
O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O otimismo dos produtores verificado no início do plantio da safra de inverno no Rio Grande do Sul passou a dar espaço à incerteza nas últimas semanas. A geada ocorrida no final de agosto trouxe danos às lavouras de trigo, especialmente das Missões, do Noroeste e da Fronteira. Essas regiões concentram parte expressiva da área cultivada no Estado e onde o cereal já se encontrava em estágio mais avançado de desenvolvimento.
Aos poucos, o tamanho do prejuízo começa a aparecer. De acordo com a Emater, na regional de Santa Rosa a perda estimada na produtividade é de 25%, e os produtores já passaram a solicitar cobertura do seguro agrícola. No entorno de Frederico Westphalen, o tombo deve ser de 21%. Na Fronteira, acumulam-se relatos de morte precoce de plantas em fase de florescimento e enchimento de grãos.
Diretor técnico da Emater, Alencar Rugeri acredita que ainda é difícil medir o tamanho exato do impacto nos números finais da safra gaúcha. A expectativa inicial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) era de colheita de 2,67 milhões de toneladas. Neste ano, a área plantada avançou 20%, chegando a 920 mil hectares.
– A safra certamente será menor do que a esperada. Está sendo um ano complicado para o agricultor, que passou por estiagem no verão, pandemia e, mais recentemente, geada.
Ainda que a cultura esteja em pleno desenvolvimento e a colheita só comece em outubro, dados preliminares da Rede Técnica Cooperativa (RTC) indicam que a quebra de produtividade nas lavouras do Estado poderia chegar a 38,8%, com uma safra ao redor de 2 milhões de toneladas. A estimativa foi calculada com projeções repassadas por 21 cooperativas, que recebem o trigo plantado em cerca de 70% da área gaúcha.
– Ainda não podemos falar que esse número está consolidado. A cultura segue em um período considerado chave no desenvolvimento – pondera Geomar Corassa, coordenador da RTC.
Atualmente, 40% da área está em floração, e 15%, na fase de enchimento de grãos. Por isso, novos eventos climáticos extremos e o excesso de umidade ainda podem afetar a cultura.