O ponto alcançado pelo arroz em 2020 não chega a ser uma surpresa. Desde o final do ano passado, entidades alertavam para a mudança da faixa de valores pagos ao produtor e pelo consumidor. Talvez o tempero extra nessa receita anunciada, a partir de determinados ingredientes, seja a quantidade de alta adicionada. Cotações históricas no valor da saca pago ao produtor vêm sendo registradas – chegou, nesta terça (18), a R$ 78,88, segundo o índice Esalq/Senar-RS.
No mercado, já há registros de valores na casa de R$ 80. Cenário positivo para produtores, que há anos amargavam preços que sequer cobriam custos de produção. A valorização reflete fatores como diminuição da área plantada, demanda em alta, variação cambial e contexto global.
— Grandes exportadores, como China e Tailândia, diminuíram a disponibilidade do produto no mundo. E o grão brasileiro ganhou competitividade com o dólar acima de R$ 5 — completa Alexandre Velho, presidente da Federarroz-RS.
Esse fator deu também paridade ao produto brasileiro frente ao do Mercosul, que tem custos menores. E isso deixou o produto do bloco menos atrativo para o mercado brasileiro.
Com as exportações de vento em popa e o consumo doméstico reforçado na pandemia, com crescimento estimado em 5%, a oferta fica mais ajustada. E os valores nas gôndolas refletem esses movimentos: o quilo do arroz ficou, em média 15% mais caro. O presidente da Federarroz lembra que, ainda assim, o peso do produto no orçamento familiar “é reduzido”, representando de 2% a 3% da cesta básica.
Até a próxima safra, é a equação de importação e exportação, com impacto sobre estoques, que deve ditar o comportamento.