Para algumas mulheres, momentos que seriam de prazer se transformam em verdadeiros sinônimos de estresse e desconforto. São casos em que, por alguma razão, a musculatura da região íntima acaba ficando muito tensa – e trata-se de um problema comum, explica a ginecologista e obstetra Wilma Mendonça.
A condição pode ter origem em uma multiplicidade de fatores que atrapalham o bem-estar sexual da mulher. Mas a médica ressalta: não é normal e existe solução. Portanto, é importante quebrar o tabu que, muitas vezes, ronda o assunto e incentivar a busca por ajuda.
— Há mulheres que sofrem por muitos anos até se darem conta de que transar com dor não é normal. Não é uma nem duas, isso é rotina de consultório. Mas falar sobre o assunto e buscar auxílio profissional já é metade do caminho andado, porque, a partir daí, podemos analisar as possibilidades. Esse problema envolve um monte de coisas, como doenças, libido, relação com o parceiro, questões religiosas, emocionais — elenca a ginecologista.
Como veremos a seguir, existem três condições principais para a dor no sexo por tensão. Entenda quais são e como elas podem ser identificadas.
Vaginismo
A disfunção sexual chamada vaginismo consiste na contração involuntária dos músculos do assoalho pélvico quando se tenta a penetração vaginal. É uma das principais causas de desconforto na relação íntima.
— É comum a paciente com vaginismo estar com desejo sexual, chegar a lubrificar naturalmente a vagina, mas não conseguir ter penetração por conta dessa contração involuntária, que, na maioria das vezes, é causada por questões emocionais. Mesmo que ela queira, está tão contraída que não é possível penetrar nem o diâmetro de um dedo — explica Wilma.
Ter vivido alguma situação de abuso, trauma, fazer parte de uma família em que a sexualidade não é abordada de forma acolhedora em casa ou na qual fazer uma consulta ginecológica vai contra os valores familiares são exemplos de situações que podem culminar no vaginismo, segundo a especialista.
Não ser muito ligada em sexo e não ter a noção de que é possível, conscientemente, comandar a contração e a soltura dessa musculatura também podem contribuir para o problema.
O tratamento depende das causas, explica Wilma. Muitas vezes, só será possível resolver aliando consultas com sexóloga, psicóloga, ginecologista e fazendo exercícios de fisioterapia pélvica:
— Há exercícios recomendados para pacientes que têm vaginismo, feitos com dilatadores de borracha de tamanhos variados. Isso ajuda a fazer com que o cérebro se comunique com a vagina e a mulher entenda que ela tem o poder de contrair e soltar essa musculatura, porque há vezes em que é uma questão cerebral mesmo. Esse tratamento pode levar meses.
A especialista ressalta que também é imprescindível que só se faça sexo com penetração quando estiver genuinamente com desejo, já que este estímulo cerebral vai incentivar a lubrificação, fará o clitóris e as paredes vaginais incharem e a musculatura relaxar.
Diminuição da síntese de colágeno
Uma causa majoritariamente física, e não emocional, que pode provocar o enrijecimento dos músculos e da pele é a diminuição da síntese de colágeno. O elemento ajuda na lubrificação, na elasticidade vaginal, na firmeza dos músculos e na continência urinária adequada, e quando seus níveis baixam, todas essas funções podem ser afetadas.
A redução ocorre com mais frequência no período da menopausa, quando há uma queda do hormônio feminino estradiol, que é um dos responsáveis pela síntese do colágeno. Mas também pode ocorrer em outros momentos e situações, como no pós-parto, durante a amamentação, entre pacientes que usam anticoncepcional mensal ou ainda nas que fazem quimioterapia ou bloqueio hormonal para tratamento de câncer de mama.
— Para a musculatura ter um bom tônus, contração e relaxamento, e para que a gente consiga controlar isso mentalmente, temos que estar com tudo bem lubrificado. Existem fibras de colágeno entre os músculos, mas quando a síntese diminui, a musculatura vai ficando mais frágil, menos elástica, mais endurecida e a vagina, especificamente, fica mais fechada, para muitas mulheres — afirma a médica.
Algumas técnicas que têm sido utilizadas atualmente para tentar amenizar a questão e seus efeitos na região genital, segundo a ginecologista, são a hidratação da área com cremes que contenham estradiol, ácido hialurônico e glicerina na composição. Bem como tratamentos microablativos com radiofrequência ou com laser.
Infecções de repetição
Pacientes que tiveram infecções de repetição na vagina ou na vulva, como candidíase e herpes genital, também podem vivenciar problemas de tensão dos músculos do assoalho pélvico na hora do sexo. A ginecologista explica que um tecido genital que foi machucado várias vezes tende a ficar mais frágil e fino.
E, por consequência, quando a mulher parte para a relação sexual imaginando que será dolorosa, a tendência é contrair:
— Ela pode acabar fechando a vagina, não deixar o pênis passar. É aquela coisa de “imagino que vai doer e nem quero começar”. É, de fato, muito comum haver microfissuras na entrada da vagina. Quando tu tens candidíases e herpes de repetição nessa região, a tendência é esse pele ficar mais fina. Aí, quando tiveres relação, essa pele se abre, desencadeando um processo de dor, desconforto, corrimento. Como é que a pessoa vai ter vontade de ter relação sabendo que vai ser doloroso?
Para mulheres com infecções de repetição, é imprescindível a consulta com um ginecologista para investigar as causas e tratá-las. Muitas vezes, é preciso melhorar a imunidade de um modo geral, ou então iniciar tratamentos adequados para diabetes e intolerâncias ao glúten e à lactose, por exemplo, condições que costumam estar relacionadas a essas infecções.