Criado após acordo entre Congresso e governo federal, o auxílio emergencial de R$ 600 alcançou a marca de 2,6 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul. Na prática, isso quer dizer que o número de beneficiários superou o de trabalhadores gaúchos com carteira assinada. Em julho, o Estado tinha 2,4 milhões de profissionais ocupando vagas formais.
A diferença entre os dois grupos equivale a 188,8 mil pessoas. Aproxima-se da população de um município como Passo Fundo, na Região Norte (203,3 mil habitantes).
GaúchaZH consultou os dados sobre o auxílio emergencial no Portal da Transparência. Já as informações sobre mercado de trabalho estão disponíveis no Caged, o cadastro de empregos formais do Ministério da Economia.
O alto nível de dependência do auxílio emergencial durante a pandemia não é exclusividade do Rio Grande do Sul. No total, 25 Estados têm mais beneficiários do programa do que trabalhadores com carteira assinada. As exceções são Distrito Federal e Santa Catarina.
Lançado em meio à crise, o auxílio busca, principalmente, amparar trabalhadores que perderam a renda com a chegada do coronavírus. O grupo contempla os informais — aqueles que já atuavam sem carteira assinada antes da pandemia.
Para os próximos meses, há incertezas a respeito da iniciativa. O alto custo, aliado a restrições nas contas públicas, pressiona o governo a buscar alternativas. Até o momento, o valor disponibilizado, só no Rio Grande do Sul, chegou a R$ 4,4 bilhões. O quadro preocupa analistas.
— O auxílio é um programa temporário, para uma situação específica. Sabemos que o governo não tem como sustentar a economia indefinidamente — pontua Oscar Frank, economista-chefe da CDL Porto Alegre.
Neste momento, o governo federal estuda a implantação do Renda Brasil, programa que substituiria o Bolsa Família, uma das marcas das gestões petistas. A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a elaborar uma proposta para a nova iniciativa, mas o presidente Jair Bolsonaro congelou o projeto nesta quarta-feira (26).
Para o governo chegar ao benefício médio de R$ 300, como quer Bolsonaro, a ideia de Guedes seria cortar deduções de saúde e educação do Imposto de Renda. Atualmente, o valor médio pago pelo Bolsa Família é de R$ 190.
— Ontem (terça-feira) discutimos a possível proposta do Renda Brasil. E eu falei "está suspenso", vamos voltar a conversar. A proposta, como a equipe econômica apareceu para mim, não será enviada ao parlamento. Não posso tirar de pobres para dar para paupérrimos. Não podemos fazer isso aí — disse Bolsonaro.
O avanço do coronavírus nos últimos meses, além de prejudicar o trabalho de informais, provocou uma destruição de postos com carteira assinada. Durante a pandemia, o Rio Grande do Sul perdeu 131,4 mil postos formais. O número resulta da diferença entre o estoque ajustado de empregos de fevereiro (2,549 milhões), antes da covid-19, e o de julho (2,417 milhões).