Com a combinação de variação cambial e alta demanda, os produtos agrícolas têm tido em 2020 um ano de valorização histórica. Inclusive em culturas que há anos sofriam com problemas climáticos e de mercado, o que se convertia em ausência de rentabilidade. É caso do arroz e do leite, alçados a novos patamares de preços, que trazem a alentadora perspectiva de recuperação.
As oportunidades devem e estão sendo aproveitadas. Ainda assim, junto com a euforia vem o temor de um potencial efeito rebote. Via de regra, aumentos expressivos costumam ter como reflexo o aumento da área cultivada no ciclo seguinte. E, talvez com exceção da soja, grão de grande liquidez e procura regular, outros itens ficam mais vulneráveis à oscilação de produção e consumo.
Neste momento, já há indicativos de que poderá haver ampliação do espaço de lavouras do cereal no Rio Grande do Sul na casa de 5%. A colheita da última safra chegou a 936 mil hectares, 4,3% a menos do que no ciclo anterior, segundo dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
– O produtor deve buscar a gestão do negócio, continuar com rotação de culturas e plantar somente em áreas de grande produtividade – observa Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros (Federarroz-RS).
Há pelo menos duas razões para adotar prudência na hora do planejamento da próxima safra. Uma é o aumento dos custos, que vem na mesma cadência de valorização trazida pelo câmbio. A outra é o passivo de endividamento acumulado ao longo de anos e ainda a ser resolvido.
Eventual expansão do cultivo tende a ampliar a produção. Nessa lógica, a maior oferta pode levar à desvalorização acentuada das cotações. Nesta semana, a notícia de que o governo isentaria a tarifa externa comum, para trazer arroz de países de fora do Mercosul, causou alvoroço. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, sinalizou, no entanto, que nenhuma decisão será tomada até a reunião da câmara setorial, no dia 1º.
O milho também tem tido no Estado uma espécie de efeito sanfona. Quando o mercado está aquecido, a aposta na cultura cresce. Da mesma forma, com cenário adverso, tende a cair.
Ainda mais volátil, o leite é outro produto que exige cuidado. O sobe e desce costuma ocorrer diversas vezes ao ano, com o consumo na posição de principal guia.