Nesta segunda-feira (20), o petróleo tipo WTI, referência nos Estados Unidos, foi negociado com preço negativo. Nos contratos de maio liquidados nessa data, o valor fixado foi de
-US$ 37,63 por barril. Isso significa que esse valor deveria ser pago por quem vendeu, não por quem comprou. Esse é o tal "preço negativo", quando o vendedor tem que pagar ao comprador, em vez de receber. David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) disse à coluna que a reação "choca um pouco, mas não é ilógica":
– Está tudo muito imprevisível, a queda não é ilógica, mas tudo é ilógico nessa situação. É um episódio inusitado.
Zylbersztajn explica que um dos motivos do fenômeno são os estoques elevados de petróleo, depois de vários anos de produção acima da demanda, acentuado pela crise. Esse problema afeta mais os Estados Unidos, porque o país é fonte dessa superoferta, com a produção do chamado "shale oil", que transformou o país, sempre maior consumidor, também em maior produtor. Outra referência para o mercado de petróleo, o brent, que é relacionado ao Reino Unido, teve queda "normal" – em tempos anormais –, de cerca de 8%.
– Isso também envolve uma questão logística, porque, nos EUA, a falta de capacidade de armazenagem estava fazendo com que empresas pagassem para o cliente que levasse petróleo de seus estoques – relata.
O especialista observa, ainda, que além da oferta e demanda física, existe a questão relacionada ao mercado financeiro de petróleo. Como se trata de negociação futura, a movimentação é feita com base em contratos eletrônicos, ou seja, trata-se de um ativo financeiro, antes de ser uma matéria-prima. O "preço negativo", nesse cenário, foi pago para trocar contratos de maio por outros com prazo até junho, até para evitar liquidação física, que não teria capacidade de estocagem:
- É como se fosse um indexador negociado em uma bolsa de apostas, um cassino – caracteriza Zylbersztajn. – Quando os mercados estão estáveis, costumam ficar mais vinculados aos negócios reais, mas diante do tamanho da recessão e da incerteza, essa conexão se perde. Ninguém está vendo abertura da economia em prazo muito curto. As condições não vão melhorar rapidamente. A cotação é consequência disso tudo.