Afinal, pompoarismo melhora os orgasmos? Tem alguma coisa a ver com cólicas? Ajuda a combater escapes de urina? Se eu quero fazer, preciso obrigatoriamente usar acessórios? Com origem no Oriente — os registros mais antigos vêm da Índia, da Tailândia e da China —, a prática é milenar, mas ainda são muitas as dúvidas e incertezas que pairam sobre ela.
Para sanar dúvidas e lançar luz sobre esta forma de ginástica íntima, Donna convida a fisioterapeuta Cristiane Carboni, que é mestre em Reabilitação do Assoalho Pélvico pela Universidade de Barcelona e doutora em ginecologia e obstetrícia pela UFRGS.
— A gente tem em mente que esse músculo tem que ser muito forte, mas na verdade ele tem é que ser funcional. O excesso de tensão também traz problemas. Ele tem que ter força, resistência, bons reflexos e saber contrair, mas também tem que saber relaxar, para que a pessoa possa urinar, evacuar bem e ter uma relação sexual prazerosa, sem dor — afirma a fisioterapeuta.
O pompoarismo consiste no exercício da musculatura do assoalho pélvico, que é o emaranhado de músculos ao fundo da pelve, do púbis ao cóccix: é a famosa região de que a gente toma mais consciência quando precisa segurar o xixi. Esse conjunto faz a continência urinária e fecal, faz parte da função sexual, da via de parto para quem optar pelo vaginal e ainda faz a sustentação dos órgãos pélvicos, que são a bexiga, o reto, a vagina e útero. Está presente no corpo do homem e da mulher.
Para trabalhar essa região, são necessários exercícios específicos de contração, relaxamento e resistência da musculatura. No corpo feminino, a contração é sentida do ânus à vagina. Se feitos de forma segura e orientada, os exercícios podem propiciar uma melhora na vida sexual e a prevenção de alguns problemas relacionados ao sistema urinário. E a "malhação" pode ser feita usando acessórios como cones vaginais e bolinhas tailandesas, mas nada impede que a pessoa pratique sozinha, utilizando somente a sua musculatura.
Confira mitos e verdades sobre a prática:
O fortalecimento do assoalho pélvico e o pompoarismo melhoram a relação sexual.
Verdade. Para as mulheres saudáveis, fazer os exercícios do assoalho pélvico fortalece, melhora coordenação, reflexos e sustentação da musculatura. Claro que o desejo é multifatorial, mas o autoconhecimento sobre esses músculos também melhora a qualidade da vida nesta área. O pompoarismo também envolve fazer força para fora, forças de expulsão.
Uma imagem famosa é a de mulheres jogando bolinhas de ping-pong, né? Então, não é só a técnica de contrair, é uma coisa quase artística, o que não quer dizer que isso seja bom, pois essa força para fora que se faz pode causar dano ao assoalho pélvico. O ideal é que os exercícios sejam realizados sob orientação de um profissional (fisioterapeuta, ginecologista etc).
Exercícios de contração e relaxamento são a forma de malhar o assoalho pélvico.
Verdade. Se tu não tens certeza de que teu músculo é saudável, o ideal é que se faça um intervalo de 10 a 15 segundos entre cada contração para evitar excesso de tensão, contratura muscular, espasmos da musculatura. Também tem exercícios em que você contrai, segura a musculatura contraída por três ou cinco segundos, aí relaxa. Assim conseguimos trabalhar força e resistência para ir melhorando a função desses músculos.
Mas atenção: algumas mulheres relatam que fazem como exercício interromper o jato urinário durante a micção. Não se pode fazer isso pois assim você inibe a bexiga de funcionar bem. Enquanto está fazendo xixi, não se deve fazer o exercício.
É preciso prestar atenção ao relaxamento: quando a musculatura é contraída, o assoalho pélvico, além de apertar, se eleva e se dobra um pouquinho para vedar a uretra e impedir a perda urinária. Quando a gente relaxa, a gente tem que sentir que esse músculo volta à posição zero, ao ponto de partida.
