É possível enumerar predicados para o presidente da República, Jair Bolsonaro. Bobo, contudo, não lhe serve. Com anos de política nas costas, anunciou nesta terça-feira (1) a prorrogação do auxílio emergencial até o fim do ano, com parcelas mais suaves do que as iniciais: em vez de R$ 600, agora serão R$ 300. A divulgação ocorreu minutos depois de o IBGE informar a queda brusca no PIB do segundo trimestre, o pior resultado da história do país.
Não é culpa de Bolsonaro, é verdade. O tombo tem muito a ver com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus - e caberia outro texto para analisar a conduta do presidente e seu não apoio às medidas sanitárias sugeridas por especialistas do mundo inteiro.
Mas o assunto aqui, agora, é política. Pura.
Em que pese o trágico número de 120 mil mortos, Bolsonaro viu sua popularidade subir em meio à pandemia, na esteira do pagamento de um auxílio extremamente importante para os mais vulneráveis. Por conta do coronavírus (e as restrições impostas), o governo federal promoveu pagamentos de parcelas mensais de R$ 600 àqueles que tiveram a renda afetada no período. Fez muito bem, aliás. Milhares se enfileiraram nas agências da Caixa tamanho o desespero por renda. E Bolsonaro foi quem colheu os frutos.
Com a popularidade em alta, o presidente não deixou por menos. Desembarcou em cidades que por anos se caracterizaram como redutos petistas (ou lulistas), vestiu chapéu de couro e foi recebido com festa, com direito a coral de "fim da Lava Jato". Já diria o poeta: quem te viu, quem te vê. O presidente que se elegeu na esteira do combate à corrupção e ostentou Moro em seu ministério, agora oferece os braços a políticos do centrão (especialistas em redutos do Nordeste), como Ciro Nogueira e Fernando Bezerra - seus novos líderes(formais ou informais) no Congresso.
O anúncio, nesta terça-feira, da prorrogação do auxílio emergencial foi ao lado de Ciro, Bezerra e Ricardo Barros, uma prova de que a união estável com o centrão já virou casamento com direito à dote e lua de mel, de olho na reeleição.