Cada vez mais brasileiros entendem que investir é, sim, para todo mundo. Em janeiro deste ano, a B3 (bolsa de valores oficial do Brasil) ultrapassou a marca de 5 milhões de investidores pessoa física – um aumento de 50% em comparação com o mesmo mês em 2021. No entanto, é apenas o começo de um hábito que exige autoconhecimento e paciência para alcançar objetivos.
— O brasileiro ainda é muito “curto prazista” — alerta Celson Plácido, diretor de investimentos da Warren.
Para ele, investir é sinônimo de bem-estar. Sejam objetivos de curto, médio ou longo prazo – tudo pode ser mais tranquilo se bem planejado. O especialista explica que é necessário conhecer as diversas opções de investimento. Plácido também fala da importância da educação financeira e de cada um identificar seu perfil, para que as reservas financeiras não se tornem motivo de estresse.
Investir tem uma vantagem óbvia, que é o rendimento do dinheiro, mas também traz valores intangíveis. O que significa investir?
Investir é pensar no seu bem-estar e alcançar objetivos. Qual a maneira? Hoje, a troca é dar tempo para receber algo. Eu falo para meus filhos que eles não têm ideia da oportunidade que estão tendo. Antes, você tinha um produto para vender, hoje tem tempo, influenciadores, internet, inventar algo novo. Tudo isso lhe deixa muito mais tranquilo quando sabe lidar com dinheiro e separa por objetivos. O tempo está muito a seu favor. A diferença é muito grande entre quem começa a investir com 20 ou 40 anos. Por isso é importante começar.
Em que situações o investimento pode representar qualidade de vida?
É interessante, as pessoas falam muito que ter dinheiro representa ser feliz. Não é isso. Eu gosto de falar do bem-estar financeiro. E não é que alguém ganhando muito mais vai ter mais bem-estar. Muitos profissionais liberais vão aumentando a receita, mas o patrimônio não evolui porque gastam mais do que deveriam. Quando ganha mais, gasta mais, aumenta o padrão de vida. Não fazendo uma reserva, na aposentadoria, esse padrão vai precisar diminuir e a pessoa vai ter problema. Às vezes, está em um trabalho que não gosta, mas não pode mudar porque não tem reserva de emergência. Eu já voltei a ser estagiário ganhando um terço para mudar na carreira. Ainda bem que deu certo. Mas eu tinha reserva para isso. No âmbito familiar, um dos maiores motivos de separação de casais é a falta de dinheiro. A pessoa não dorme, tem estresse, perde anos de vida, a família.
Qual a importância dos investimentos de médio e longo prazo, dentro dessa visão?
Meus filhos, que são adolescentes, só mexem com renda variável. São acumuladores. A B3 rende 9% ao ano, mas os juros estão em 13%. Bons fundos de ações rendem 20%. Pode colocar grande parcela em renda variável porque o retorno médio é de 20%, quando não se tem pressa. Enquanto isso, eu mesmo preciso ter renda fixa porque utilizo o dinheiro para despesas ordinárias. Varia muito conforme o objetivo. Quando se olha para o longo prazo, pode tomar mais risco porque representa um pouco mais de volatilidade, variação maior no curto prazo. A linha do ponto A até o B, que lá na frente vai ficar em 20% ao ano, não é uma reta, ela oscila. O investidor de 20 anos que pretende se aposentar aos 40 precisa assumir um risco maior, mas ele vai diminuindo conforme a carteira migra para renda fixa.
O importante é começar. Como dar os primeiros passos?
Hoje se pode investir desde R$ 1, R$ 100. O grande passo é começar. Tem que entender quão tolerante a risco se é. Se a pessoa sofre com um resultado negativo em um mês, vai para a renda fixa. No decorrer do tempo, com várias carteiras, compara, vê que outro fundo rende mais e pode começar a migrar. Todo mundo pode, com um valor baixo, (ter) carteiras variadas. Muita gente fala que não tem dinheiro, mas com R$ 50, R$ 100 (extras), se começa a ganhar mais, pode separar.
Como ensinar os filhos a poupar e investir?
Eu mostro na prática para os meus. Ano passado, houve abertura de capital de uma empresa de videogame e eu não entrei. Na verdade eu esqueci, mas meu filho me tranquilizou dizen- do que era um investimento de longo prazo, pois todo mundo jogaria com aquele videogame e ainda valia a pena comprar. Muitas vezes, os chamo para participarem de negociações, pensarem se vale a pena comprar à vista, analisarem o desconto. Eles recebem a "semanada", podem gastar no que quiserem. Um tempo atrás, queriam algo que custaria R$ 60 para cada um, mas eles estavam sem dinheiro. Meu filho disse que queria antecipar seis semanas, ofereci em sete, mostrando que antecipação do consumo tem custo, como no banco. Acabamos viajando e, aí, eles não recebem. Então, ele demorou mais de sete semanas para recuperar aquele adiantamento. Ele me disse: “Pai, nunca mais eu antecipo nada. Junto e compro à vista, que ainda peço desconto”.