Vinte e cinco anos se passaram desde o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva até o momento em que sua família, enfim, conseguiu atestar junto ao Estado brasileiro que ele estava morto. Foram 25 anos sem que a mulher, Eunice, pudesse ser reconhecida como viúva e, portanto, tivesse acesso a bens ou aplicações bancárias do marido para poder criar os cinco filhos órfãos de pai. Crianças que foram privadas, abruptamente, da presença do pai pelo desprezo de agentes da ditadura militar pela vida. Até hoje, dezembro de 2024, nenhum assassino foi responsabilizado.
É de corar as carpas do Palácio da Alvorada que um general de quatro estrelas tenha se prestado ao papel ridículo (e criminoso) de coordenar tais movimentos
Volto a citar a história de Rubens Paiva, em evidência por conta do longa Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, a fim de jogar luz sobre a relevância do avanço das investigações da Polícia Federal sobre o golpe pretendido em 2022. Uma trama orquestrada por agentes do Estado com o objetivo de derrubar um governo eleito e impor um novo regime, absolutamente fora da ordem constitucional. É de corar as carpas do Palácio da Alvorada que um general de quatro estrelas tenha se prestado ao papel ridículo (e criminoso) de coordenar tais movimentos, incluindo o de entregar dinheiro vivo em uma sacola de vinho para financiar atividades golpistas.
Certeza da impunidade? Desapreço pela Constituição?
E o que dizer da covarde postura de tal general que incentivava ataques baixíssimos aos colegas de farda – Freire Gomes (então comandante do Exército) e Baptista Junior (Aeronáutica) – que se recusaram a compactuar com aventureiros golpistas?
Daí a importância de identificar um a um aqueles que integraram o grupo que planejou, em uma série de encontros realizados até mesmo em dependências do Estado (mantidas com o meu e com o seu dinheiro), uma ruptura democrática que deve ser abominada em qualquer que seja o tempo. Mas mais do que isso. É preciso investigar e punir, para que de uma vez por todas fique claro que nosso país não simpatiza com ditadura e que, antes de tudo, tem apreço por valores democráticos e respeito por seus cidadãos.
A ditadura matou Rubens Paiva em 1971. Contudo, a Justiça não foi feita e o crime permanece impune até hoje. A história nos coloca diante de uma oportunidade ímpar de, dessa vez, fazer diferente. A prisão de Braga Netto é um começo.