O mercado foi pego de "calças curtas" com a reação da Arábia Saudita de jogar para baixo os preços do petróleo, em retaliação à Rússia, avalia o analista de óleo e gás da consultoria Tendências, Walter de Vitto . Embora não pudesse ser prevista neste momento, pondera, a estratégia faz sentido do ponto de vista dos sauditas. Até agora, era esse tradicional produtor de petróleo que estava "pagando a conta" para segurar a cotação, diante da desaceleração da economia global. Conforme De Vitto, a tendência é de que os preços se mantenham baixos por "um ou dois trimestres".
– A Arábia Saudita vem pagando o maior preço desse enxugamento da oferta. Foi quem mais perdeu participação no mercado. Hoje é o terceiro exportador, atrás de EUA e Rússia, mesmo tendo custo de produção mais baixo do que os outros dois. No setor, havia dúvida sobre até quando bancaria o ajuste do mercado – afirma, explicando que a redução da produção da Opep acabava encolhendo a venda dos países membros, que perdiam mercado para o shale oil (petróleo de xisto) dos Estados Unidos.
De Vitto entende que o preço do petróleo vinha sendo sustentado em nível artificialmente alto, diante das projeções de desaceleração da economia provocada pelo coronavírus. Ao contrário, ao forçar a baixa de preços, acaba afetando a produção de shale oil, que tem custo de produção muito mais alto. Isso deve "causar estragos" para as empresas que exploram petróleo de xisto nos Estados Unidos, afirma:
– São empresas que já estão endividadas, e recebendo menos pelo produto que vendem, haverá um efeito devastador. Isso tem reflexos para a cadeia e para o setor financeiro, porque afeta quem emprestou a essas empresas. Isso pode impactar o setor financeiro e reduzir a oferta de crédito no curto prazo. Dá um solavanquinho econômico em ano eleitoral nos EUA.
Vitto considera baixa a probabilidade de revisão da estratégia no curto prazo. Projeta que se mantenha por dois a três trimestres porque, se for além disso, provocará impacto fiscal na Arábia Saudita. Também pondera que seria uma demonstração de fraqueza se os sauditas não mantivessem a pressão. Segundo o analista, não é impossível, mas é improvável.