Criados para medir a variação de preços dos produtos e serviços utilizados por famílias e empresas, os índices que medem a inflação do país registraram altas históricas neste ano e refletiram o que os brasileiros já sabem: tudo está mais caro. Porém, entender e acompanhar esses indicadores pode ajudar no planejamento do orçamento familiar e até cortar custos.
Gustavo Inácio Moraes, professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), defende que conhecer esses índices contribui para o planejamento familiar, já que muitos são usados em contratos de reajustes salariais e de aluguel, por exemplo. De acordo com ele, também é interessante analisar não apenas a média geral, mas a evolução dos preços de itens do dia a dia, como alimentação, transporte e vestuário.
— O cidadão pode montar listas de produtos que são de maior interesse no seu consumo e acompanhar os preços por coleta própria ou pelos índices de inflação. Assim, itens com maiores altas devem ser substituídos na medida do possível — acrescenta.
Um exemplo do que o professor orienta está no preço da batata-inglesa, que subiu 87,6% no Rio Grande do Sul no acumulado de 12 meses, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país (veja abaixo como funciona cada índice). No mesmo período, o arroz acumula alta bem menor, de 6,27%. Já o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que serve de referência para o setor imobiliário, chegou a registrar alta de 37,04% em maio, no acumulado de 12 meses.
Coordenador de índices de preço da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz explica que a inflação depende de cada família, da renda, dos hábitos de consumo e da configuração dela: se é jovem, idosa ou se tem filhos.
— Esperamos uma queda na inflação. Quando você publica isso no jornal, uma pessoa de baixa renda vai olhar e dizer: “como caiu se está tudo caro no mercado?”. É porque o índice é uma média e vai ser bastante influenciado pela redução dos combustíveis e da energia elétrica — diz o economista, destacando que são itens que muitas famílias usam pouco ou já economizam.
Preços mais baixos, mas futuro incerto
André Braz observa com preocupação os sinais de desaceleração econômica. Para ele, os preços tendem a cair por conta da redução do apetite global, mas os juros altos e os riscos fiscais afastam os investidores do Brasil e, consequentemente, vão gerar desemprego. Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o setor industrial brasileiro perdeu 9,6 mil empresas e fechou 1 milhão de vagas de trabalho entre 2011 e 2020.
Se o Brasil quiser sair deste cenário de pouco crescimento, destaca o economista da FGV, o gasto público precisa ser considerado para que o Estado recupere a capacidade de investimento e valorize a sua moeda.
— Não adianta ser o maior produtor de grãos do planeta se os preços são cotados em bolsas internacionais. Se a nossa moeda passa a valer menos, esses grãos sobem de preço. Ou seja, o Brasil só vai deslanchar caso invista na parte de estrutura produtiva — destaca, referindo-se a investimentos em educação, qualificação e infraestrutura, como recuperação de rodovias e revitalização de portos.
Alguns índices do nosso dia a dia
Calculados pelo IBGE
- Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA): é a inflação oficial do país e referência para monitorar metas do governo e do Banco Central. Acompanha os valores de produtos e serviços comercializados para o comprador final, abrangendo famílias que recebem de um até 40 salários mínimos. Dentro dele, também é possível ver a variação de preços de cada produto, do tomate à gasolina ou de um grupo específico, como alimentação. Periodicidade: quinzenal.
- Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC): é igual ao IPCA, mas cobre cestas básicas de famílias de um a cinco salários mínimos. Ele é bastante utilizado em reajustes de muitas categorias profissionais. Periodicidade: mensal.
Calculados pela FGV
- Índice de Preço ao Consumidor (IPC): mede a variação do custo de vida, mostrando como estão evoluindo os preços de produtos e serviços que as famílias que ganham de um até 33 salários mínimos consomem no seu dia a dia, como alimentação, despesas com habitação, saúde e educação. O indicador alcança tudo que há de mais relevante nas despesas de uma família, igual ao IPCA. Periodicidades: mensal, trimestral, quadrissemanal e diário.
- Índice Nacional de Custo da Construção (INCC): acompanha os custos de materiais, equipamentos, serviços e mão de obra da construção civil. As empresas do setor adotam o índice para buscar o equilíbrio financeiro. Durante a fabricação de um imóvel, os preços dos insumos sofrem reajustes e esse indicador será adotado para o valor final da residência, por exemplo. O INCC reajusta a parcela do imóvel financiado na planta. Periodicidade: mensal.
- Índice de Preço ao Produtor-Amplo (IPA): conhecido como a inflação do atacado, mede o agronegócio e a indústria de transformação. No agronegócio, acompanha, por exemplo, as cotações dos grãos – negociados em Bolsa e que mudam diariamente – e a variação no preço de defensivos agrícolas e outros insumos. Para a indústria, mede os custos de matérias-primas, como produtos químicos e minério de ferro. As grandes empresas utilizam o indicador até para se prevenir com relação ao preço dos materiais que elas vão comprar. Periodicidade: mensal.
- Índice-Geral de Preços (IGP): é uma média da inflação de todos esses segmentos dos indicadores anteriores (com peso de 60% para o IPA, 30% para o IPC e 10% para o INCC). Acompanha os valores não apenas de vários setores, mas também de etapas distintas do processo produtivo – lá do grão até as prateleiras dos supermercados. É bastante utilizado pelo mercado imobiliário. Periodicidade: mensal.