Levantamento da FGV Social mostra que o número de pobres no Brasil (renda per capita abaixo de meio salário mínimo) diminuiu 13,1 milhões entre o final de 2019 e julho de 2020. A queda de 20,7% é muito mais acentuada do que as verificadas em fases de ascensão social no Brasil, como nos períodos do Plano Cruzado, em 1986, e do Plano Real, em 1994.
Esse efeito está diretamente relacionado ao pagamento do auxílio emergencial, mas não foi verificado no Rio Grande do Sul. Ao contrário da média nacional e da maioria nos Estados, a população gaúcha abaixo desse patamar de renda aumentou 2,47% no período, revela estudo coordenado por Marcelo Neri, diretor do FGV Social.
O pesquisador, que temia o aumento dramático da população mais pobre, constatou efeito contrário. Conforme Neri, "unidades mais ricas, com menos elos com o auxílio emergencial, não conseguiram isolar sua população o aumento da taxa de pobreza". Sustentam a tese do pesquisador altas na parcela da população com renda per capital inferior a meio salário mínimo em outros Estados considerados "ricos", como São Paulo, onde aumentou 3,83%, e Distrito Federal, onde subiu 2,37%.
Na vizinha Santa Catarina, a pobreza diminuiu pouco no período: 3,16%. Para acentuar o contraste, a queda na pobreza medida por esse indicador chegou a 36,08% em Tocantins (veja tabela abaixo). A base de dados usada por Neri é a Pnad Covid de julho, a mair recente divulgada pelo IBGE.
Outra conclusão do levantamento foi a redução de 5,8 milhões de pessoas nas faixas de renda per capita acima de dois salários mínimos. No Rio Grande do Sul, esse contingente encolheu 14,69% no período. Com a redução da pobreza e o encolhimento da camada superior, o que Neri chama de "miolo da distribuição de renda" – entre meio e dois salários mínimos – cresceu em cerca de 20,5 milhões de pessoas, quase meia população da Argentina.
Além das mudanças de renda, o estudo constatou que o segmento mais pobre da população, que é alvo do auxílio emergencial, tem taxas mais altas de isolamento social: 27,8% desse grupo ficou rigorosamente isolado e 48,3% ficou em casa e só saiu por necessidade básica. É um percentual entre quatro a cinco pontos mais alto do que o do total da população. Na avaliação de Neri, esses resultados sugerem que o auxílio emergencial também influenciou comportamentos mais ajustados às necessidades impostas pela pandemia.
As maiores quedas na pobreza
Tocantins 36,08%
Pernambuco 32,45%
Mato Grosso do Sul 31,56%
Roraima 30,70%
Paraíba 29,90%
Onde houve alta ou pequena queda
São Paulo +3,83%
Rio Grande do Sul +2,47%
Distrito Federal +2,37%
Santa Catarina -3,16%
Amapá -8,75%
A situação no Rio Grande do Sul
Faixa de renda Variação
Até meio SM +2,47%
Entre meio e dois SM +4,62%
Mais de 2 SM -14,69%
Fonte: FGV Social