A alta do dólar, que já vinha sendo a principal força a empurrar para cima os preços da soja no Brasil, fez as cotações do grão chegarem a patamares históricos. No porto de Rio Grande, o valor da saca ontem chegou a R$ 105 para produto disponível, um recorde nominal. É reflexo da variação da moeda americana, que encerrou o dia a R$ 5,528.
– Essa alta é basicamente câmbio. No Rio Grande do Sul, há um pouco de efeito da quebra de safra. Mas esse valor era impensável – observa Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras & Mercado.
O preço pago ao produtor varia conforme a região, mas também teve ajustes para cima, embora ainda não tenha alcançado as cifras do porto. Índio Brasil dos Santos, sócio-diretor da Solo Corretora reforça o papel que o dólar tem nessa valorização da soja em reais, visto que as cotações na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, estão em faixas consideradas baixas:
– O produtor paraguaio, que tem economia dolarizada, está sofrendo com isso. Assim como o americano: sem subsídio, não conseguiria plantar. No Brasil, estamos vivendo uma ilha de fantasia cambial.
Em termos reais, ou seja, com valores corrigidos, a maior média mensal no Estado foi registrada em agosto de 2012 – hoje R$ 126,37, à época, R$ 82 – mostra levantamento do consultor em agronegócios Carlos Cogo. Naquele ano, os EUA enfrentaram seca que elevou os preços em Chicago. Cenário diferente do atual.
– Com o real desvalorizado, o primeiro efeito é o aumento do preço ao produtor em reais. Ao mesmo tempo, está pressionando para baixo cotações em Chicago, porque o brasileiro está vendendo soja, e o americano, não – observa Cogo.
Para o produtor de soja gaúcho, a valorização chega justamente quando a estiagem volta a reduzir a colheita. Relatório semanal da Emater aponta que a colheita do grão chegou a 91% da área total. As vistorias de Proagro na cultura somam 8,97 mil.
Daqui para a frente, a tendência é de que as oscilações do dólar sigam tendo importante impacto. Mas outras variáveis deverão entrar em campo, sobretudo no segundo semestre: o andamento da safra americana sob o cenário do coronavírus (o plantio lá costuma ser terceirizado), as vendas do grão para a China e a influência dos preços do petróleo.
– Tem muita coisa aberta ainda – enfatiza Cogo.