Você já ouviu falar em "peegasm"? No último ano, o termo vem ganhando força entre as mulheres nas redes sociais. "Pee" significa urina em inglês, enquanto "gasm" vem de "orgasm" - na tradução, orgasmo. A técnica consiste em segurar o xixi de propósito para ter uma sensação de prazer semelhante à do clímax sexual na hora de esvaziar a bexiga.
Acontece que a prática é veementemente desaconselhada por médicos, uma vez que é comprovadamente prejudicial à saúde, podendo causar até insuficiência renal nos casos mais graves. Conversamos com a ginecologista Simone Vaccaro e com a uroginecologista Juliane Dal Magro para entender melhor a questão.
Por que muitas mulheres notam essa sensação ao segurar o xixi?
A resposta está na anatomia do corpo: como o clitóris, principal órgão de prazer feminino, e a uretra, o canal por onde sai o xixi, são bem próximos, ficar com a bexiga cheia pode estimular os nervos e os músculos da região, proporcionando uma sensação agradável. E mais: ao urinar, essa musculatura relaxa, causando uma nova sensação de prazer.
É possível ter, de fato, um orgasmo com a prática?
A ginecologista Simone acredita que sim, principalmente em função das terminações nervosas no local. A médica conta que, no consultório, já chegou a atender mulheres que chegavam ao ápice do prazer ao fazer abdominais, em função da compressão pélvica, por exemplo. Já a uroginecologista Juliane entende que a busca pela técnica está muito mais relacionada a uma sensação de alívio do que ao orgasmo em si.
Independentemente do resultado final, segurar o xixi de propósito pode causar diversos problemas para o corpo, frisam as médicas consultadas por Donna.
Quais são os perigos de aderir ao peegasm?
A bexiga é como se fosse um balão, compara Simone, e quanto mais se expande, mais murcha fica ao retornar ao normal. Ao segurar o xixi, vai distendendo e, com o tempo, pode perder a inervação e a capacidade de contração, afetando a musculatura do assoalho pélvico e causando incontinência urinária.
Além disso, ao perder a capacidade de contrair a bexiga de forma correta, é possível que não seja mais possível esvaziá-la de forma adequada, o que leva a mais infecções urinárias, explica Juliane.
— Nossa urina é uma excreção, ou seja, aquilo que não serviu para o nosso organismo. Contém germes, bactérias e outras substâncias, que se proliferam ali dentro, e por isso (ocorre) a infecção urinária — acrescenta Simone.
Já a pressão exercida pela bexiga muito cheia pode afetar o rim, levando até à insuficiência renal.
— É importante as mulheres buscarem sua sexualidade e várias formas de prazer. Mas o "peegasm" não é uma prática que deve ser incentivada — resume Juliane.
Simone também diz não indicar a técnica "em hipótese alguma".
— As pacientes precisam fazer xixi seguido. Eu sempre digo: de três em três horas, que nem grávida. Tem que criar rotina. A bexiga tem que estar constantemente sendo hidratada e esvaziada — conclui.
*Colaborou Luísa Tessuto