O que teria sido um prejuízo de R$ 228 milhões no segundo trimestre da Lojas Renner, o da temporada do fundo do poço, virou um megalucro de R$ 818,8 milhões, 254,6% acima de igual período do ano passado. O "milagre" foi o reconhecimento de um crédito tributário de R$ 1 bilhão, resultado do julgamento favorável, sem possibilidade de recurso, à não incidência de PIS-Cofins sobre o ICMS dos produtos.
– O pior já passou. Foi um trimestre desafiador, que puxou a maior parte dos segmentos para baixo. Mas até graças ao trabalho que fizemos durante a pandemia, já vemos reversão de cenário e um futuro mais promissor – disse à coluna Fabio Faccio, CEO da Renner.
É claro que o efeito do R$ 1 bilhão, por enquanto, é contábil, ou seja, não entra dinheiro na empresa. A expectativa, segundo o diretor administrativo-financeiro e de relações com investidores da Renner, Laurence Gomes, é de usar o crédito no próximo ano, quando o lucro recorrente voltar, o que então, sim, terá efeito no caixa.
Depois de um primeiro momento em que a Renner nem tentou vender mais online, porque a prioridade era a segurança dos colaboradores, a empresa acelerou projetos originalmente previstos paras 2021, como a venda por Whatsapp, e viu sua receita digital subir cerca de 200%. Foram responsáveis por 36% das vendas totais no segundo trimestre.
– A venda por WhatsApp era um projeto para 2021, que testamos em uma unidade de Porto Alegre e explodiu de tal forma que tivemos de aumentar o número de pessoas e estender para cerca de 70 lojas nas principais capitais. As vendas quadruplicaram em relação ao início.
Segundo Faccio, os dois primeiros meses do terceiro trimestre já tiveram resultado que se aproxima do pré-pandemia. E na avaliação do CEO da Lojas Renner, não é um movimento gerado por artificialismos:
– Quando se olha para outros segmentos, podem ter sido mais beneficiados pelo auxílio emergencial que podem ter certa reversão ali adiante. No caso do nosso segmento, é uma reação mais sustentável. O consumo de moda e de produtos de beleza teve queda forte em um primeiro momento, mas historicamente é um segmento que volta forte depois de períodos de pós-crise, pós-guerra, pós-calamidade. Estamos vendo uma boa melhora à frente.
Com esses resultados, a Renner mantém seu plano de expansão nos próximos cinco anos. Neste ano, até pela interrupção nas atividades de construção, o ritmo foi reduzido. Mesmo assim, devem ser abertos cerca de 10 pontos de venda no país. A partir de 2021, projeta Faccio, será retomado o planejamento de entre 20 a 30 por ano. O que deu uma parada foi o projeto de expansão internacional, porque as lojas abertas na Argentina mal haviam começado a operar quanto tiveram funcionamento interrompido pela pandemia.