Depois de um ano tão desafiador, em especial para nós, gaúchos, peço licença a você, leitor, para tratar de um tema leve por aqui. Eis a última segunda-feira do já-vai-tarde ano de 2024, por isso entendi como de bom tom concentrar este arrazoado de palavras nas singelas alegrias da vida, em direção à esperança de dias melhores. Em janeiro, prometo, retomaremos as árduas notícias que insistem em nos cercar. Dos desafios impostos pela maior tragédia climática do nosso Estado ao pavoroso número de feminicídios, passando pelos escândalos de corrupção e o desprezo de políticos pelo dinheiro do povo.
Não foi preciso muito para que conquistasse o coração do público, enquanto se refestelava com gingado peculiar pelas areias cariocas
Por ora, portanto, esqueceremos as agruras terrenas. Falaremos sobre Joca.
Primeiro, permita-me que o apresente. Joca é um jovem robusto. Tem bigodes marcantes e olhos amendoados. Aventureiro, surgiu em terras brasileiras neste último mês. E não pareceu, em nenhum instante, preocupado com olhares julgadores sobre seu corpo avantajado. Ao contrário, sob o sol escaldante e o mormaço clássico do verão, fez questão de exibir suas curvas charmosas nas areias da praia de Ipanema, no Rio. E não foi preciso muito para que conquistasse o coração do público, enquanto se refestelava com gingado peculiar pelas areias cariocas.
Se você ainda não o conhece, recomendo fortemente que vá ao Google pesquisar “Joca, o garoto de Ipanema”. Trata-se de um lobo-marinho, um mamífero da família Otariidae. Segundo especialistas, pesa algo entre 300 e 400 quilos. Seus vídeos conquistaram as redes sociais nas últimas semanas e enfofureceram o noticiário local.
Tal como na canção de Vinicius, foi o doce balanço de Joca a caminho do mar que encantou turistas e moradores da movimentada capital do Rio de Janeiro. Desprovido de preocupações, o fofucho fez graça, deu longos bocejos, rolou pela areia, coçou-se calmamente e voltou a dormir. Uma leveza que fez inveja a nós, pagadores de boletos. Não havia pressa para chegar ao trabalho, para bater a meta ou para postar no Instagram. Joca curtia o instante. Saboreava os segundos que por aqui esteve.
Pois a postura de Joca nos faz um convite nessa reta final de ano. De menos foco nos dissabores, de menos filmar sem desfrutar do momento, de menos preocupar-se com a opinião alheia. Que tenhamos mais presença, mais rolar na areia e mais aproveitar os momentos simples da vida. É um convite para a leveza. Leveza que se revela em deixar ir o que não podemos controlar e abraçar o que verdadeiramente importa.