Acostumados a ir a feiras agrícolas como a Expodireto-Cotrijal para conhecer pacotes tecnológicos prontos, em formato de receituário, os produtores tiveram de mudar o comportamento nos últimos anos. Para combater a resistência, um dos grandes problemas da produção mundial de alimentos, os agricultores passaram a individualizar o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas nas lavouras.
Como aliados, buscam conhecimento e novas soluções voltadas ao alongamento da eficácia de produtos químicos – que deixam de fazer efeito na mesma lógica do uso continuado de antibióticos consumidos por humanos.
Com grande capacidade de modificação genética, as plantas daninhas conseguem se adaptar facilmente e sobreviver em diferentes locais e condições ambientais.
Para reduzir a resistência de pragas, a Corteva, divisão agrícola resultante da fusão Dow DuPont, formulou um produto que promete ser eficiente no combate às plantas daninhas – com redução de deriva e menor odor. O diferencial prometido é fazer parte de um sistema que inclui uma semente de soja tolerante a diferentes herbicidas, como glifosato, 2,4-D e glufosinato. Com isso, pode ser aplicado depois do plantio sem prejudicar o desenvolvimento. Embora já tenha sido testado, o produto ainda deve demorar cerca de dois anos para estar disponível aos produtores, já que ainda esta em fase de regulamentação no mercado internacional.
Terror dos sojicultores no início dos anos 2000, a ferrugem asiática é um caso emblemático do avanço da resistência na agricultura brasileira. Inicialmente, começou a ser combatida com o modo de ação dos triazóis, posteriormente com a estrobilurina e, por último, com as carboxamidas. Para conter a resistência desses princípios, a multinacional Basf colocou no mercado na safra atual um produto à base de morfolina.
– Trata-se de um novo grupo químico, semelhante aos triazóis, mas com ação em dois sítios diferentes. É uma opção para o controle curativo, ou seja, quando a curva de progresso da doença começa a aumentar – explica Sérgio Silva, gerente de Desenvolvimento de Mercado Agro da Basf na Região Sul.
O produto, explica o especialista, deve ser usado nas duas últimas aplicações de fungicidas, em alternância a outros produtos utilizados na fase mais inicial das plantas. Após mais de 27 mil testes, comprovou-se aumento de 2,3 sacas por hectare.
– O foco é a proteção das plantas e das moléculas que ainda são eficientes – resume Silva.
Outra inimiga das lavouras de grãos é a lagarta Helicoverpa armigera, considerada uma ameaça devido à rápida adaptação e voracidade, pois se alimenta de folhas, vagens, grãos e flores. Na Expodireto, a multinacional Syngenta reforçou o lançamento de um inseticida aprovado em mais de 90 países, incluindo o Brasil. Alguns produtores já usaram nos últimos dois meses o produto composto por benzoato de emamectina, mas a expectativa da fabricante é de que ele ganhe maior escala na próxima safra. Conforme a empresa, estudos demonstraram que o inseticida protege as plantas logo nas primeiras horas após a aplicação.
Fórmulas renovadas a cada safra
Agricultor em Ijuí, no noroeste do Estado, Cristiano Tomm Deckert vê a resistência aumentar nas lavouras de soja a cada ano. Atualmente, os maiores problemas estão no controle de plantas daninhas, como a bulva e o chamado capim rabo de burro.
_ Estou em busca de alternativas o tempo todo. Não aplico o mesmo produto mais do que duas vezes na mesma safra _ relata o produtor, que cultiva 210 hectares com grãos.
Além da seleção de ervas daninhas, Deckert encontra dificuldades em controlar determinados insetos, como percevejos e lagartas.
_ A receita que resolve o problema em um ano, no outro pode não servir mais _ lamenta o agricultor, que tem como meta aumentar a produtividade das lavouras a cada ciclo.
Professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Carlos Alberto Forcelini destaca que não há reposição de produtos no mercado na mesma velocidade do avanço da resistência nas lavouras. Por isso, alerta, é muito importante os agricultores investirem em um manejo "robusto e planejado".
_ Parte do controle perdido pode ser recuperado com um conjunto de ações, que vai da aplicação adequada ao uso de cultivares mais resistentes _ detalha o professor.
A adoção do mesmo grupo químico de defensivos agrícolas é uma das causas do aumento da resistência no campo, assim como a ausência de rotação de culturas e o plantio da chamada safrinha _ normalmente fora do zoneamento agroclimático.
_ É muito difícil lidar com a resistência depois que ela surge. Por isso, é fundamental evitá-la com um manejo preventivo _ resume Forcelini.