Nos últimos meses, além de aumento nos preços dos combustíveis, donos de veículos enfrentam outra pressão nos custos para manter esse bem. O preço do seguro veicular cresceu 34% na região metropolitana de Porto Alegre no acumulado de 12 meses fechados em junho. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A projeção para este mês também não é animadora. Divulgado na última terça-feira (26), o IPCA-15, que mostra a prévia da inflação, aponta avanço de 2,77% no seguro veicular voluntário em julho. A alta mostra aceleração no item e ocorre em patamar acima do índice geral.
O professor Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos na área automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que a maior parte desse aumento ocorre na esteira dos preços dos veículos, que seguem em alta.
— Esse aumento no preço dos veículos decorre de alguns fatores. O primeiro é a desvalorização do real perante o dólar. O segundo é a falta de semicondutores, que eleva o preço desses componentes. Também tem o aumento no custo com logística. Isso fez com que, de uma forma geral, os preços dos veículos sofressem aumento significativo — explica o professor da FGV.
O Sindicato das Seguradoras do Estado (Sindseg-RS) informou, por meio de nota, que não realiza acompanhamento de preços do seguro no Estado porque cada seguradora tem sua fórmula de cálculo e a cotação é influenciada por fatores como modelo do carro e perfil do motorista. Mas, em linhas gerais, a entidade avalia que, além da valorização dos veículos, a alteração nos preços do seguro também pode ocorrer diante de alguns fatores, como o peso da inflação nos reparos.
“Além da inflação, a Tabela Fipe apresentou valorização de 23% nos últimos 12 meses. Outro ponto que impacta no preço final é o valor das peças e da mão de obra para reparação. Em média, as peças tiveram 16% de aumento em um ano. Soma-se a isso uma sinistralidade em patamares superiores a de março de 2020”, destaca trecho do comunicado do Sindseg-RS.
O presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado do Rio Grande do Sul (Sincor-RS), André Thozeski, afirma que a formação do custo da apólice de seguro leva em conta muitas informações, como custo médio de reparação de determinado modelo de veículo, região e frequência média dos furtos e roubos. Thozeski afirma que os aumentos atuais ocorrem diante de reajustes que ficaram represados nos últimos anos:
— Para uma avaliação correta, deve-se tomar os custos históricos dos últimos cinco anos. Se olharmos atentamente, veremos que os custos das apólices, que ficaram “subsidiados” pelas seguradoras em 2020 e 2021, hoje estão apenas repondo os aumentos que não ocorreram.
Alternativas devem ser avaliadas com atenção e cautela
Diante da escalada nos preços do seguro, donos de veículos tentam encontrar alternativas para equilibrar a parte do orçamento destinada à manutenção do bem. Nesse cenário, as chamadas “proteções veiculares” ganham espaço. Esse serviço é oferecido por meio de associações, com vários modelos de cobertura, incluindo casos de sinistro, roubo e furto, e valores menores.
É fundamental que fique claro para o cidadão consumidor que seguro é uma coisa muito séria. E seguro é só com uma seguradora legalmente constituída, fiscalizada pela Susep, auditada, que tem um compromisso legal com o consumidor.
ANDRÉ THOZESKI
Presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado do Rio Grande do Sul (Sincor-RS)
No entanto, os consumidores precisam ter atenção em relação a esse serviço. Apesar de ser vendido como se fosse uma espécie de seguro, esse produto é diferente e não conta com regulação da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Em informativo, a Susep destaca que esse tipo de serviço não é autorizado pela entidade, portanto, “não há qualquer tipo de acompanhamento técnico de suas operações”.
O órgão fiscalizador explica que a única forma legal dessas associações e cooperativas atuarem é no âmbito de formalizar contratos de seguros por meio de apólices coletivas junto a sociedades seguradoras autorizadas pela Susep.
— As tais “proteções” que estão sendo ofertadas nada protegem, porque nelas o cidadão não é um consumidor, é um sócio de todo e qualquer prejuízo — afirma o presidente do Sincor-RS.