Maternidade está para a vida das mulheres como a temporada de furacões no Hemisfério Norte: você sabe que ela trará ventos que tirarão tudo do lugar, em maior ou menor intensidade. Sua missão é sobreviver, em meio a cenas indescritíveis de amor profundo e de pezinhos tão fofos que dá vontade de morder.
O fato é que tem semanas em que o furacão Gabriel é escala 5, e eu tenho vontade de me abrigar num bunker até a tormenta passar. Em outras, o temor não se confirma e os ventos sopram menos terríveis do que se projetava. A verdade é que, aos poucos, a gente vai encontrando maneiras de se adaptar até mesmo àqueles dias dia com ventos acima de 100 quilômetros por hora.
E, em troca, claro, recebemos a dose mais potente do sentimento chamado amor.
Bem, naquela semana específica, o furacão veio acompanhado de um tsunami. Primeiro, uma virose que derrubou mais da metade dos coleguinhas da turma na escola.
Gabi resistiu enquanto pôde, contudo as primeiras bolinhas anunciavam a chegada de um velho conhecido das mães, o tal “mão, pé, boca”. Digo que o furacão encontrou o tsunami porque a virose veio justamente na semana em que o papai estava fora do país, e a mamãe estava imersa em muito trabalho devido à cobertura eleitoral na rádio e no jornal.
A gincana materna começou: corre para buscar o filho, pede ajuda para a vovó, para a dinda, para quem tiver alguma hora disponível, acorda cedo porque tem debate entre os candidatos à prefeitura, vovô do Gabi em sessões diárias de radioterapia, em tratamento contra um câncer, manda mensagem para o médico para ver um medicamento novo, porque a dor dele havia aumentado, tenta agendar consulta com a pediatra... Ufa!
Conseguimos. Mas a consulta teria que ser no intervalo de almoço de uma quinta-feira. Sai correndo do programa, pega o nenê, voa para o consultório. Pois foi deste lugar, durante uma consulta com a maravilhosa Antônia Chagas, que ouvi a pergunta importantíssima:
— E tu, estás te cuidando?
Conto isso para lembrar (a mim mesma) que o autocuidado, a relação médico-paciente, a prevenção e um olhar atento para os exames de rotina...
Tudo isso deveria fazer parte da nossa lista número 1 de prioridades. Deveria estar na lista de tarefas de cada um de nós e, pensando bem, principalmente daquelas que têm como missão cuidar dos filhos, dos netos, da família.
Sabemos que essa ainda é uma jornada muito ligada ao feminino e por isso mesmo precisamos nos unir e lembrar, umas às outras, que alguém tem que cuidar de quem cuida. Não há como dar conta de tudo se não houver um olhar generoso para nós mesmas.
Generosidade
Naquela consulta (originalmente do bebê), doutora Antônia me perguntou como estávamos nos virando para equilibrar a rotina, como estava minha rinite (a mãe alérgica sofre!), se as noites sem dormir melhoraram.
Enfim. Todos aqueles elementos que, somados, traduzem a essência do cuidado. Que pode ser efetivo, sim, pelo abraço que vem do outro, mas também na generosidade em aceitar que nem tudo está sob nosso controle.
Emocionante
Quem cuida de quem cuida? No meu caso, eu tenho a resposta. Tenho a doutora Antônia que cuida do bebê e da família toda, tenho o doutor André Fay (oncologista do meu pai), que me emociona e nos envolve no abraço mais poderoso do mundo.
Abraço que tem força de cura. Que sorte a nossa. O cuidado é capaz de salvar.