Menos de 24 horas depois de expor a desgaste um de seus chamados "superministros", no caso o da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro ameaça rompimento com o segundo, Sergio Moro, da Justiça. A decisão presidencial de mudar o comando da Polícia Federal, apenas comunicada a Moro, pode provocar a saída de um dos eixos da popularidade do governo. Como resultado, o dólar deu um salto enquanto notícias sobre o impasse entre Bolsonaro e Moro pipocavam nas telas dos celulares dos operadores.
A cotação da moeda americana vinha em forte alta desde o dia anterior, quando se começou a especular sobre um corte de 0,75 ponto percentual no juro básico na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na segunda semana de maio. No início da tarde, chegou a tocar o menor ponto do dia, em R$ 5,43, mas com as notícias, deu um salto para R$ 5,50, "em meio a boatos de saída de Moro da Justiça", observou André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton. Fechou com alta de 2,2%, a R$ 5,528. A bolsa fez movimento oposto, mas mais discreto. Ensaiava uma nova alta, depois de subir no dia anterior, e virou para baixa de mais de 1%.
Em nota, Perfeito afirma que vai manter sua projeção para o dólar no final do ano em R$ 5,80, mas chama atenção para "eventuais ruídos internos no plano político no curto prazo", ou seja, sinaliza que o valor pode ser elevado caso o desfecho seja o que se desenha nesta quinta-feira, a saída de Moro do governo.
No mercado financeiro, em conversas reservadas, observa-se a sincronia desse movimento com a aproximação do Planalto de políticos do Centrão, alguns dois quais investigados por Moro na Operação Lava-Jato, como Roberto Jeferson e Valdemar Costa Neto. Na visão mais conectada à economia, há risco de Bolsonaro abrir mão de dois símbolos de sua campanha: o liberalismo de Guedes e o combate à corrupção de Moro. A aproximação, com eventual negociação de cargos com os personagens com os quais se reuniu nos últimos dias, acentua a inquietação com a futura configuração do governo.
Uma das grandes incompreensões é o fato de Bolsonaro ter aberto uma nova crise ministerial no momento em que se teme que o pais viva a maior recessão de sua história. Nesse momento, o papel do líder deveria ser coordenar e contornar arestas. Ao contrário, o presidente empilha crises aparentemente desnecessárias.
–Bolsonaro é só conflito. Se tiver um dia de paz, no outro ele arma a guerra – observa um executivo que circula no mercado financeiro.
– Tudo isso é ruído desnecessário, é um tiro no pé do governo – completa outro, observando o comportamento do presidente ao longo da pandemia.