Os documentos judiciais que tratam da prisão do general Walter Braga Netto, tornados públicos na manhã deste sábado (14), não economizam nos detalhes sobre provas que justificam a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Trata-se, segundo a apuração da Polícia Federal (PF), de atuação clara do ex-ministro de Bolsonaro para interferir nas investigações, atrapalhando o trabalho de identificação dos crimes.
Segundo a PF, houve dolo (ou seja, intenção) de Braga Netto no sentido de "impedir ou embaraçar as investigações em curso, o que caracteriza um crime previsto de embaraçar uma investigação de infração penal".
Uma prova decisiva consta no depoimento de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e que está citada no parecer da Procuradoria-Geral da República, em favor da prisão. Diz o texto que no depoimento prestado por Cid à Polícia Federal "o colaborador Mauro Cid confirmou que o investigado Braga Netto tentou obter dados da colaboração por meio de seu pai, em contatos telefônicos realizados no período que o acordo estava sendo firmado".
Confira trecho do parecer da PGR
Mauro Cid: "Não só ele, como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado. Isso fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado. Tanto que o meu pai na resposta, que é aquela de terceiro, disse não, o Cid falou que não era".
Delegado Fábio Sohr: "Esse contato que ele fez com seu o seu pai, como é que foi esse contato?"
Mauro Cid: "Normalmente era por telefone, até pela distância de cidades".
Delegado Fábio Shor: "Por telefone ligava para tentar obter informações do acordo de colaboração?"
Mauro Cid: "Isso, logo depois que eu fui solto naquele burburinho, inicialmente. E não houve aquelas perguntas, aquelas respostas que estavam lá, obviamente não confirmaram o que eu falei na colaboração. Então talvez intermediários pudessem estar tentando chegar perto de mim, até pessoalmente, para tentar entender que eu falei, querer questionar, mas como eu não podia falar, eu meio que desconversava e ia para outros caminhos, para não poder revelar o que foi falado".
(...)
Delegado Fábio Shor: " O senhor confirma que ele tentou obter informações do acordo de colaboração, do general Braga Netto?"
Mauro Cid: "Isso".
Decisão de Moraes
O documento assinado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes vai na mesma direção. No texto, o ministro também menciona que foram identificados fortes e robustos elementos de prova que demonstram a participação ativa do general Braga Netto na tentativa coordenada dos investigados de pressionarem os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano que previa abolir o Estado democrático de direito.
Conforme consta nos autos, Braga Netto utilizou o modo de agir de "milícia digital, determinando a outros investigados que promovessem e difundissem ataques pessoais ao general Freire Gomes e ao tenente-brigadeiro Baptista Júnior, além de seus familiares".
Ainda no documento, a investigação menciona contatos telefônicos realizados com o pai de Mauro Cid que tinham a finalidade de obter dados sigilosos, controlar o que seria repassado à investigação, e, ao que tudo indica, manter informado os demais integrantes da organização criminosa, assim como no parecer da PGR.