiagem fez o Rio Grande do Sul se descolar da realidade brasileira, à medida em que a agropecuária gaúcha amargou recuo de 39,4% no segundo trimestre, em relação a igual intervalo do ano passado. No Brasil, onde houve colheita recorde, esse percentual foi de crescimento de 1,2%.
A pandemia deu importante parcela de contribuição para o resultado geral da economia do Estado, que encolheu 17,1% no mesmo intervalo. Não fosse a significativa redução em volume de grãos produzidos — só na soja, caiu 39,3%— , no entanto, o RS poderia ter se aproximado do desempenho nacional.
—A diferença em relação à média nacional é explicada pela estiagem — confirma Martinho Lazzari, analista do DEEE.
Avaliação corroborada pelo economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado, Antônio da Luz, que destaca a grande correlação entre o crescimento brasileiro e gaúcho:
— O que dá o tom de diferença entre um e outro são os resultados da safra. No quesito pandemia, o Rio Grande do Sul não foi pior ou melhor.
E quanto à comparação do Estado com ele mesmo, em relação aos efeitos da última seca de impacto significativas na produção, em 2012? Lazzari entende que as taxas de recuo "são bastante semelhantes". Naquele ano, o PIB agropecuário diminuiu 45,1% no segundo trimestre, ante o mesmo período de 2011. No semestre, a redução chegou a 33,2%, o que representa 0,1 ponto percentual a menos do que o número do primeiro semestre de 2020.
— Pode se considerar que o efeito é bastante parecido, com potencial de recuperação foi forte como o que se viu em 2012 — diz Lazzari.
Luz tem entendimento diferente: em termos absolutos, o cenário deste ano foi pior, porque o volume estimado de produção — e que se perdeu — é "muito maior do que em 2012". Naquele ano, a estimativa da Emater indicava 10,3 milhões de toneladas para a soja, volume encolhido para 5,94 milhões de toneladas. No ciclo 2019/2020, a previsão inicial apontava produção de 19,75 milhões de toneladas para o grão. Colheita que foi reduzida para 10,7 milhões de toneladas. Nem o cenário de valorização do produto em reais, com cotações históricas conseguiu compensar essa perda (até porque, para fins de PIB, o que importa é volume de produção).
— A partir dos preços, cria-se um cenário aparentemente bom. Mas não adianta valorizar e o produtor não ter produto para vender porque não colheu — pondera o economista da Farsul.
Se a estiagem induz a quedas significativas na economia gaúcha, o histórico mostra recuperação rápida. A safra de trigo por colher deve contribuir, ainda que o impacto na reversão do resultado anual seja reduzido. A saída do fundo do poço depende de como será o próximo cilo de verão.