A queda histórica de 9,7% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, no segundo trimestre, reflete os impactos da crise do coronavírus. Divulgado nesta terça-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado marca a entrada da economia em recessão técnica — dois trimestres consecutivos no vermelho.
Na visão de analistas, a retração tende a marcar o fundo do poço para a atividade. A retomada dos negócios, entretanto, ainda está sujeita a incertezas.
— A princípio, o segundo trimestre foi o fundo do poço. Mas o problema é que o país ainda está em situação bastante complexa. O desempenho nos meses seguintes vai depender muito de como vai ocorrer a flexibilização do isolamento social, além do cenário internacional. O resultado do terceiro trimestre é decisivo para o ano — analisa o economista Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos.
Entre abril e junho, a indústria foi o setor com o maior declínio, em termos percentuais, pelo lado da oferta. Frente ao intervalo de janeiro a março, as fábricas amargaram tombo de 12,3%. Dentro do setor, o ramo de transformação teve a maior contração, de 17,5%.
— A indústria de transformação sofreu bastante, não só pela queda na demanda interna. Também foi afetada pelo cenário internacional. O setor depende tanto do consumo interno quanto das exportações — frisa a economista Luana Miranda, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Motor do PIB pelo ótica da oferta, o segmento de serviços também registrou tombo. No segundo trimestre, a queda chegou a 9,7%.
O desempenho foi influenciado pelas baixas em ramos como transporte, armazenagem e correio (19,3%), comércio (13%) e administração, defesa, saúde, educação pública e seguridade social (7,6%). Essas atividades foram prejudicadas pela menor circulação de pessoas nas ruas durante a crise.
— É bastante preocupante a queda na indústria. A baixa no consumo reflete a perda de empregos — afirma o economista Pedro Dutra Fonseca, professor da UFRGS.
Na contramão, o outro setor produtivo, a agropecuária, ficou no azul. O campo colheu avanço de 0,4% no segundo trimestre.
Investimentos e consumo das famílias despencam
A pesquisa do IBGE ainda apresenta dados de segmentos pela ótica da demanda. Nesse grupo, a retração mais intensa foi verificada nos investimentos de empresas para aumento da capacidade de operação.
Os aportes, medidos pelo indicador de formação bruta de capital fixo (FBCF), caíram 15,4% em relação ao primeiro trimestre. Ou seja, o resultado sinaliza que, ao perceber a chegada da crise, o setor empresarial decidiu reduzir ou não fazer desembolsos.
Outro fator que explica a queda histórica do PIB é o consumo das famílias, um dos motores da economia. No terceiro trimestre, esse componente teve contração de 12,5%.
Na visão de analistas, a perda de empregos gerada pela pandemia freou o consumo. Por outro lado, o auxílio emergencial de R$ 600 serviu para amenizar as perdas a partir de abril.
— Teve uma defasagem até que o auxílio começasse a ser pago. O segundo trimestre é atípico, com a desaceleração causada pelo fechamento de empresas — afirma o economista Pedro Dutra Fonseca, professor da UFRGS.
A despesa do governo também teve redução, estimada em 8,8%. No setor externo, houve baixa de 13,2% nas importações e elevação de 1,8% nas exportações, com efeito positivo do agronegócio.