Após passar por estiagem prolongada e enfrentar quebra na produção agrícola neste ano, o Rio Grande do Sul deverá ter uma supersafra de grãos no próximo verão. De acordo com a primeira estimativa para o ciclo 2020/2021, divulgada nesta quinta-feira (10) pela Emater, o Estado colherá 32,5 milhões de toneladas de soja, milho, arroz e feijão — em relação ao ciclo 2019/2020, o crescimento chega a 40,27%.
O avanço expressivo é justificado, principalmente, pela baixa base de comparação, fruto do tempo seco. Ainda assim, os grãos de verão ganharão espaço no Estado: a área plantada totalizará 7,86 milhões de hectares, aumento de 1,85% frente à safra passada.
O diretor técnico da Emater, Alencar Rugeri, destaca que, caso o clima não afete a produtividade e as projeções se confirmem, 2020/2021 tende a gerar a segunda maior safra da história do Estado. Apenas ficaria atrás de 2016/2017, que totalizou 33,6 milhões de toneladas. Desta vez, o contexto marcado pelas cotações valorizadas dos grãos traz perspectivas positivas ao produtor, que poderá atenuar os prejuízos deixados pela estiagem.
— Se tivermos manutenção desses preços e a safra for o que estamos estimando, certamente vamos ter um resultado econômico interessante no ano que vem. O produtor tem mecanismos de comercialização que permitem a ele assegurar os preços que temos hoje — aponta.
Soja rompe a barreira dos 6 milhões de hectares
Como nos anos anteriores, o carro-chefe da produção gaúcha será a soja. A oleaginosa segue se expandindo pelo Estado e romperá a barreira dos 6 milhões de hectares pela primeira vez na história. A área cultivada chegará a 6,07 milhões de hectares, incremento de 1,55%. A produção deverá ficar em 18,9 milhões de toneladas, expansão de 68,82% em relação ao ciclo passado.
— O produtor vai fazer tudo o que for possível para se recuperar nesta safra. A safra passada começou a ser vendida a cerca de R$ 70 por saca e neste ano já estamos arrancando acima de R$ 110 — compara Décio Teixeira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS).
Na avaliação de Teixeira, a produção poderá superar a previsão da Emater e obter mais de 20 milhões de toneladas. O dirigente acredita que a área plantada da oleaginosa ainda tem potencial para seguir avançando no Estado, em especial na região da fronteira.
Outro grão que foi afetado diretamente pela estiagem, o milho também deve ter números mais robustos no ciclo 2020/2021. A área cultivada vai alcançar 787 mil hectares, incremento de 4,7%. Com isso, a produção esperada é de 5,9 milhões de toneladas, alta de 43,05%.
O presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho-RS), Ricardo Meneghetti, ressalta que o leve incremento no plantio é puxado por produtores que tradicionalmente já apostavam na cultura. Na primeira safra após a implementação do programa estadual Pró-Milho, o dirigente diz que a expectativa é diminuir o déficit da produção gaúcha em relação à demanda da indústria de proteína animal.
— Geralmente, a indústria precisa buscar de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas de milho fora do Estado. Levando em consideração uma boa colheita no Estado e o aumento da demanda, esse déficit poderá ficar em torno de 1 milhão de toneladas — projeta.
Cultura que voltou a ser valorizada recentemente, o arroz ganhará espaço. A área plantada deverá chegar a 967,5 mil hectares, avanço de 1,7%. Já a produção esperada é de 7,6 milhões de toneladas, recuo de 2,14%.
— Esse atual momento do arroz (com o preço da saca acima de R$ 100 ao produtor) incentiva os produtores a retomarem um pouco a área plantada — resume Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz).
Já o feijão será cultivado em 37,4 mil hectares, incremento de 0,89%. É esperado avanço de 19% na produção, atingindo 64,5 mil toneladas.