Se notarmos que ele tranca no meio do caminho ou que ele leva mais de um segundo para chegar no ponto de partida, quer dizer que já há uma disfunção de tensão dessa musculatura, há um déficit de relaxamento. E isso é algo que muitas mulheres tem, sem nem saber, porque a gente vive muito tensa, faz pouca atividade física, fica muito tempo sem se movimentar durante o dia. O excesso de stress acaba causando tensão em todos os músculos e isso ocorre inclusive com os do assoalho pélvico.
Qualquer pessoa saudável pode praticar pompoarismo.
Verdade. Se a mulher é saudável, não há limite de idade, todas podem praticar — e os homens também. Mas é preciso que as gestantes tenham mais cuidado. Geralmente o que elas vão fazer é uma reabilitação do assoalho pélvico realizada por uma fisioterapeuta especialista indicada pela ginecologista, pois é um músculo que tem que estar muito elástico e funcional para o trabalho de parto.
Tem que ter orientações específicas. E o pompoarismo é contraindicado sempre que houver sinais de não-saúde, tais como perda urinária, dor ao urinar, infecção urinária de repetição, dor pélvica, dor na relação sexual. Se apresentar qualquer um desses problemas, a pessoa deve passar por avaliação médica e fisioterapêutica antes de fazer os exercícios.
Fazer muitos exercícios pode causar problemas.
Verdade. Fazer de forma não orientada pode causar dor na relação sexual, dor pélvica e pode propiciar o aumento de infecções urinárias de repetição, que é quando uma bactéria que não deveria estar no trato urinário vai para a bexiga. Ou síndrome da bexiga dolorosa, quando tenho os “sintomas” de infecção urinária (dor e ardência para urinar, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga), porém sem a presença de bactéria. Tudo isso devido à mulher não conseguir relaxar o assoalho pélvico o suficiente durante a micção.
Existem outras atividades físicas que substituem o pompoarismo/os exercícios do assoalho pélvico.
Mito. Nada substitui os exercícios para o assoalho pélvico. Para fortalece-lo é só contraindo de forma isolada. Principalmente as mulheres iniciantes se confundem e acabam contraindo o abdome, os glúteos, as coxas e acabam não prestando atenção ao assoalho pélvico. Os exercícios têm que ser realizados com atenção e de forma isolada. Em um momento mais avançado ela até consegue associar os exercícios em uma academia ou no pilates, mas uma coisa não substitui a outra.
Ajuda a reduzir cólicas.
Mito. Essa é mito, mas tem pessoas bem famosas que falam que é verdade. Se a mulher tem cólicas, primeiramente tem que passar por uma avaliação médica, ainda mais tendo em vista que os casos de endometriose são super subnotificados.
Ela tem que entender o que está acontecendo. E se a dor for por uma disfunção do assoalho pélvico — visto que contraturas na musculatura da vagina podem piorar as dores do período menstrual — aí é que não faz sentido mesmo fazer um monte de contrações, não vai ajudar a melhorar essas cólicas, o negócio é aprender a relaxar com a ajuda de um profissional.
Ajuda na questão dos escapes de urina.
Não é bem assim. O negócio é que, se tu és uma pessoa saudável, fazer os exercícios do assoalho pélvico funciona como uma forma de prevenção, principalmente, dos escapes por esforço ou por urgência. Lembrando que 30% das mulheres não sabem contrair a musculatura do assoalho pélvico.
Sempre que possível, o ideal é passar por uma avaliação com uma fisioterapeuta pélvica para aprender a realizar os exercícios de forma correta e com segurança. Agora, se tenho incontinência, não é indicado realizar o pompoarismo, tem que passar por avaliação médica para descartar outras coisas e ver qual é o tipo, pois os tratamentos são diferentes. O padrão ouro no tratamento de qualquer tipo de incontinência é a fisioterapia pélvica.
Pompoarismo e exercícios do assoalho pélvico são a mesma coisa.
Não é bem assim. Os exercícios do assoalho pélvico são como uma atividade física na academia, por exemplo: começamos com uma avaliação, pouca carga, poucas repetições e aumentamos progressivamente. O pompoarismo é mais intenso, com muitas contrações, várias vezes ao dia, às vezes fazendo uso de pesinhos vaginais e outros acessórios.
