Como militar e político, Walter Braga Netto acumulou estrelas e cargos: chegou ao mais alto posto do Exército Brasileiro (depois disso, só comandante da Força), foi ministro da Defesa, em uma democracia, a quem todos os comandantes militares estão subordinados, chefe da Casa Civil (espécie de primeiro-ministro, no caso brasileiro) e, por pouco, não foi eleito vice-presidente da República na chapa de Jair Bolsonaro, em 2022.
Segundo as investigações da Polícia Federal (PF), no entanto, o estrelado oficial pode passar à História como o homem da sacola de vinhos, o elo entre golpistas e o Planalto, para garantir os recursos pelos quais os "kids pretos" executariam o plano para matar o então eleito, Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
Braga Netto, que envergonha a caserna ao se tornar o primeiro general quatro estrelas preso na redemocratização e porque traiu colegas de farda que se opuseram ao golpe, o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Junior, achincalhando seus nomes, é a figura central, segundo a PF, da conspiração contra a democracia brasileira. É também o nome mais próximo de Bolsonaro até agora a estar atrás das grades.
Sua prisão ocorreu em um sábado, dia incomum de operações da PF. É a mais importante até agora, por atingir o primeiro escalão do ex-presidente. Lá se vão oito militares presos, e as próprias Forças Armadas admitem, nos bastidores, que haverá mais - tudo aponta para ex-titulares da Secretaria-Geral da Presidência e para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A polícia já fez a extração do conteúdo dos celulares apreendidos com o general, e vai também examinar discos rígidos, HDs externos e pen drives. As investigações não terminaram com o inquérito entregue com os 40 indiciados. Todos os homens do ex-presidente seguem na mira. O cerco começa a se fechar em torno do capitão.