A próxima safra de soja começará com uma novidade para os agricultores gaúchos. Será semeada, ainda em fase de teste, a terceira geração de semente transgênica desenvolvida pela Bayer. A novidade promete ser mais resistente a plantas daninhas e lagartas do que as versões anteriores.
De 30 a 40 produtores integram o programa Eleitos, da plataforma Intacta 2 Xtend, já aprovada no Brasil e nos Estados Unidos, mas em fase de estudos na China. Cada produtor plantará de dois a cinco hectares com o grão em setembro, dando início ao que a empresa promete ser a nova era da soja.
A novidade é a combinação de três proteínas, que servem para matar duas espécies de lagartas a mais do que a geração anterior. Além da broca das axilas, lagarta da soja, Chloridea virescens e falsa medideira, que já eram combatidas pelas gerações anteriores, também prometem proteger as plantas da Helicoverpa armigera e da Spodoptera cosmioides. Ainda assim, a empresa alerta que as boas práticas de manejo integrado precisam continuar sendo realizadas por conta das demais pragas.
Nova versão de herbicida promete volatilidade menor
A Bayer garante que a nova tecnologia também é tolerante ao dicamba – herbicida que ajuda no controle a 270 espécies daninhas. Esse químico age em pragas de folhas largas, como buva, caruru, corda-de-viola e picão-preto. O produto é considerado um complemento no controle de pragas e é tolerante ao glifosato. Segundo a empresa, quatro pés de buva – praga muito presente no Estado – são suficientes para comprometer de cinco a seis sacas de soja por hectare.
O dicamba também evoluiu e a terceira geração do produto será lançada com a plataforma Intacta 2 Xtend, sob promessa de redução de 99% da volatilidade, efeito causado por micropartículas que se espalham para outras culturas. Já a deriva, que é quando há movimentação da gota antes de atingir o alvo, precisa ser corrigida com uso de tecnologia e treinamento.
– A plataforma vai oferecer um novo patamar de produtividade por meio de uma grande caixa de ferramentas. O dicamba irá ampliar o controle de plantas daninhas, ao ser utilizado com o glifosato. Fora isso, amplia a proteção contra lagartas, com três mecanismos de ação – explica Fábio Passo, gerente de lançamentos da plataforma Intacta 2Xtend no Brasil.
A semente deverá ser lançada comercialmente no Brasil na safra de 2021/2022, mas já é utilizada há dois anos nos Estados Unidos, ocupando, segundo a Bayer, 60% da área cultivada com a soja. Responsável pela aquisição de cerca de 80% da soja exportada pelo Brasil, a China ainda não aprovou, mas a empresa espera por esta autorização até abril de 2021, impulsionando o uso nos demais mercados, como o europeu e o asiático.
– Acreditamos que, quando o agricultor perceber a eficiência da plataforma, comece uma curva de adoção – pontua Marlon Denez, líder de treinamento da plataforma Intacta 2 Xtend no Brasil.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Luis Fernando Fucks, a nova tecnologia poderá completar um lacuna no controle da buva no Estado. Porém, o dirigente demonstra certo ceticismo em relação a todos os ganhos prometidos:
– Quando a Intacta foi lançada, esperava-se um controle maior de determinadas lagartas, como a falsa medideira, o que acabou não sendo provado no campo. Agora estamos esperando para ver a eficiência na prática. É o custo benefício que determinará a adesão do produtor.
Sobre o uso do dicamba, Fucks acredita que será um diferencial. Só alerta em relação à volatilidade do produto, problema relatado nos Estados Unidos e que promete ser ajustado pela fabricante.
– Novas ferramentas sempre são bem-vindas, com os análises necessárias, tanto de eficiência como de custo – resume Fucks.
Histórico da semente modificada no Brasil
- – As primeiras sementes de soja transgênicas chegam ao Rio Grande do Sul em 1998, contrabandeadas da Argentina.
- – Em 2005, o Brasil normatizou os transgênicos com a Lei de Biossegurança. Em 10 anos, a multinacional Monsanto reinou isolada no mercado de soja transgênica, com a tecnologia RR1.
- – A Intacta RR2, também da Monsanto, de segunda geração, entrou no mercado em 2013.
- – Na América do Sul, foram mais de 20 milhões de hectares de Intacta RR2 Pro na safra 2017/2018, a maior parte no Brasil.
- – A Bayer, que concluiu a compra da Monsanto em 2018, começa em 2019 os testes a campo no país da terceira geração do grão, com a Intacta 2 Xtend.
O repórter viajou a Passo Fundo a convite da Bayer