Temos que desmistificar um pouco isso: não é o assoalho pélvico mais forte do mundo que vai dar o melhor orgasmo do mundo, até porque a função sexual é multifatorial. Temos que pensar mais em músculos funcionando bem do que pensar em força. É pensar em saúde e não em performance. E sempre que a mulher apresentar qualquer sintoma urinário ou de dor pélvica tem que passar por uma avaliação médica antes de iniciar qualquer exercício.
Só serve para dar mais prazer ao parceiro.
Mito. Claro que não. Os exercícios do assoalho pélvico melhoram a intensidade dos orgasmos das mulheres, melhora a sensibilidade, melhora a forma como ela consegue brincar durante a relação, pode fazer algumas contrações durante, é muito para o prazer da mulher. O grande ganho é esse, ter domínio sobre a musculatura e entender o que é melhor para ti. É um aprendizado divertido.
Vale lembrar inclusive que muitas vezes as mulheres procuram atendimento meio desesperadas, achando que estão com a “vagina larga” e, no fim, é mais uma questão de problemas na ereção do parceiro. Mas essa sensação pode, sim, ter a ver com uma fraqueza excessiva do assoalho pélvico. É como qualquer outro músculo do corpo, a gente nota quando eles estão mais flácidos e isso pode acontecer. E é reversível.
É necessário usar acessórios.
Mito. Não é necessário. Existem as bolinhas de ben-wa, os cones vaginais, os colares tailandeses, mas eles não são obrigatórios para a prática pompoarismo. Tem muitas mulheres que não gostam de introduzir acessórios na vagina e podem muito bem praticar somente utilizando a sua própria musculatura.
É preciso prender a respiração.
Mito. Essa musculatura tem que funcionar independentemente da nossa respiração. É uma questão de coordenação.
Tem risco utilizar brinquedos para fazer pompoarismo.
Não é bem assim. Não é tão dramático assim, mas, se a pessoa utilizar equipamentos incorretos, corre o risco de se machucar — vemos muitos casos de pessoas que acabam introduzindo outros objetos por via anal e vaginal e vão parar na emergência de hospitais. Tem que ter cuidado. Se for utilizar brinquedos, tem que ser os indicados para esse propósito, como o colar tailandês, as bolinhas de ben-wa, o cone vaginal comprados em lugares específicos para isso.
Homens também podem praticar o pompoarismo.
Verdade. Os homens podem praticar se forem saudáveis e não tiverem disfunção, como prostatite e dor pélvica. Para eles, deve ser feita a contração do ânus até a base do pênis. Já para as mulheres, a contração é sentida do ânus à vagina. Todos os músculos trabalham juntos: o assoalho pélvico vai do púbis ao cóccix, abraçando o clitóris, a uretra, a vagina e o ânus; todo mundo se contrai.
O pompoarismo ajuda no pós-parto.
Não é bem assim. O pós-parto, principalmente de um parto via vaginal, é um processo de recuperação. Se olharmos para as orientações das sociedades internacionais, vemos que sim, logo no pós-parto as mulheres podem começar com exercícios do assoalho pélvico, só que o pompoarismo vai muito nessa batida mais intensa de contrair em qualquer momento, várias vezes ao dia, e isso não vai ser saudável pra uma mulher no pós-parto.
Mesmo se é uma cesárea, é uma musculatura que sofreu ação hormonal e sobrecarga, então a recuperação tem que ser progressiva, não dá pra sair fazendo um monte de exercícios, pois isso não será benéfico para ela.
A mulher no puerpério pode começar devagarinho, com exercícios de contração e relaxamento da musculatura se estiver se sentindo confortável. Por exemplo: fazer uma quantidade de 10 a 15 contrações durante o dia. Treinando força (contra-relaxa) e resistência (contrai, segura cinco segundos e relaxa) com intervalos de relaxamento entre cada contração de 10-15 segundos. E se a mulher notar qualquer dificuldade ao fazer contrações ou tiver sintomas de dor, perda urinária ou fecal, deve procurar ajuda especializada.