Embora houvesse perspectivas ligeiramente mais otimistas, o tombo de 9,7% no segundo trimestre em relação ao período de janeiro a março, não surpreendeu ninguém. Na comparação com o segundo trimestre de 2019, o declínio de 11,4% também ficou dentro das expectativas.
Se houve um resultado melhor – menos ruim seria mais exato – do que esperado foi o do ritmo de investimento, medido pelo indicador chamado Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Embora tenham ocorrido quedas profundas, de 15,4% ante o trimestre anterior e 15,2% em relação ao segundo trimestre de 2019, foram menores do que se projetava até em cenários mais favoráveis para o PIB em geral.
Esse indicador é importante porque é o dado do PIB do período passado que mais sinaliza o futuro, portanto condiciona a recuperação adiante. Mesmo melhor do que se esperava, não é um dado alentador. O investimento feito no segundo trimestre condiciona o ritmo dos próximos períodos, e um tombo deste tamanho adiciona névoa ao sonho da recuperação em V, que equivaleria a bater no fundo do poço e voltar, rapidamente, ao nível anterior.
Além disso, uma queda nessas dimensões condiciona o futuro devido ao que os economistas chamam de "herança estatística". Na imagem do poço, isso equivaleria ao esforço extra necessário para recuperar as forças e recomeçar a escalada. Cauteloso, o IBGE só observou que essa queda é a maior da série histórica iniciada em 1996, mas não há queda semelhante em pelo menos um século de levantamentos da atividade econômica.
Essa "herança", nas projeções dos economistas, fica em cerca de 8,5%. Significa que, se não houvesse variação no PIB nos dois últimos trimestres, esse teria sido o PIB de 2020. Claro, não é essa a expectativa. Para o terceiro trimestre, que entra nesta terça-feira (1º) no último mês do período, as expectativas são favoráveis.
Não só setores favorecidos pelo consumo liberado pelo auxílio emergencial, mas outros que se consideram "mais sustentáveis", como o varejo de moda, mencionam sinais de recuperação em julho e agosto. Foi um período em que os índices de confiança já mostram expressiva recuperação, voltando aos níveis de março, mês apenas parcialmente afetado pela pandemia. Adicionados ao tombo "menos pior" do investimento, autorizam a sonhar com uma recuperação em "raiz quadrada" ou "V da Nike", como já chamou o ministro da Economia, Paulo Guedes.