Atividades físicas são essenciais à boa saúde, mas quando são feitas sem a consciência corporal adequada, podem sobrecarregar o assoalho pélvico e causar problemas para a saúde da mulher – é o caso especialmente dos esportes que envolvem impacto, pulos e levantamento de altas cargas de peso. O alerta é da fisioterapeuta pélvica Isabella Mota, profissional de Porto Alegre que conversa com Donna acerca dos cuidados mais importantes que mulheres que se exercitam regularmente devem ter com a musculatura pélvica.
Assoalho pélvico é o nome que se dá a um conjunto de músculos, ligamentos e fascias que revestem a abertura inferior da pelve, estrutura óssea conhecida também como bacia. Esse conjunto de músculos é responsável por dar suporte a órgãos como o útero, a bexiga e as vísceras, bem como fazer a continência de urina e fezes.
— O assoalho pélvico não tem nenhum apoio ósseo por baixo, já que fica bem naquele vazio da pelve, por isso é importante que a musculatura fique sempre forte e funcional. É através dela que as pessoas têm mais prazer durante a relação sexual, conseguem conter o xixi no momento que querem e conseguem ter uma boa consciência dessa região como um todo — afirma Isabella.
De acordo com a fisioterapeuta, frequentemente chegam aos consultórios casos de mulheres que praticam esportes como corrida, crossfit, entre outros, e se queixam de incontinência urinária — algumas gotinhas na calcinha inicialmente, mas verdadeiros jatos em casos mais sérios de disfunção —, bem como dores durante as relações sexuais e até constipação.
Diferentes comportamentos durante a prática de exercício físico podem acabar impactando no assoalho pélvico. Um exemplo é o hábito de prender a respiração na hora de fazer uma grande força, por exemplo.
— Sempre é preciso cuidar para não trancar o ar no exercício, porque assim ocorre uma sobrecarga no assoalho pélvico, uma tensão que poderá gerar disfunções. Quando a pessoa tranca o ar fazendo força para agachar ou para levantar uma carga pesada, acaba empurrando as vísceras para baixo, sobre o assoalho, gerando sobrecarga. Se está muito difícil executar, o correto seria diminuir a carga, continuar respirando e treinar o assoalho pélvico para que ele fique tão forte que suporte as cargas do exercício — afirma a profissional.
Quem pratica atividades de alto impacto também corre o risco de acabar sobrecarregando o assoalho e, sendo assim, precisa estar mais atento ao cuidado com essa musculatura.
— Entre pessoas que correm, por exemplo, a perda urinária é bastante frequente, e isso pode ocorrer tanto por conta de um assoalho demasiadamente tenso como pelo enfraquecimento dessa musculatura — explica.
Isabella ressalta que não existe nenhuma atividade física “condenável” do ponto de vista da saúde pélvica, e sim que é preciso dedicar ao assoalho pélvico a mesma atenção que é dedicada ao fortalecimento de outros músculos do corpo.
Atenção aos sinais
Os primeiros alertas de que algo não vai bem com a musculatura pélvica, segundo a fisioterapeuta, são as perdas de gotas de urina e a constipação. Também é preciso estar atento à qualquer dor ou desconforto na hora da relação sexual e à sensação de “vagina larga”:
— O que agrava é que ainda há um tabu muito grande, e as pessoas evitam falar a respeito desse tema, mas fato é não se deve sentir qualquer desconforto na hora da relação, porque isso já é sinal de disfunção.
Também podem fazer parte do quadro de disfunções do assoalho pélvico a incontinência fecal, a dificuldade de chegar ao orgasmo, o prolapso pélvico (antigamente chamado de “bexiga caída") e os flatos vaginais ao longo do dia, principalmente durante a prática de exercícios físicos.
Prevenção e tratamento
Um assoalho pélvico funcional é a chave, segundo a fisioterapeuta, para afastar problemas e desconfortos, já que quando a mulher toma consciência dos seus músculos e treina eles, as chances de disfunção caem muito.
Na fisioterapia pélvica, é possível trabalhar com exercícios de contração, sustentação e relaxamento do assoalho pélvico, mas essa dinâmica vai variar conforme a necessidade de cada mulher.
— Existem níveis de contração, se a pessoa vai contrair um pouquinho, contrair médio, contrair com força, se ela tem que cuidar mais do relaxamento etc. Os exercícios são muito individuais. Mas quando a pessoa tem uma grande consciência dos seus músculos, uma coisa boa é que conseguimos associar os exercícios para o assoalho às outras atividades físicas que ela faz na semana — afirma.
A fisioterapia pélvica recorre a um trabalho de “propriocepção” da região pélvica — termo utilizado para nomear a capacidade do ser humano de reconhecer a força exercida pelos seus músculos.
— Propriocepção nesse caso é sentir a musculatura contrair de forma isolada, porque o grande problema é que as pessoas contraem o assoalho pélvico, mas contraem junto barriga, glúteos, coxas, e aí não é eficiente. A gente não consegue ter ganhos de força quando a pessoa envolve outros músculos que não apenas os do assoalho pélvico — explica.
Dependendo do caso, a terapia pélvica também utiliza manobras manuais para liberação da tensão da musculatura, tanto na vulva como no canal vaginal.
Fazer exercícios de contrair e relaxar a musculatura do assoalho pélvico, no entanto, pode não ser a solução para todas as mulheres, principalmente para as que sofrem de constipação e dor na relação. Um assoalho que já é naturalmente tenso possivelmente sairia prejudicado nesse caso, segundo a profissional:
— Estima-se que 85% dos assoalhos pélvicos femininos sejam tensos, e podemos entender essa tensão como um "torcicolo". Não se vai na academia para aliviar um torcicolo, é preciso relaxar essa musculatura. Da mesma forma, não adianta para quem está com o assoalho tenso ficar contraindo sem orientação, achando que vai melhorar. A recomendação é visitar pelo menos uma vez na vida um especialista que vai avaliar como está a funcionalidade.