A estiagem que atinge o sul do Estado quebrará um ciclo de cinco anos consecutivos de safra recorde de soja. Com a colheita menor do grão, combinada com a redução da área de milho, a produção total estimada para as lavouras de verão é de 30,25 milhões de toneladas – 9,16% a menos do que em 2017, quando o Rio Grande do Sul teve safra recorde. Ainda assim, será o segundo melhor resultado da história. As estimativas foram divulgadas nesta terça-feira pela Emater na Expodireto-Cotrijal, em Não-Me-Toque.
Com volume menor de soja, carro-chefe da produção gaúcha, o impacto direto estimado na economia estadual é de R$ 27 bilhões, cerca de R$ 3 bilhões a menos do que em 2017. Boa parte das perdas está concentrada no Sul, que responde por em torno de 20% da área plantada com a cultura.
– Além da estiagem, o solo do Sul é mais sensível, precisando de mais investimentos de rotação de culturas e de tecnologia – avalia Clair Kuhn, presidente da Emater.
Na propriedade do produtor Rafael Rockenbach de Ávila, em Dom Pedrito, na Campanha, não chove desde 12 de fevereiro.
– O desenvolvimento das plantas ficou muito comprometido – lamenta Ávila, que cultiva 2,2 mil hectares de soja e 200 de arroz.
Na safra passada, Ávila obteve, em média, 67 sacas por hectare. Com colheita prevista para começar no fim de março, estima obter produtividade média de 40 a 45 sacas. As perdas não se resumem à soja. No caso do arroz, o problema maior está na redução do preço e no aumento dos custos. Com a situação, Ávila mudou o comportamento na feira – em 2017 comprou um trator e uma colheitadeira.
– Vim em busca de conhecimento apenas – relatou.
A menor área de milho da história também deve contribuir para colheita mais reduzida. A diminuição no volume de produção do cereal será a maior entre todas as culturas: 23,8% em relação a 2017.
– A produção menor de milho forçará produtores de aves e suínos a buscarem o cereal em outros Estados e até países – disse Lino Moura, diretor técnico da Emater.
Os impactos econômicos de uma colheita menor poderão ser minimizados se o preço da soja continuar reagindo no Exterior.
– O valor maior poderá compensar as perdas nas lavouras – afirmou o secretário de Desenvolvimento Rural, Tarcísio Minetto.
O clima seco na Argentina fez os contratos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago alcançarem, no começo da semana, US$ 10,85 o bushel – medida americana equivalente a 27,2 quilos.
– São essas variáveis, safra argentina e brasileira, além da expectativa da área de plantio nos EUA, que irão determinar o preço do produto nos próximos meses – disse Marcos Fava Neves, um dos palestrantes do 29º Fórum Nacional da Soja, realizado nesta terça-feira na feira.